O cenário das estradas brasileiras continua bem ruim, principalmente porque foram poucos os investimentos aplicados do ano passado para cá. Como resultado, problemas relacionados apenas à pavimentação geraram um aumento médio de 24,9% no custo operacional do transporte. É o que revela a 20ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada no último dia 26 de outubro, pela Confederação Nacional do Transporte.
Realizado em parceria com o Serviço Social do Transporte/Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest/Senat), o estudo mostra que, levando em conta as condições do pavimento, da sinalização e da geometria da via, dos 103.259 quilômetros analisados, 58,2% apresentaram algum tipo de problema em sua infraestrutura geral.
No quesito pavimento, 48,3% dos trechos investigados foram considerados regulares, ruins ou péssimos; na sinalização, 51,7% contavam com algum tipo de deficiência; e na variável geometria da via, foram constatadas falhas em 77,9% da extensão pesquisada. O levantamento da CNT-Sest/Senat abrange toda a extensão da malha pavimentada federal e as principais rodovias estaduais pavimentadas do Brasil.
Professor de Economia e Ecologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), Sergio Besserman Vianna critica: “A estrutura do setor público para lidar com infraestrutura e estradas é ineficiente e contaminada pelas distorções, principalmente, de ordem política”.
Para o economista, além disso, somente agora começa a ser esboçado um processo mais eficiente e transparente das parcerias público-privadas: “Vale ressaltar ainda que somos um país continental, que transporta cargas em caminhões a diesel. E isso não é sustentável”.
PONTOS CRÍTICOS
De acordo com a Pesquisa CNT de Rodovias, de 2015 para 2016, o número de pontos críticos nas estradas – trechos com buracos grandes, quedas de barreiras, pontes caídas e erosões – cresceu 26,6%, saltando de 327 para 414, pressionando os gastos com os fretamentos, especialmente os de produtos agropecuários.
“Esse quadro agrava consideravelmente o Custo Brasil, ou seja, a competitividade dos produtos brasileiros. Os itens agropecuários são bastante vulneráveis à reação dos consumidores ou até às barreiras comercias, caso não se apresentem de forma rigorosamente certificada, como não impactando no desmatamento e, com a toda certeza, em um futuro próximo, por terem alta intensidade de carbono no transporte ou na produção”, comenta o economista Sergio Besserman Vianna.
Na opinião do professor da PUC-Rio, “estradas mais adequadas, combustíveis sustentáveis e, principalmente, outros modais de transporte que sejam contemporâneos à inevitável transição para uma economia de baixo carbono, serão partes fundamentais da competitividade dos negócios agropecuários no Brasil”.
Sobre a elevação dos gastos com o transporte, por causa da situação das rodovias no país, o especialista salienta que eles são partes expressivas do custo Brasil, fato que aumenta as dificuldades do setor para enfrentar a atual crise econômica.
“Do ponto de vista estratégico, contudo, agora é um bom momento para aumentarmos a eficiência da nossa logística. Ao fazer isso, “limpamos” nossa infraestrutura tanto dos impactos ambientais locais quanto da dependência dos fósseis. Ninguém do setor deve ter dúvida de que o custo de emitir gases de efeito estufa, em algum momento, será precificado, tornando-se parte expressiva dos fatores de competitividade”, alerta Vianna.
BAIXOS INVESTIMENTOS
Segundo a Pesquisa CNT de Rodovias, a má qualidade das estradas brasileiras “é o reflexo de um histórico de baixos investimentos no setor”. Em 2015, o investimento federal em infraestrutura de transporte em todos os modais foi de apenas 0,19% do Produto Interno Bruto (PIB).
De acordo com a Confederação Nacional do Transporte, o valor investido em rodovias (R$ 5,95 bilhões) foi quase a metade do que o Brasil bancou com acidentes, apenas na malha federal (R$ 11,15 bilhões), no ano passado. De janeiro a setembro de 2016, dos R$ 6,55 bilhões autorizados para investir em infraestrutura rodoviária, R$ 6,34 bilhões foram pagos.
Em nota à imprensa, o presidente da CNT, Clésio Andrade, diz que “essa distorção nos gastos públicos tem causado graves prejuízos à sociedade brasileira, desde o desestímulo ao capital produtivo, passando por dificuldades de escoamento da produção até a perda de milhares de vidas”.
Pelos cálculos da Confederação, para adequar a malha rodoviária em todo o território nacional, incluindo obras de duplicação, construção, restauração e solução de pontos críticos, seriam necessários investimentos de R$ 292,54 bilhões.
“O investimento no Brasil é uma parte muito pequena do PIB. A poupança dos diferentes níveis de governo está comprometida pelo desarranjo das contas públicas e as famílias, fora que o setor privado tem baixa propensão a investir. Esse é o grande desafio do nosso país”, salienta o professor da PUC-Rio.
Ele ainda questiona: “Como investir mais, simultaneamente, combatendo nossa imensa desigualdade socioeconômica?”. “Ainda não há consenso teórico sobre porque nossas taxas de juros são tão altas e porque nossas taxas de poupança e de investimentos são tão baixas.”
Por equipe SNA/RJ