O avanço da comercialização de soja no último mês não se traduziu em aumento dos valores do frete nas rotas de escoamento do grão. Conforme análise do grupo de pesquisa e extensão em logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (EsalqLog), os preços vêm caindo desde fevereiro – pico da colheita de soja em Mato Grosso – e estão, em alguns percursos, até mais baixos que há um ano.
No acumulado da atual temporada até junho, foram comercializadas 78,2% da colheita de soja prevista para Mato Grosso, segundo última estimativa divulgada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Em maio, apenas 69% da produção havia sido comercializada. No entanto, mesmo com o ritmo mais intenso de vendas de soja, os preços cobrados pelo transporte caíram mais de 5% no período em algumas rotas, segundo a EsalqLog.
Do município de Sorriso – um dos maiores produtores de soja de Mato Grosso – até Rondonópolis, onde existe um terminal ferroviário, o preço da tonelada de soja transportada passou de R$ 99,76, em abril, a R$ 97,78 em maio (queda de 2%). Na comparação com maio de 2016, porém, ainda houve alta de 9,2%, mas a queda dos preços continuou em junho. Na primeira semana deste mês, o valor chegou a R$ 95,33. Comparado ao pico do ano, em fevereiro, a queda do frete de Sorriso a Rondonópolis é de 21%
De Nova Mutum, também em Mato Grosso, para o porto de Santos (SP), o frete caiu 5,7 % entre abril e maio, para R$ 255,56 a tonelada. Em relação a fevereiro, o recuo é de 5,4% e, se comparado a maio do ano passado, a queda é bastante expressiva, de 21,8%. De Sapezal (MT) a Porto Velho (RO), a queda mensal é de 9,24% e, em relação a fevereiro, de 6,14%, para R$ 136,71 a tonelada. Na comparação anual, o aumento do frete ficou abaixo da inflação do período, de 3,52%.
Mesmo fora de Mato Grosso, os preços do frete também caíram. No Paraná, o lento escoamento e a falta de concorrência com outros produtos fizeram os preços do transporte caírem 6,2% de abril para maio entre Ponta Grossa e Paranaguá. Na comparação com maio de 2016, porém, o preço subiu 15,3%.
“Este ano foi atípico. Devido aos preços baixos da soja, os contratos que já haviam sido fechados foram entregues logo após a colheita, gerando o pico em fevereiro e março. Mas depois disso, os produtores guardaram o produto em armazéns e a comercialização foi bem lenta, não gerando demanda por caminhões”, disse Samuel da Silva Neto, economista e pesquisador da EsalqLog.
De fato, a comercialização ainda está abaixo do mesmo período da safra passada. Embora tenha avançado rapidamente no último mês em Mato Grosso, ainda estava 12,8% abaixo de igual intervalo da safra 2015/16, quando 90,9% da colheita já havia sido comercializada até o início de junho, segundo o Imea.
No Paraná, o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do estado, indica que 44% da safra 2016/17 foi negociada até junho, frente a 59% no mesmo período de 2015/16.
Silva Neto acredita que ocorrerá um aumento gradual nos preços entre julho e agosto, quando o comércio de açúcar deve gerar demanda, ao mesmo tempo em que se inicia a colheita de milho safrinha (inverno). Porém, o economista só vê altas mais efetivas em setembro ou outubro, quando os produtores de grãos sentirem a necessidade de escoar a soja ou o milho porque não terão lugar nos armazéns para tantos grãos.
Fonte: Valor Econômico