Diante dos persistentes baixos preços do café, empresas e cooperativas do segmento estão ampliando prazos para a quitação de pagamentos a fim de atrair os produtores para as operações de “barter”, onde a moeda de troca é a colheita futura.
O sistema tradicional prevê o pagamento dos insumos com a produção um ano após negócio. Nos últimos tempos, esse prazo cresceu para dois ou três anos, mas em 2019 a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), maior cooperativa de cafeicultores do país, ampliou o limite para até cinco anos.
“Quando o preço está ruim, o produtor faz menos “barter” do que faria se o preço estivesse bom. Não é que ele deixe de fazer, mas faria mais se o preço estivesse melhor. Daí a ampliação do prazo”, disse Carlos Alberto Paulino da Costa, ex-presidente da cooperativa.
No ano passado, o “barter” representou 20% do volume de café entregue para a Cooxupé, o equivalente a um milhão de sacas.
Além de atrair produtores com maior prazo, a cooperativa quer estimular a venda de máquinas para a movimentação de fertilizantes em embalagens para grandes quantidades – os chamados “big bags”.
“A partir de 2021, as empresas não vão mais entregar fertilizantes em sacaria, somente em bag. Então o produtor precisa se adequar para estimular a demanda”, disse Costa.
Na avaliação do gerente de marketing, cultivos e portfólio de milho e café da Basf, Stael Prata, o uso dessa ferramenta, com prazos maiores, será importante neste ano de preços baixos. A multinacional de insumos também optou por ampliar prazos para pagamento na tentativa de atrair os produtores.
A partir desta safra, a empresa trabalhará com a possibilidade de travar os valores por até três anos. Até então, o prazo era de um ano. “Dessa forma, o produtor tem maior praticidade, pois poderá programar o custo no longo prazo”, afirmou Prata.
Outro formato novo na Basf é a troca financeira. Nesse modelo, há opção de liquidação em dinheiro em vez de produto no prazo estabelecido, em um sistema semelhante ao contrato de opção. O “barter” representa 50% dos negócios de café da multi no Brasil.
A também alemã Bayer é outra que espera negócios firmes por contratos via “barter” neste ano. “Em fevereiro a demanda cresceu quatro vezes em relação ao mesmo mês do ano passado”, disse Marcos Dallagnese, gerente regional de café da companhia. “Esperamos que metade das nossas vendas de insumos para o café seja feita com “barter””.
Para o gerente, é a previsibilidade que atrai o produtor. “Essa troca traz segurança ao produtor. Com os custos travados, ele consegue trabalhar melhor a comercialização do grão”.
Se para insumos a perspectiva é positiva, para máquinas nem tanto. “A demanda por “barter” veio aquecida até dezembro, mas a partir do momento que os preços romperam a barreira dos R$ 400,00, o interesse diminuiu não apenas pelo “barter”, mas pelo investimento em si”, afirmou Reymar Andrade, presidente da Pinhalense, fabricante de maquinário com sede em Espirito Santo do Pinhal (SP).
Segundo Andrade, ainda que as empresas estejam ampliando prazos para fechar negócios, a estratégia pode não ser suficiente e os produtores devem adiar investimentos ou recorrer ao Finame. “Percebemos que o valor da saca está pesando mais que o prazo”, disse.
No ano passado, 15% dos negócios da empresa foram firmados via “barter”. “Foi o nosso maior ano de ‘barter'”, disse. “Neste ano, porém, os resultados de fevereiro já estão inferiores aos de 2018”, informou Andrade.
Para o presidente da Coopercitrus, Fernando Degobbi, o “barter”, principal modalidade na cooperativa no café, é uma ótima oportunidade para que os produtores superem as dificuldades geradas pelos preços baixos. “Quem está quitando contratos agora consegue em torno de R$ 580,00 a saca”, disse. “Mesmo quem faz ‘barter’ agora consegue um valor mais atrativo por saca”.
Segundo Degobbi, a cooperativa espera que o “barter” represente 70% do total de 1.5 milhão de sacas que a Coopercitrus espera receber neste ano. De 2018 até o momento, a cooperativa negociou o equivalente a um milhão de sacas, das quais 680.000 devem ser entregues até 2022. “Esperamos negociar o equivalente a outras 700.000 sacas neste ano nesta modalidade”, disse o presidente da Coopercitrus.
Valor Econômico