Preços da soja no Brasil acumulam quedas de até 4% e voltam aos patamares pré-crise política

Em uma sessão pré-feriado nos Estados Unidos (a Bolsa de Chicago não opera na hoje em razão do Memorial Day), os contratos futuros da soja intensificaram as quedas na sexta-feira (26), resultando em um saldo semanal ainda mais negativo depois de os principais vencimentos registrarem perdas de mais de 11 centavos.

Os recuos acumulados ficaram entre 2,36% e 2,78% e com os quatro principais vencimentos, julho, agosto, setembro e novembro, abaixo dos US$ 9,30/bushel. O contrato mais negociado, julho/2017, registrou as menores cotações em 13 meses.

 

 

A pressão decorre do gigantesco volume mundial de oferta da oleaginosa. As produções recordes da safra 2016/17 elevam os estoques mundiais da commodity para 90 milhões de toneladas, o que deixa o mercado com dificuldades de comprar no atual momento de incertezas climáticas na safra que está sendo apenas plantada nos Estados Unidos.

A recente desvalorização do real tem acelerado as exportações brasileiras com o adicional de vendas no mercado físico, com ofertas nos portos ainda mais competitivas e alto poder de barganha, adicionando perdas nas cotações em Chicago.

Segundo o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o mercado aproveitou o momento para uma realização de lucros, com os fundos liquidando boa parte de sua posições compradas já em uma preparação para o início da próxima semana, que promete ser bastante volátil.

Na quinta-feira (25), o julho/2017 rompeu o suporte de US$ 9,40 e desencadeou um movimento mais intenso de queda, fazendo o contrato romper os US$ 9,30, na sequência. “Mas, nestes patamares, o mercado já se mostra bastante comprador”, disse Brandalizze.

Afinal, uma série de fatores se juntam para influenciar o andamento e a formação dos preços da oleaginosa daqui em diante, com o clima nos Estados Unidos ainda no centro dos negócios, mas ao lado da relação dólar x real e da movimentação dos produtores no Brasil. Diante disso, o que esperar das cotações na próxima semana?

Clima nos EUA e nova safra de grãos

O mercado está bastante atento neste momento às condições climáticas nos Estados Unidos, principalmente a partir de junho, quando começa o desenvolvimento mais efetivo das lavouras norte-americanas. E é nesse período que as previsões indicam, a partir do dia 5, uma volta das temperaturas e das chuvas à normalidade, segundo as últimas previsões da AgResource Brasil.

“Um período com intempéries está previsto para os primeiros quatro dias de junho, com temperaturas mais frias e chuvas generalizadas por grande parte dos Estados Unidos. Apesar de um padrão climático “atípico” para o período, as temperaturas e precipitações voltam a normalidade a partir do dia 5 de junho. O mês de junho se mostra com um clima regular, até o momento”, informa a consultoria em seu reporte diário.

Enquanto isso, e apesar de alguns problemas pontuais em decorrência do excesso de chuvas e do frio que vem sendo registrado no Corn Belt, o plantio da soja se desenvolve bem, e até o último domingo (21) já chegava a 53% da área. Novos números atualizados serão divulgados na próxima terça-feira, 30 de maio, às 17h (Brasília), após o fechamento do mercado.

Para o consultor Carlos Cogo, da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, sem relatos de problemas graves na nova safra americana, a pressão da temporada 2017/18 dos EUA deve continuar sobre as cotações. “Se o clima seguir ‘normal’, a safra 2017/18 já será, evidentemente, muito maior do que a 2016/17, que foi recorde e que influenciou os preços, colocando-os em patamares mais baixos”, disse.

Ainda segundo o consultor, nesse cenário favorável, os preços da oleaginosa podem seguir pressionados até o estágio de floração, quando o se trata de um novo momento em que as condições de clima têm forte influência no andamento do mercado.

O mercado segue atento ainda à questão de como os produtores americanos irão lidar com a possibilidade de uma migração da área de milho para a soja face ao clima e de uma janela ideal praticamente fechada para o plantio do cereal.

Segundo o economista Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais, “esse é um momento mais especulativo do que certeiro” sobre essa possível transferência. Novos números de área chegam em 30 de junho e esse movimento pode ou não ser confirmado. O mercado futuro dos grãos entra agora, para Motter, em um período de intensa volatilidade e com uma tendência ainda nebulosa, difícil de ser traçada.

Dólar e preços no Brasil

Após a disparada da última semana, o dólar devolveu boa parte dos ganhos e fechou em uma alta semanal de apenas 0,25%, cotado a R$ 3,2654 para venda. Na sessão de sexta-feira (26), a moeda americana fechou em alta de 0,54%. Do meio da semana passada até o final desta, o Brasil vendeu, segundo Vlamir Brandalizze, cerca de três milhões de toneladas de soja.

O ritmo das vendas, embora já mais ameno nestes últimos dias, melhorou com o dólar mais alto – também em consequência da maior competitividade da soja brasileira e de melhores preços em reais – e além disso pesou sobre os preços no mercado futuro norte-americano. No mês de maio, a divisa já acumula alta de 3,55%.

E a recente perda de ritmo, mais uma vez, chegou com a acomodação das cotações no Brasil, depois da euforia na última semana após as delações dos irmãos Batista, donos da JBS, que abalou as estruturas do governo federal em Brasília. No interior do Brasil, as quedas foram entre 0,83% e 3,31% no acumulado da semana. As cotações da saca voltaram a se situar entre R$ 54,00 e R$ 62,00 nas principais praças de comercialização.

Nos portos, a saca chegou a cair 4,86%, como no mercado disponível em Rio Grande, onde a última cotação foi de R$ 68,50, contra R$ 72,00 da sexta-feira anterior (19). Em Rio Grande, a saca caiu em uma semana, de R$ 70,00 para R$ 68,50, em baixa de 2,14%.

“Se pegarmos os preços em vigor hoje, eles voltam ao período anterior a essa nova turbulência política que estamos vivendo, quando o dólar chegou ser negociado a R$ 3,40. Nesta semana ele se manteve em uma faixa estreita, entre R$ 3,25 a R$ 3,30. Ainda em relação ao período pré-crise, temos um dólar melhor remunerador, porém, tivemos uma pressão sobre os preços internacionais”, disse Camilo Motter.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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