“Agradeço, antes de qualquer outra coisa, a confiança mais uma vez depositada em mim pela maioria das federações de produtores rurais – extensiva aos que me acompanham nesta jornada, desde minha eleição anterior a esta presidência. Essa confiança atesta o acerto de nossa administração, que procurou – e continuará procurando – agir em sintonia com os anseios e expectativas do setor, ouvindo-o e buscando interlocução construtiva com o Estado brasileiro, de modo a torná-lo parceiro de uma causa comum: o desenvolvimento nacional e o bem-estar social. Esse objetivo está acima, muito acima, de facciosismos ou de querelas partidárias.”
Com estas palavras, a senadora reeleita pelo Estado de Tocantins, Kátia Abreu, abriu seu discurso de posse. Mais uma vez, ela assume a presidência da Conferência Nacional de Agricultura (CNA), para o triênio 2014-2017, durante solenidade realizada na segunda-feira, 15 de dezembro. O evento oficial contou com as presenças de políticos e de pessoas envolvidas com o agronegócio brasileiro, como o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga. A ocasião foi tratada com um tom mais político, nos bastidores, por causa da presença da presidente da República, Dilma Rousseff, que deve confirmar Kátia Abreu como a próxima ministra da Agricultura.
Durante seu discurso, a presidente da CNA ressaltou que o Brasil é hoje um país com peso internacional e que, apesar das atuais dificuldades econômicas, está entre as dez maiores economias do planeta. “Isso exige, entre outras providências, investimentos em infraestrutura, garantias de segurança jurídica e superação de velhos paradigmas, que alimentam a ação predatória de grupos ideológicos, à direita e à esquerda, que desservem o interesse geral. Agem como os que hoje, de forma desrespeitosa e à margem da lei, invadiram este prédio. Não veem a árvore, nem a floresta”, disse ela.
Kátia Abreu destacou ainda que a agropecuária foi o segmento da economia brasileira que mais ampliou a geração de empregos entre janeiro e outubro deste ano. Enquanto o nível geral de emprego cresceu 2,24% nesse período, no setor agropecuário o aumento foi de 6,02% – quase o triplo dos demais setores. “E não foi só. O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio superou, em 2014, em quase dez vezes a projeção do FMI. Foi de 3,8%, confirmando nossa importância para o PIB do país. Fechamos 2014 com uma participação de 23,3%. Tudo isso me dá a convicção de que estamos no caminho certo. Precisamos, cada vez mais, enaltecer as virtudes da livre iniciativa, da liberdade econômica e do respeito à propriedade e ao lucro.”
Em breve discurso, Dilma reafirmou sua parceria com o agro brasileiro, pois este apoio é um compromisso do seu governo com o País. Destacou que os recursos de financiamentos para o setor com “juros adequados são tão generoso quanto nossa capacidade permite e ainda prometeu, em seu segundo mandato, oferecer condições para continuar expandindo a produção agrícola. A presidente da República também desejou que a CNA continue a seu lado, mas sem desrespeitar a autonomia e a independência da entidade. “As reivindicações do agronegócio serão sempre uma baliza para a construção das políticas de apoio ao seto”, destacou Dilma.
PRIORIDADES DO GOVERNO
“Além de preservar e consolidar o que já conquistamos, temos prioridades importantes a atender nesse segundo mandato que o povo brasileiro me delegou. Não faltarão condições, nem recursos adequados para continuarmos expandindo a produção. No novo mandato que se inicia o produtor rural não será apenas ouvido ou consultado, proponho mais do que isso. Quero o produtor rural tomando decisões junto comigo, participando do governo e atuando diretamente na definição das nossas políticas”, disse a presidente do País.
“O sucesso de nossa agropecuária é fácil de ser mensurado. Na safra de 2001/2002, nós produzimos 96,8 milhões de toneladas em 40,2 milhões de hectares. Na safra atual devemos ultrapassar os 200 milhões de toneladas em 58 milhões de hectares, mais que dobramos a produção, com o crescimento de 44% na área plantada. A bandeira da produtividade e da preservação está nas mãos de todos. É também a bandeira de um governo que não pode discriminar quem gera alimentos e divisas para um Brasil comprometido com a segurança alimentar do seu povo”, defendeu.
Dilma reforçou que é prioridade de seu próximo governo consolidar as conquistas e avançar na expansão da produção agropecuária. Para alcançar este objetivo, ela lembrou a implantação de políticas que devem ser fortalecidas, como o financiamento dos médios produtores; o programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono); o financiamento à agropecuária, os programas de inovação e modernização tecnológica do processo produtivo; a busca pela universalização do seguro agrícola; o incremento dos investimentos em logística para escoamento da produção; e a continuidade aos investimentos na expansão da produção de fertilizantes.
TRABALHO DA CNA
Ainda durante seu discurso de posse, a presidente da CNA, Kátia Abreu, destacou a criação do Instituto da Confederação Nacional de Agricultura (ICNA), no ano de 2009, que tem como objetivo “desenvolver, junto com a Academia e com as empresas do setor, estudos, projetos e indicadores para o Agro brasileiro”. “O ICNA monitora as desproteções sociais e a insegurança jurídica no campo. Estimou, por meio de dois estudos inéditos, a necessidade de investimentos em estradas vicinais e em habitações rurais em todo o Brasil.
No estudo Escolas Esquecidas, estabeleceu parâmetros para apontar a baixa qualidade de escolas municipais a que meninos e meninas do campo têm acesso. São estudos que buscam mostrar a necessidade de investimento para reduzir as assimetrias de qualidade de vida entre os brasileiros das cidades e os brasileiros que vivem nas áreas rurais”, citou ela.
Kátia Abreu também lembrou a início do Projeto Biomas, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com o apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e das instituições privadas envolvidas com o agronegócio do País. “São seis vitrines tecnológicas (do Projeto Biomas), uma em cada um dos nossos biomas, nas quais mais de 350 pesquisadores de 71 instituições de pesquisa vêm desenvolvendo mais de 100 estudos simultaneamente. Os produtores rurais vão ter a disposição todos os resultados, para aprender a produzir sempre de forma sustentável.”
Cotada para ser a próxima ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no lugar do atual, Neri Geller, Kátia Abreu fez questão de mencionar a parceria da CNA com o Mapa, que propiciou a origem da Plataforma de Gestão Agropecuária (PGA). “Foram, até agora, investidos cerca de R$ 11 milhões dos produtores rurais brasileiros para construir aquela que é a maior ferramenta desse gênero no mundo. Já hospeda informações de todos os rebanhos do país e caminha para receber informações também dos produtos vegetais. Vai garantir rastreabilidade, transparência e segurança para os consumidores dos nossos produtos no Brasil e no resto do mundo.”
MAIS REALIZAÇÕES
De 2009 a 2014, contou a presidente da CNA, a entidade desenvolveu uma estratégia de inserção internacional do agro brasileiro, de modo a garantir aumento da renda dos produtores. “Parte fundamental dessa estratégia foi a criação da Superintendência de Relações Internacionais e dos escritórios de representação no exterior. Somos, hoje, protagonistas do setor em temas internacionais. Temos escritórios em nossos principais mercados: China e União Europeia. Essas representações fazem o acompanhamento diário das tendências políticas e econômicas que possam impactar o agronegócio brasileiro. Criamos os observatórios das políticas agrícolas da União Europeia e dos Estados Unidos – e também do impacto da perda do sistema geral de preferências tarifárias (SGP)”, discursou.
“Nesses anos à frente do SENAR (Serviço Nacional de Aprendizado Rural), demos um novo rumo às ações de promoção social. Demos mais atenção para as mulheres do campo, por meio de ações especificamente direcionadas a elas. O programa Útero é Vida, de prevenção do câncer de colo de útero, realizou 104 mil atendimentos desde 2009, e o Com Licença Vou a Luta foi criado para capacitá-las em princípios básicos de gestão, permitindo que participem da administração das propriedades”, mencionou Kátia Abreu. Ela também destacou, entre vários projetos da entidade, a ampliação para jovens e adultos dos programas de Inclusão Digital Rural e do Empreendedor Rural. Mais de 520 mil pessoas são atendidas, em todo País, pelos programas da CNA e seus parceiros.
O FUTURO DO AGRO BRASILEIRO
Para Kátia Abreu, “se muito foi feito – e efetivamente foi -, muito ainda temos a fazer. Os desafios não cessam – e essa é a dinâmica da vida”. “Crescimento dá trabalho. As dificuldades do setor sucroalcooleiro e a adequação dos instrumentos da política agrícola para o Norte e o Nordeste são pautas importantes, que ainda estão sobre a mesa. A infraestrutura e a logística continuam sendo os nossos principais gargalos. Apesar de avanços pontuais, o cenário continua problemático para investidores e usuários do sistema. Os investimentos públicos nas últimas décadas ainda não ajustaram a oferta às demandas e às projeções de médio e longo prazos.”
Na opinião da presidente da CNA, há mudanças que precisam prosseguir. “O governo (federal) anunciou que deverá licitar em 2015 trechos relevantes com o objetivo de reduzir os gargalos logísticos que dificultam o escoamento da produção de grãos em várias regiões. Foram concluídos recentemente 885 quilômetros da Norte-Sul, ligando Palmas, no Tocantins, a Anápolis, em Goiás. É preciso, porém, que se dê continuidade à Ferrovia de Integração Oeste-Leste, no trecho entre Ilhéus, na Bahia, e Figueirópolis, no Tocantins.”
Kátia Abreu continuou ressaltando que, no setor portuário, a Medida Provisória (MP) dos Portos abriu os portos brasileiros, desta vez ao capital privado, que vai favorecer a construção de novos terminais nos portos organizados. Vinte de seis deles já estão em andamento, citou ela. “E há as hidrovias, entre as quais a do rio Tocantins figura como prioridade, que já começou a virar realidade com a obra de derrocamento do Pedral do Lourenço – entre Marabá e Tucuruí, no Pará. A hidrovia do Tocantins será a principal rota de escoamento do MATOPIBA (formada pelos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Aliás, ouvi recentemente de alguém muito importante que nos próximos quatro anos será a vez das hidrovias. Finalmente teremos os nossos Mississipes”, comparou.
Aparentemente respondendo, de forma indireta, às críticas de alguns setores que são contra sua ida para o Ministério da Agricultura, Kátia Abreu fez questão de afirmar que “a CNA é uma casa política na medida em que a política permeia todas as ações e relações da sociedade. Mas não é uma casa partidária. A disputa ideológica, legítima, necessária, se exerce nos partidos políticos. A nossa Confederação é, ao mesmo tempo, a fortaleza de nossos interesses e de nossos direitos, mas é – e deve continuar sendo – uma reunião de homens e mulheres que coloca a Nação brasileira acima de tudo. Acreditamos que tudo que é bom para o Brasil é bom para o agro”.
SOBRE MINISTÉRIO
Após a cerimônia na CNA, Kátia Abreu afirmou à imprensa, durante um coquetel, as notícias de que será nomeada ministra da Agricultura não passam de “especulações”, já que, segundo ela, não houve convite da presidente da República. Ela destacou que a “parceria” mencionada na fala de Dilma, na solenidade de posse, dizia respeito à aproximação da CNA, nos últimos quatro anos, com o governo federal. “Com certeza estaremos mais próximas, eu como presidente da CNA e como uma pessoa que aprendeu a admirá-la justamente pela vontade dela de aprender e atender as demandas do setor. Por isso, essa reciprocidade, essa afinidade. […] Isso [indicação para o ministério] são só especulações, apenas especulações. Eu continuo senadora e presidente da CNA”, disse Kátia Abreu, em notícia publicada pelo portal G1/Globo.
Por equipe SNA/RJ com informações da assessoria da CNA