O ritmo de avanço do plantio da safra 2016/17 de soja do Brasil já chama atenção em suas primeiras semanas. Com chuvas ainda muito irregulares, os trabalhos de campo não evoluem da mesma forma nas principais regiões produtoras e não obedecem, tampouco, a um padrão dentro dos estados. A chegada das precipitações tem sido diferente e as condições do solo, especialmente seus níveis de umidade, mais ainda.
Há, portanto, muitas dúvidas entre as projeções sobre o plantio, divergência entre as previsões climáticas e, acima disso tudo, muita cautela por parte dos produtores. Depois das perdas causadas pelas adversidades climáticas na safra anterior, a postura mais defensiva dos agricultores tem sido uma forma de se proteger de riscos maiores.
Nos últimos dias, alguns estados vêm recebendo algumas boas pancadas de chuvas, porém, em muitas localidades, as mesmas ainda são insuficientes para restabelecer os níveis de umidade e permitir um plantio seguro. Em outras, como em boa parte do Paraná, as condições são muito melhores e a semeadura está bastante avançada. Apesar disso, especialistas afirmam que o plantio no Brasil não está atrasado em relação ao do ano anterior. Em 2015, as condições de clima, afinal, eram ruins em quase todos os estados, com falta de chuvas em quase todos os estados produtores.
Para a próxima semana, porém, o cenário já é outro. As previsões climáticas, segundo a Climatempo, voltam a indicar uma redução nos volumes acumulados de chuvas na região Centro-Oeste, bem como em alguns estados como o Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia. E como alertou o climatologista Luiz Carlos Molion, em entrevista ao Notícias Agrícolas na última segunda-feira (3), o atraso para as precipitações no Centro-Norte do Brasil está mantido.
“O produtor pode arriscar a plantar, mas ele corre o risco de nos próximos dias secar, não ter umidade de solo suficiente e a chuva não continuar”, disse o climatologista. Ele lembra ainda que é muito difícil representar em um modelo como o clima irá se comportar e quanto de chuva será produzido. “O ciclo hidrológico, principalmente, é um dos pontos fracos dos modelos”.
Molion disse ainda que, de acordo com a tendência, a estação chuvosa fica bem estabelecida a partir da terceira semana de novembro. O sistema leva um tempo de 45 dias para responder ao aquecimento do sol.
Nesse quadro, o Notícias Agrícolas vem recebendo as últimas informações de produtores rurais dos mais diversos estados sobre o desenvolvimento do plantio ou a preparação para os inícios dos trabalhos de campo. A seguir, a situação dos produtores de Goiás, Tocantins e Mato Grosso do Sul.
Goiás
Em algumas regiões de Goiás, o acumulado de chuvas desde o último final de semana já ultrapassa os 100 mm. E, com o término do vazio sanitário no dia 30 de setembro, a perspectiva é que os trabalhos nos campos ganhem ritmo a partir de agora, principalmente no Sudoeste goiano, primeira região a cultivar o grão no estado.
“Depois de um longo período seco, é importante que os produtores aguardem as chuvas, entre 80 mm até 100 mm, para que tenhamos umidade suficiente no solo. E, por enquanto, os mapas climáticos indicam chuvas para o estado até o próximo dia 8 de outubro. A partir da próxima semana, as precipitações ainda serão registradas, mas com menor volume acumulado”, afirma o assessor técnico da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Cristiano Palavro.
Em Rio Verde (GO), o produtor rural Jean Santos confirma que já existe umidade suficiente no solo para a semeadura da soja. “Porém, os agricultores ainda estão bem cautelosos diante das previsões climáticas mais alongadas. Ainda teremos de acompanhar essas informações, mas o forte do plantio do estado acontece na segunda quinzena de outubro”, disse o produtor.
Tocantins
As chuvas também apareceram em Tocantins e o volume acumulado até o momento já ultrapassa os 100 mm. “Mas, na nossa região, de Darcinópolis, não há movimento de plantio ainda apesar das precipitações. Isso porque as previsões climáticas indicam tempo mais seco a partir da próxima semana, então os produtores estão receosos”, disse o agricultor da região, Marcílio Marangoni.
De acordo com as últimas previsões, as chuvas só deverão retornar para a região na segunda quinzena de novembro. “E, se isso acontecer, teremos um comprometimento da janela ideal de plantio do milho safrinha. Porém, temos informações de que nas regiões de Campos Lindos e Caseara alguns produtores estão arriscando e cultivando a soja”, afirmou Marangoni.
Mato Grosso do Sul
De acordo com informações da Embrapa Agropecuária Oeste, no sul de Mato Grosso do Sul, as chuvas do início de outubro ainda não foram suficientes para repor a umidade do solo e contribuir para o desenvolvimento das lavouras que começaram a ser cultivadas depois do dia 15 de setembro. No mês passado, o volume acumulado de chuvas foi de 18 mm, contra a média histórica de 102 mm.
Em Maracaju, os produtores arriscaram e semearam entre 3% a 4% da área da soja no pó, segundo o engenheiro agrônomo que atua na região, Bruno Temporim. “Os agricultores apostaram nas chuvas previstas para essa semana, e elas se confirmaram. Somente nesta quarta-feira, algumas localidades do município receberam precipitações de até 55 mm”, completa.
A partir da próxima semana, as previsões também indicam uma redução no volume de chuvas. “Então, os produtores deverão aproveitar a umidade para acelerar os trabalhos nos campos. E precisamos finalizar a semeadura da soja dentro do mês de outubro para não comprometer a janela ideal de cultivo do milho safrinha”, disse Temporim.
Fonte: Notícias Agrícolas