A suinocultura brasileira tem sofrido os impactos do Coronavírus devido, principalmente, ao confinamento e à redução na demanda por carne suína em restaurantes, escolas, hotéis e outros serviços de alimentação. Com isso, os preços no mercado interno registraram forte queda no mês de abril, enquanto os preços dos componentes da ração (milho e soja) vêm registrando altas desde o segundo semestre de 2019.
O que tem trazido um pequeno alívio aos produtores é o aumento das exportações de carne suína fresca, refrigerada ou congelada para China, que cresceram 153,50% no primeiro quadrimestre do ano, quando comparado ao mesmo período de 2019.
Parte considerável do rebanho chinês de suínos foi dizimada pelo surto de Peste Suína Africana (PSA), que assolou o país em 2019, comprometendo a produção de carne suína no país. No mercado interno, o Gráfico 1 representa a evolução do preço real do suíno vivo em R$/kg entre 2011 e abril de 2020 em Minas Gerais, estado com maior média de preço nacional para o produtor; em Santa Catarina, maior produtor e exportador, e no Brasil.
É possível perceber que o comportamento dos preços é semelhante entre os estados destacados e a média nacional, sendo que todos eles permanecem, no último mês, abaixo do valor médio do período, se aproximando das mínimas históricas registradas no ano de 2018.
Observando com mais detalhe o Gráfico 1, entre 2011 e 2019, o preço real do suíno vivo no Brasil passou de R$ 4,00 para R$ 4,50, um aumento de 12,60% no período. Logo no primeiro mês de 2020, os preços continuaram aumentando e atingiram níveis recordes em torno de R$ 5,77, com alta de 28,20% em relação à média de 2019, sustentada principalmente pelo aumento das importações chinesas a partir do segundo semestre de 2019.
Entretanto, o que se observou a partir daí foi uma forte queda no preço real do suíno vivo, que atingiu R$ 4,03 em abril de 2020, com redução de 30,10% quando comparado aos preços de janeiro de 2020, se aproximando dos menores valores históricos observados em 2018. Assim, o que se verificou até o momento, em 2020, foi um aumento da receita em janeiro, seguido por fortes quedas nos meses seguintes.
Em termos de custo de produção, os dados do Projeto Campo Futuro, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), mostram que o custo com nutrição pode representar até 75,70% do custo operacional efetivo da produção dos suinocultores, utilizando como exemplo a região de Sorriso (MT). Por essa razão, o insumo se torna extremamente estratégico para produtores independentes que desejam alta rentabilidade.
Dentre os principais componentes da ração para suínos, dois deles se destacam: o milho (70%) e o farelo de soja (25%). Apesar do aumento na produção nacional das commodities, a mesma não permitiu que os preços reais caíssem de forma acentuada, muito em função do aumento da demanda interna e principalmente devido ao crescimento das exportações de grãos no período, que mais que dobraram entre 2018 e 2019, por exemplo.
Apesar disso, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), no período de 2011 a 2019, o preço real da saca de 60 kg de milho passou de R$ 48,19 para R$ 38,21, com redução de 21% no período. Enquanto isso, o preço real da saca de 60 kg de soja passou de R$ 75,15 em 2011 para R$ 76,54 em 2019, com incremento de apenas 2%. O Gráfico 2 mostra a produção de milho e soja em milhões de toneladas (barras) e os preços reais das sacas de 60 kg de milho e soja (linhas) entre os anos de 2011 e 2020.
Em meados do segundo semestre de 2019, houve aceleração nos preços de ambos os grãos, mesmo com as previsões de novos recordes nas safras brasileiras de milho e soja para 2019/20 (101.9 milhões de toneladas e 122.1 milhões de toneladas, respectivamente).
Os preços das sacas de milho e soja em abril alcançaram valores reais médios de R$ 52,92 e R$ 102,30 respectivamente, com aumento de 39% e 34% para ambas as sacas, em comparação aos preços reais médios de 2019. Desse modo, se observa que a média dos preços das sacas de milho e soja em abril de 2020 estão acima dos últimos picos reais históricos registrados em 2016 e 2012, respectivamente.
O que se percebeu nos últimos meses foi uma deterioração dos termos de troca entre suíno vivo e os principais insumos que compõem a ração. Em 2019, em média, era preciso 8,6 kg e 17,3 kg de suíno vivo para a aquisição de uma saca de milho e soja, respectivamente. Já em abril de 2020, esta quantidade saltou para 13,2 kg e 25,4 kg, um aumento de 52% e 47% para a relação de troca entre o quilograma do suíno vivo e uma saca de milho e soja, respectivamente.
Com isso, espera-se que o custo da ração permaneça em patamares elevados este ano, principalmente em função das tensões comerciais entre Estados Unidos e China; da falta de estabilidade da produção de suínos na China, dizimada pela peste, e da pandemia do Coronavírus, trazendo maiores incertezas sobre o mercado interno e externo.
Desse modo, caso as medidas internas contra o Coronavírus se prolonguem, diminuindo a demanda interna e, por consequência, os preços do suíno vivo no mercado interno, e o custo da ração continue em patamares elevados, a tendência é que o ano de 2020 seja de pressão sobre a margem dos produtores de suínos no Brasil.
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