Os preços dos produtos básicos que mais afetam a inflação no Brasil subiram em novembro pelo terceiro mês seguido. O Banco Central informou ontem que Índice de Commodities (IC-Br) passou de 146,85 em outubro para 151,32 em novembro, registrando alta de 3,04% na passagem de um mês para o outro. O movimento teve início em setembro, quando o IC-Br subiu 1,01%, após cinco meses seguidos de queda. Assim, o indicador de novembro é o maior desde março deste ano, quando estava em 151,90 pontos.
Apesar da variação positiva nos últimos três meses, o diretor da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Hélio Sirimarco, não acredita em uma tendência de recuperação. Ele afirma que na composição do índice, o principal responsável pela alta foi o segmento de metais, que subiu 5,25%. “Ainda assim, essa recuperação não chega nem perto do que o segmento perdeu ao longo deste ano. E o mesmo vale para o setor agropecuário, que teve recuperação em alguns preços”, afirmou.
O IC-Br é calculado com base na variação em reais dos preços de produtos primários negociados no exterior. Para isso, o BC observa os produtos relevantes para a dinâmica dos preços ao consumidor no Brasil. No mês passado, o segmento de metais (alumínio, minério de ferro, cobre, estanho, zinco, chumbo e níquel) foi o principal responsável pela alta de preços, com variação de 5,25%.
O segmento agropecuário (carne de boi, algodão, óleo de soja, trigo, açúcar, milho, café, arroz e carne de porco) registrou alta de 3,14% no índice de commodities. Já o índice do segmento de energia (petróleo, gás natural e carvão) teve retração de 0,48%.
Para Sirimaco, dificilmente os preços das commodities irão retomar o patamar dos anos recentes. “O que eu vejo é uma cenário de queda. O setor teve um super ciclo que acabou. Nós não veremos os preços que vimos no passado recente – as queda foram muito grandes”, disse.
Ele citou como exemplo que, em setembro de 2012, o contrato da soja em Chicago era negociado a US$ 17,70 o bushel. Hoje, está abaixo de US$ 9,90. “Até o petróleo vem sofrendo quedas: em janeiro deste ano era negociado em Nova York a US$ 112,50 e, agora, a US$ 63,70. E não estou falando de quedas em uma década, mas de menos de um ano”, disse.
Por isso mesmo, afirma, não vale usar o resultado de novembro como uma tendência que vá se manter. “Novembro foi um ponto fora da curva, a tendência para as commodities é de queda de preços. Basta lembrar que a China, que tem sido o motor do crescimento mundial nos últimos anos, tem desacelerado e a Europa continua em recessão. Ou seja, os Estados Unidos sozinho não serão capazes de segurar um crescimento suficiente para que os preços das commodities se recuperem.”
Vale lembrar que a China, maior consumidora mundial de metais industriais e de minério de ferro, caminha para ter o menor crescimento anual desde 1990. Para este ano, a projeção é de um crescimento de 7,5% e, para 2015, de 7%, o que deve ter impacto no mercado mundial. No Brasil não será diferente.
Analista da São Paulo Investments, Fabio Lemos disse que a alta de 5,25% registrada nos preços de metais em novembro deve estar mais relacionada à valorização do dólar em relação ao real do que a uma recuperação de preços.
Os preços do minério de ferro desabaram ao longo de 2014. Enquanto no ano passado a tonelada foi negociada a US$ 135 no mercado internacional, no mês passado, estava em US$ 73. E, segundo analistas, a tendência é de novas quedas. Por conta do aumento da oferta, analistas projetam que o preço da tonelada em 2015 deva ficar entre US$ 55 e US$ 90.
Na semana passada, a Goldman Sachs apontou, em relatório, que pode reduzir sua projeção de preço para o minério em 2015, dos atuais US$ 80, justamente por conta do aumento da concorrência.
Analista da Safras & Mercado, Mauricio Muruci disse que a recuperação de preço das commodidites em geral no mercado interno está relacionada mais ao dólar valorizado do que a uma reposição de preços, embora veja uma tendência de alta para açúcar e café.
Fonte: Brasil Econômico