Na tentativa de minimizar os impactos da pandemia do novo Coronavírus para o comércio de hortifrútis e outros itens perecíveis no País, que recuou ao menos 20% com o fechamento de bares e restaurantes e com o isolamento social, diversas plataformas novas e que já atuavam nesses mercados se engajaram no apoio aos produtores.
O prejuízo no segmento de flores, por exemplo, é estimado pelo Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) em R$ 1.4 bilhão se a quarentena perdurar até o Dia das Mães. Para os pescados, a perda em 2020 deve chegar a R$ 6 bilhões.
Somente esta semana, foram lançadas duas plataformas. A primeira foi o portal mercado.cnabrasil.org.br, que reúne produtores, supermercados e prestadores de serviço de frete. A iniciativa, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), tem o apoio do Ministério da Agricultura, e faz a conexão entre os elos da cadeia, em nível nacional, sem custos.
Pensada para auxiliar sobretudo produtores de hortifrútis, flores e pescados, a ferramenta tem por objetivo fomentar a comercialização por meio digital em caráter permanente.
Segundo Matheus Ferreira, coordenador de Inovação do Sistema CNA/Senar, o produtor que não tinha costume de trabalhar com a venda online poderá acessar um guia de orientações sobre como embalar seu produto, determinar pesos e deixá-lo mais atrativo para o consumidor final.
Em São Paulo, a Federação da Agricultura do Estado (Faesp) e o Sebrae-SP, em parceria com empresas de tecnologia coordenadas pela consultoria Accenture, lançaram ontem o site www.pertinhodecasa.com.br.
Nele, produtores rurais e pequenos varejistas (feirantes, donos de lojas de hortifrútis, mercearias ou mercadinhos) preenchem um cadastro e informam sua área de atuação. Ao mesmo tempo o consumidor, por meio de seu CEP, recebe uma lista dos fornecedores próximos na Grande São Paulo.
Por enquanto, a negociação é feita diretamente entre as partes via WhatsApp, mas a ideia é evoluir a plataforma gratuita para intermediação completa pelo site.
Igor Meskelis, diretor executivo da Accenture, disse que a primeira versão vem para atender a uma demanda urgente dos pequenos negócios. “Se já beneficiarmos centenas de pessoas terá valido a pena, mas vemos potencial para atingir milhares”. Outros parceiros voluntários da iniciativa são PagSeguro, Facebook e as empresas de software Vtex e Yamí.
Dados do Sebrae-SP indicam que 98% das empresas de São Paulo, entre empreendimentos urbanos e rurais, são de pequeno porte e empregam cinco milhões de trabalhadores formais, ou 49% de toda a força de trabalho com carteira assinada do estado, respondendo por 27% do PIB paulista.
“No futuro, a ideia é abrir a plataforma para esse universo como um todo”, disse Tirso Meirelles, presidente do Sebrae-SP e vice-presidente da Faesp.
No Sul do País, começou a operar no início do mês a www.feiradopequenoprodutor.com.br. O novo site reúne 18 agricultores da Feira do Pequeno Produtor de Passo Fundo (RS), que existe há 30 anos na região, e congrega 60 membros. Em pouco menos de duas semanas, foram recebidos quase 500 pedidos pelo site, criado por voluntários da rede de inovação Conecta UPF, da Universidade de Passo Fundo.
Para Rafael Dal Molin, diretor da startup Elevor, colaboradora no desenvolvimento do site, a ajuda se mostrou ainda mais necessária após os agricultores gaúchos sofrerem perdas pela seca. Entre os feirantes que não aderiram ao novo site estão alguns com limitação de oferta.
Em Santa Catarina e no Paraná, a startup Sumá disponibilizou gratuitamente o acesso à sua ferramenta de comercialização de hortifrútis, por 90 dias a princípio, para produtores cadastrados na iniciativa “Desafio Covid-19” da Orbia, controlada pela Bayer.
No mercado desde 2016, hoje a startup tem como clientes empresas que atendem refeitórios de indústrias e hospitais e movimenta cerca de 60 toneladas de itens como batata, cebola e laranja por mês. Alexandre Leripio, cofundador da Sumá ao lado da esposa, disse que, dependendo da demanda, a Orbia avaliará a possibilidade de atuar em outros estados.
Idealizada pela Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), entidade sem fins lucrativos que atua como corretora e é responsável pela realização de leilões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a BolsaAgro é uma inciativa também voltada ao comércio digital de hortifrútis.
Ela já buscava conectar produtores brasileiros de café, grãos, insumos e subprodutos a compradores nacionais e internacionais. “Nos últimos meses, tivemos novos produtos aparecendo, como o abacaxi”, afirmou César Costa, diretor-geral da BolsaAgro.
O cadastro no aplicativo é totalmente gratuito, mas, caso a venda seja concretizada, é cobrada uma comissão de corretagem para custear a prestação do serviço dos agentes agrícolas da BolsaAgro. A logística fica a cargo de quem faz a oferta. Apenas em março, 225.000 toneladas de produtos diversos foram ofertadas pela BolsaAgro.
Valor Econômico