O setor sucroalcooleiro não deve ser capaz de atender a um aumento de demanda por combustível no próximo ano e o País pode aumentar ainda mais as importações de gasolina, comprometendo a balança de pagamentos do País, indicou ontem a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em evento em São Paulo. Após um ano de alta de produção do biocombustível, o setor já trabalha no limite de sua capacidade instalada e não há novos investimentos que possam aumentar de forma significativa a produção já em 2014.
Segundo a presidente da entidade, Elizabeth Farina, o endividamento do setor impediu o investimento em novas usinas e no aumento da capacidade de moagem. A Unica ainda não tem o valor atual das dívidas das indústrias sucroalcooleiras, mas até o ano passado o endividamento líquido era correspondente a 104,9% do faturamento líquido anual das empresas, que consomem 13,2% de sua receita apenas com pagamento de juros.
Há margem para um pequeno aumento da produção com a antecipação da moagem. “Se as condições climáticas permitirem, pode haver uma antecipação do processamento”, afirmou o diretor técnico da Unica, Antonio Pádua Rodrigues. Neste ano, a maior parte das usinas começou a moer cana a partir da primeira quinzena de abril. Se não houver precipitações no fim de março, a moagem da maioria das indústrias pode se iniciar já na segunda quinzena, o que dá margem para maior produção.
Mesmo assim, esse potencial aumento não deve ser capaz para atender ao crescimento de demanda esperado para o próximo ano nem será igual a este ano, quando a produção de etanol cresceu 17,1%. O setor entregou ao mercado 25,1 bilhões de litros, uma elevação 3,8 bilhões de litros com relação ao ano safra passado. A oferta para o mercado nacional foi ainda maior, já que o setor exportou menos, sobrando etanol para o consumo interno. Foram exportados 850 milhões de litros ante 3,46 bilhões de litros no ano passado.
Neste ano safra, que começou em abril de 2013 e terminará em março de 2014, foi a produção de etanol que atendeu ao aumento da demanda por combustível e diminuiu a necessidade de importação de gasolina. O consumo de combustível neste período foi de 7,4 bilhões de litros equivalentes à gasolina. Deste volume, 4,2 bilhões de litros foram atendidos com gasolina importada, o que gerou um déficit de US$ 3,24 bilhões na balança comercial, enquanto 3,2 bilhões de litros equivalentes à gasolina foram consumidos na forma de etanol, produzido no País.
A oferta total do biocombustível foi ainda maior, de 3,5 bilhões de litros equivalentes à gasolina, o que gerou uma oferta adicional de 300 milhões de litros de gasolina equivalente que, segundo o diretor da Unica, “deve ser suficiente para atender todo o crescimento da demanda de combustíveis leves no País nesta safra”.
Etanol para mistura
O consumo do biocombustível da cana subiu neste ano principalmente por causa do aumento da mistura de etanol anidro na gasolina de 20% para 25%. Considerando que o consumo de gasolina deve aumentar no ano que vem, a Unica acredita que a produção sucroalcooleira de 2014 será direcionada principalmente para a oferta de etanol anidro para garantir a mistura. “Etanol vai ter, só não sei se vai ter gasolina”, brincou Elizabeth Farina.
Segundo a entidade, também há etanol anidro em estoque, conforme exigência legal.
Fonte: DCI