A economia brasileira entrou em recessão técnica ao registrar no terceiro trimestre contração pela segunda vez seguida, com perdas na agropecuária e nas exportações ofuscando ganhos nos serviços, em um cenário de inflação elevada e aumento de juros no País e apesar do avanço da vacinação contra o Covid-19.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou queda de 0,10% entre julho e setembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.
O IBGE ainda piorou o resultado do segundo trimestre, ao revisar o recuo de 0,10% informado antes para a retração de 0,40%. Dois trimestres seguidos de contração são considerados como recessão técnica. No primeiro trimestre a economia cresceu 1,30%.
Na comparação com o terceiro trimestre de 2020, o PIB teve um aumento de 4%. Os resultados vieram piores do que as expectativas em pesquisa da Reuters de estagnação na comparação trimestral e de alta de 4,20% na base anual.
Segundo o IBGE, o PIB está agora no patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia, e ainda 3,40% abaixo do nível mais alto da atividade na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.
Impactos
Depois de começar o ano com restrições à movimentação devido à pandemia de Covid-19, o Brasil foi adotando aos poucos o relaxamento das medidas.
Mas o progresso da vacinação, que permitiu maior movimentação de pessoas, bateu de frente com um desemprego alto e a inflação elevada, puxada pelo encarecimento do dólar, da gasolina, da energia elétrica e de matérias-primas.
Isso obrigou o Banco Central a aumentar os juros, com a taxa Selic já em 7,75% ao ano e expectativa de nova alta na semana que vem e de alcance de dois dígitos em 2022, restringindo com força a atividade econômica. Até meados de março, o juro básico estava na mínima histórica de 2%.
A perspectiva de continuidade desse cenário ganha um novo fator de incerteza neste fim de ano, com a nova variante Ômicron do Coronavírus, e vem gerando revisões negativas na atividade, tanto para 2021 quanto para 2022.
Produção
Do lado da produção, a agropecuária foi o destaque negativo na economia no terceiro trimestre, com queda de 8% em relação aos três meses anteriores, como consequência do encerramento da safra de soja, que também acabou impactando as exportações.
“Acabou o efeito da soja, que é a cultura que cresce neste ano. Teve a seca para afetar ainda mais”, disse a coordenadora de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis. “Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia”, acrescentou Palis, lembrando ainda que este ano é de bienalidade negativa para o café.
Esse resultado ofuscou o crescimento de 1,10% de serviços no período. O setor, que responde por mais de 70% do PIB nacional, se beneficia da reabertura da economia. Por outro lado, a indústria ficou estável no terceiro trimestre, com crescimento apenas na construção (3,90%).
“Serviços presenciais avançaram após a flexibilização de medidas de restrição. Com a inflação mais alta, as famílias estão também migrando do consumo de bens para serviços”, completou Palis.
Comércio
Em relação ao setor externo, as exportações de bens e serviços despencaram 9,80%, pesando também de forma aguda sobre o resultado do PIB, enquanto as importações de bens e serviços recuaram 8,30% na comparação com o segundo trimestre.
Do lado das despesas, o consumo das famílias aumentou 0,90% na comparação com o trimestre anterior, e o do governo cresceu 0,80%, por causa dos gastos com saúde. A Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, teve queda de 0,10% no terceiro trimestre, depois de recuar 3% no segundo.
Estimativa
A última projeção oficial do Ministério da Economia, divulgada em novembro, é de alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,10% neste ano e de 2,10% no ano que vem. Nesta quinta-feira, a Pasta considerou que mais importante que o número do terceiro trimestre é sua qualidade.
Precatórios
Ao mesmo tempo que a pressão inflacionária vem pesando cada vez mais sobre o cenário, com mais aperto monetário que deve restringir a atividade, estão no radar também questões políticas e fiscais.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, cuja votação no Senado foi adiada para esta quinta-feira, modifica as regras de quitação dessas dívidas do governo, cujo pagamento foi determinado pela Justiça, e altera o prazo de correção do teto de gastos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A proposta pretende dar margem ao Executivo para colocar em prática o Auxílio Brasil em substituição ao Bolsa Família. Além disso, compõem o cenário para 2022 as eleições presidenciais e a redução de estímulos nos Estados Unidos.
Reuters