Plantio de soja pode ser paralisado na Argentina devido à falta de chuvas

A situação climática em várias regiões do Pampa úmido, na Argentina, deu “um giro de 180ºC” nas últimas semanas. Dos excessos hídricos (estes que ainda persistem em zonas do centro-oeste de Buenos Aires, como Bolívar e Daireaux), hoje o panorama é que há outros lugares que estão necessitando de chuvas para plantar soja e completar áreas que iriam receber milho.

Até a semana passada, o plantio de soja no país mostrava um avanço de 34% sobre uma superfície projetada de 18.1 milhões de hectares, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA). Trata-se de uma porcentagem de avanço elevada, já que, no mesmo período do ano passado, o plantio atingia 31,7%. No entanto, é mais baixa do que a média de 40,4% das últimas 15 safras.

Contudo, quando se olha para o interior das regiões, há diferenças. O centro-norte de Córdoba, na semana passada, estava com 12,7% de área plantada, contra 17,8% de média das últimas cinco safras. A cidade está vivendo uma importante irregularidade hídrica.

“As chuvas serão determinantes para a continuidade do plantio”, disse Silvina Fiant, técnica da Bolsa de Cereais da província. Nesta mesma região, a soja ocuparia 4.1 milhões de hectares, uma queda de 3% frente à safra anterior.

“No centro-norte de Córdoba, a falta de umidade é aguda”, disse Esteban Copatí, chefe de estimativas agrícolas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires. A Bolsa de Comércio de Rosario, por sua vez, considerou que metade de Córdoba enfrenta a seca.

No sul de Santa Fe e norte de Buenos Aires, o plantio atinge 60,3%, acima dos 58% da média das últimas cinco safras. Há lugares onde se observa uma condição hídrica apenas regular. Ontem, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires recebeu informes neste sentido de várias regiões. “Há algumas luzes de alerta acesas em Buenos Aires”, disse Copatí.

Falta ainda mais de um mês para o plantio se encerrar, mas a cada dia que se demora até dezembro são 30 kg a menos por dia de rendimento.

Em Pergamino, uma das zonas mais férteis do país, o técnico Júlio Lieutier disse que, depois dos excessos hídricos, os meses de outubro e novembro registraram mudança abrupta e que, assim, o tempo passou a ser mais seco e fresco. Entre estes meses, a área recebeu 100mm de chuva a menos do que costuma receber na época.

O clima fresco, sem as altas temperaturas para que se “entregue” o trigo, atrapalhou a colheita do cereal. Contudo, se fosse possível plantar soja hoje, não haveria umidade suficiente para fazer o plantio de segunda etapa (chamado assim por se tratar de sua época de plantio, depois do trigo), como disse Lieutier ao La Nación. O milho plantado, por sua vez, precisa de mais 20 a 30 mm de chuva.

“Há zonas importantes que tiveram chuvas muito escassas nas últimas quatro semanas, insuficientes para que o plantio continuasse. Vai ser um plantio travado, ajustado pelas águas”, disse Cristian Russo, chefe do Guia Estratégico para o Agronegócio (GEA) da Bolsa de Comércio de Rosario.

O que vem por aí não parece alentador. “Vai chover abaixo dos níveis normais durante a primeira quinzena de dezembro”, disse Germán Heinzenknecht, meterologista da Consultoria de Climatologia Aplicada (CCA), em entrevista para a Reuters. “Chegamos a um momento que se pode considerar quase crítico para os plantios tardios”, disse, em se tratando da região agrícola núcleo.

 

Fonte: La Nación

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