O cenário de preços que se forma para o mercado de soja indica bons valores pagos aos produtores, mas o Brasil terá limitações para expandir a área plantada com a oleaginosa na próxima temporada (2016/17), cujo plantio começa em meados de setembro, afirmou um analista sênior da consultoria Agroconsult.
Isso porque os preços do milho estão elevadíssimos no mercado interno, após a seca afetar produtividades, e provavelmente algumas áreas plantadas com soja na última temporada serão convertidas para o cereal ao sul do Brasil, segundo Marcos Rubin, da consultoria.
“No Brasil, vamos ter limitações para expandir a área na próxima safra”, declarou ele a produtores de Sorriso (MT), em evento do Rally da Safra na noite de quinta-feira.
O Brasil é o maior exportador global de soja, e o segundo maior produtor atrás dos Estados Unidos. A oleaginosa tem sido o principal produto de exportação do País, com volumes recordes embarcados.
Rubin lembrou que, dos cerca de 1 milhão de hectares de avanço de área de soja na temporada passada, quase metade veio do Sul do País.
“Este ano, a soja não vai roubar área de milho verão…”, acrescentou ele, lembrando que um produto concorre com o outro por hectares no Sul, dependendo dos preços.
O produtor brasileiro reduziu fortemente a área de milho verão no ano passado, e agora a chamada safra de inverno teve problemas climáticos, apertando o mercado nacional após fortes exportações, o que resultou em preços recordes do cereal.
O analista disse ainda acreditar que a área com a oleaginosa na região do Matopiba (sigla para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) deverá cair em 2016/17, com produtores desanimados depois de problemas climáticos na colheita recente de soja.
Avanços no plantio ficariam para o Mato Grosso, que tradicionalmente privilegia a soja no verão e depois planta o milho na segunda safra.
O cenário de limites para expansão da soja ocorre, curiosamente, em um ano em que o produtor brasileiro conta com recursos de R$ 10 bilhões de financiamento para pré-custeio do governamental Plano Safra, algo que não havia no ano passado.
Além disso, o mercado internacional aponta para preços sustentados, com a China ampliando o consumo, a Argentina com problemas sérios na colheita atual, devido a enchentes, e mesmo com o Brasil tendo colhido abaixo do patamar de 100 milhões de toneladas, inicialmente esperado, o que seria histórico.
“A safra 2016/17 é uma safra em que nada poderá dar errado. Se der errado, o impacto sobre os preços é imediato”, afirmou Rubin.
Contudo, lembrou o analista, o plantio nos Estados Unidos, os maiores produtores globais, está se desenvolvendo ainda, e há tempo de os norte-americanos plantarem mais soja do que o previsto.
“O mundo vai produzir o que o mercado está demandando. Os preços já subiram, e se algo der errado, vão subir mais.”
Repercutindo os problemas das inundações na Argentina, o preço da soja em Sorriso subiu cerca de R$ 20,00 a saca em cerca de 40 dias, para pouco mais de R$ 75,00 a saca, disse um operador local de uma trading internacional, pedindo para ficar no anonimato.
Fonte: Reuters