Pesquisadores da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fapesp, trabalham, desde abril do ano passado, no desenvolvimento de uma carne bovina mais saudável. Enriquecido com vitamina E, selênio e óleo de canola, o alimento apresentou uma diminuição do seu nível de colesterol.
A pesquisa foi realizada através da suplementação na ração de bois da raça Nelore com uma dose elevada de selênio orgânico durante um período de três meses de engorda. “Dessa forma, constatamos que, além de aumentar a quantidade de selênio no sangue dos animais, o teor desse mineral na carne produzida chegou a ser quase seis vezes maior do que a carne de bovinos que não tiveram a ração suplementada”, explica Zanetti.
Os primeiros resultados foram apresentados em congressos internacionais de ciência e tecnologia da carne e de produção animal na França, Turquia e Cuba, onde tiveram “excelente recepção”, como conta o professor. “Recebemos vários convites para publicar o material fora do Brasil, que não recebeu nenhum pedido de correção. Por aqui, acredito que ele será muito bem recebido”, aposta ele, responsável também por uma pesquisa anterior que promoveu o enriquecimento do leite por meio da suplementação da ração.
Ação sobre o colesterol humano
O enriquecimento do alimento também provocou a diminuição do colesterol no sangue e na carne dos animais que passaram pela experiência. Este resultado estimulou os pesquisadores a buscarem uma avaliação para descobrir se a carne bovina melhorada também seria capaz de diminuir o índice de colesterol no sangue de humanos.
Para isso, realizou-se um estudo com idosos de uma instituição assistencial do interior de São Paulo em que a carne dos bovinos suplementados foi inserida nas refeições dos 80 participantes nas mais diversas variações. Pessoas em idade avançada costumam apresentar queda da imunidade e anemia por deficiência de ferro e de proteína.
Segundo o professor, as análises dos exames ainda serão encaminhadas a uma equipe médica e o resultado final deve ser conhecido até o fim do primeiro semestre deste ano. “Observei, no entanto, que houve um aumento da disponibilidade de vitamina E e do selênio dos que consumiram a carne por mais de 45 dias”, pontua Zanetti, que explica que o selênio é considerado um importante mineral antioxidante por impedir a formação de radicais livres, auxiliar no combate infecções e aumentar a imunidade.
Validade e preço final
Outro benefício é o aumento do prazo de validade da carne em suas gôndolas, que ocorre devido ao fato de que a adição do selênio e da vitamina E, dois compostos antioxidantes, diminui a oxidação da gordura da carne. O resultado foi constatado através de análises de oxidação do produto feita através de um método chamado TBARs. “Vale observar que uma carne com gordura menos alterada e oxidada possui um sabor melhor”, observa Marcus.
Para o consumidor final, o pesquisador calcula que a suplementação aumentaria em R$ 0,20 o custo do quilo da carne. Já para o pecuarista, os ganhos ficariam na qualidade do seu produto, segundo ele, muito mais saudável. “Ainda não temos previsão de quando essa carne será comercializada no Brasil. Lá fora, o consumidor já encontra esse tipo de produto nas prateleiras. No momento, estou sendo procurado por uma grande indústria de laticínios para regularizar o leite melhorado. Para colocar no mercado a carne mais saudável, alguém precisa se interessar. E ter o registro na Anvisa, antes de tudo”, ressalta.
Equipe SNA/RJ, com informações da Agência Fapesp