De um lado os consumidores andam assustados com alta do leite e dos derivados lácteos. Segundo o IPCA de julho, o leite subiu mais de 25% no varejo e acumulou alta de quase 80% no ano. De outro lado, os produtores também se queixam de aumento. Afinal, o que está impactando tanto o custo do leite e qual a perspectiva para produtores e consumidores?
Tradicionalmente, o período entre abril e setembro é de entressafra na produção devido ao baixo nível de chuvas, principalmente no Sudeste, a maior bacia leiteira do Brasil. No Nordeste, esse impacto da entressafra fez com que, segundo o presidente do Sindilaticínios, José Antunes Mota, em entrevista para o Diário do Nordeste, o abastecimento no Ceará fosse suprido, praticamente, apenas pela produção local sem participação dos leites oriundos do Sudeste.
O pesquisador em economia Samuel José de Magalhães Oliveira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Leite, explica, porém, que esta foi uma das piores entressafras registradas e que começou mais cedo a ponto de, no primeiro trimestre, a captação de leite pela indústria ter sido 10,3% menor em comparação ao do mesmo período do ano anterior.
Carta aberta
Já a Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, em carta aberta divulgada no dia 29 de agosto, aponta o custo do milho, principal insumo da ração, como vilão nessa equação.
“Somente em 2021, foram necessários em média 42,7 litros de leite para aquisição de uma saca do cereal, cifra 30% superior à média dos últimos 10 anos, reforçando a delicada situação no campo. Tal desestímulo à produção culminou na pior captação de leite na série histórica do IBGE em 2022, alcançando 11,2 bilhões de litros, queda de cerca de 9% ante igual período de 2021”, afirma, no texto, Ronei Volpi, presidente da Comissão.
O preço do milho é puxado por fatores externos como o lockdown da pandemia e a guerra Ucrânia x Rússia, dois grandes exportadores de grãos, além de ser agravado pela seca.
Cenário
Com produção de mais de 34 bilhões de litros por ano, gerando mais de 4 milhões de empregos no campo e na indústria, e movimentando mais de R$ 100 bilhões, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a produção leiteira do Brasil alcança hoje 98% dos municípios do País, e dentro deste percentual, a predominância é de pequenas e médias propriedades.
Ainda segundo o MAPA, o Brasil conta atualmente com mais de 1 milhão de propriedades produtoras de leite. Em novembro do ano passado, o ministério lançou a I Semana do Leite e Derivados para aumentar o consumo do produto e melhorar as condições para o produtor.
Queijos
Boa parte do leite produzido no País, 40%, é destinado à produção de queijo e, no mercado internacional, os produtores brasileiros de queijo só registram alegrias.
Em 2016, o Queijo Tulha da Fazenda Atalaia foi o primeiro queijo brasileiro a receber medalha de ouro no World Cheese Awards, na Espanha.
Em 2021, os queijos brasileiros conquistaram 57 medalhas, sendo 5 super ouro no 50 Mondial du Fromage et des Produits Laitiers de Tours, uma premiação mundial de queijos, que acontece na França.
Recuo de preços
A boa notícia para o consumidor é que, na segunda quinzena de agosto, a cotação média do litro de leite em São Paulo caiu quase 17%, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e, de acordo com o economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Diego Pereira, deve haver um recuo de preços ao consumidor a partir da primeira quinzena de outubro.