Dando prosseguimento às entrevistas do Portal, sempre buscando abordar temas sensíveis e importantes para o agronegócio brasileiro, a SNA conversou com a Embrapa Soja, departamento da entidade exclusivamente dedicado às pesquisas e aprimoramento desse cultivo tão importante. Mais especificamente, foram elucidadas dúvidas sobre o processo de armazenagem da matéria prima, que pode ser determinante na logística de escoamento e na manutenção de qualidade dos grãos.
Para isso, entram na equação geração de energia, tipos de estruturas, controle orçamentário, máquinas adequadas e mecanismos de exaustão, entre outros. A Embrapa segue trabalhando para assessorar corretamente os produtores e otimizar os resultados de cada etapa.
Responderam às perguntas os pesquisadores , Francisco Krzyzanowski, José de Barros França Neto e Marcelo Alvares de Oliveira, a quem a SNA reitera o agradecimento pela atenção e esclarecimentos.
SNA – No setor produtivo do agro, é sabido que para a adequada armazenagem dos grãos de soja, existem vários tipos de armazéns. Poderia explicitar quais são eles, assim como seus custos x benefícios?
A armazenagem ideal é feita em silos ou graneleiro providos de sistemas de termometria e aeração que permitem avaliar a qualidade dos grãos em função da temperatura interna da massa de grãos e é fundamental a utilização da carta psicométrica para avaliar os possíveis horários para realizar a aeração sem comprometer o teor de umidade dos grãos. Lógico que esses sistemas têm custos, mas devem fazer parte do projeto de construção ou reforma de uma Unidade Armazenadora. Essas tecnologias são básicas atualmente para se armazenar grãos. Também todo o cuidado na entrada dos grãos em uma Unidade Armazenadora é de suma importância, como uma adequada pré-limpeza, seguida de uma secagem e posterior limpeza dos grãos já secos, não deixando que as impurezas façam parte da massa de grãos, pois elas irão prejudicar a aeração no interior do silo, comprometendo a qualidade dos grãos armazenados. Existe ainda uma armazenagem que chamamos emergencial, ou temporária em silos bolsa, entretanto cuidados com impurezas e umidade dos grãos, assim como a integridade das bolsas são de suma importância para o sucesso nesse tipo de armazenagem.
SNA – Na manutenção da qualidade do grão de soja durante o período de armazenamento é importante monitorar e controlar as variáveis físicas, químicas e biológicas, tanto dos grãos, quanto do ambiente onde eles estão sendo armazenados. Qual o tempo máximo de armazenamento, antes do embarque? Como se dá o armazenamento hermético?
Já dito anteriormente a termometria e aeração são imprescindíveis para manter a qualidade dos grãos armazenados. Outro ponto que deve ser monitorado é a presença de pragas e ou insetos na massa de grão, pois além de perdas quantitativas causam perdas qualitativa. A termometria é um grande parceiro para ajudar a monitorar a ação de pragas na massa de grão, pois geralmente esses ataques acabam ocasionando aumento de temperatura em bolsões na massa de grãos que passa a ser um alerta. Não se pode precisar tempo máximo para armazenagem. A comercialização da soja é realizada com uma umidade de 14%, entretanto para armazenar soja por mais de um ano recomenda-se que essa umidade esteja entre 10 e 11% para não perder qualidade durante esse armazenamento. Quanto mais próximo a 14% o teor de umidade da soja, menor o tempo de armazenamento sem perder qualidade. O armazenamento em silo hermético é uma prática comum na Austrália, sendo que no Brasil os silos não são herméticos. Na verdade, nos últimos anos as empresas têm construído silos muito melhores, mas ainda sem atingir a hermeticidade. A hermeticidade facilita tratamentos fitossanitários, principalmente aplicação de fosfina, além de criar um ambiente interno no silo com uma concentração menor de oxigênio com o passar da armazenagem, devido a atividade dos grãos, o que auxilia na conservação da massa de grãos.
SNA – O comportamento do grão de soja durante o período de armazenamento está diretamente relacionado à sua qualidade física, que é caracterizada pela integridade do grão quanto aos danos mecânicos oriundos do processo de colheita e de transporte. Nesse sentido, a cadeia de produção está diretamente ligada à boa qualidade do grão?
Sim. O comportamento do grão de soja durante o período de armazenamento está diretamente relacionado à sua qualidade física, que é caracterizada pela integridade do grão quanto aos danos mecânicos oriundos do processo de colheita e de transporte. Grãos com menos danos mecânicos, significa melhor qualidade durante a armazenagem. A função da armazenagem na pós-colheita é manter a qualidade dos grãos que vieram do campo, pois melhorar essa qualidade não é possível. As práticas de limpeza, secagem e armazenamento adequado irão permitir que esse grão permaneça com qualidade. Portanto um grão que chega do campo com qualidade é o ideal para que conserve essas características durante uma armazenagem que utiliza todas as técnicas já ditas anteriormente.
SNA – Que cuidados o produtor deve ter com relação a seus maquinários para que os grãos não danifiquem quando colhidos e, principalmente, para colocá-los nos armazéns?
Esse ponto já foi dito anteriormente, ou seja, quanto com mais cuidado o produtor produz o seu grão e posteriormente conduz a colheita com cuidados que diminuem os danos mecânicos nos grãos, melhor será a qualidade do seu produto, o que certamente irá refletir em um produto com melhor qualidade para ser armazenado.Máquinas colhedoras com sistema de trilha axial, quando bem operadas, podem proporcionar a colheita de grãos de soja com baixíssimos índices de danos mecânicos. Grãos de soja com elevados índices desse tipo de dano, perderão a qualidade mais rapidamente durante o armazenamento.
SNA – A tecnologia está muito presente na Agricultura de um modo geral. Como é a operação tecnológica de controle do armazenamento, por parte do produtor?
Hoje no Brasil, o armazenamento a nível de fazenda tem uma porcentagem pequena. Acredito que não passe de 15% da Capacidade Estática Nacional. As cooperativas, principalmente no Sul do Brasil e as “tradings” de grãos tem um papel de suma importância na armazenagem de grãos no Brasil. Um ponto importante é que o aumento da armazenagem a nível de fazenda iria desafogar o transporte para cooperativas e “tradings” na época da safra, o que poderia resultar em menores custos de frete para produtores e até mesmo, armazenarem para tentar comercializar seus produtos com melhores preços. Entretanto na grande maioria das vezes o produtor sabe muito bem como produzir, mas não conhecem todas as técnicas de armazenagem, e isso poderia acabar diminuindo a qualidade dos grãos armazenados a nível de fazenda. Portando maiores qualificações e mais mãos de obra treinadas para atuar na armazenagem são de suma importância para o aumento da porcentagem de armazenagem a nível de fazenda.
SNA – Os exaustores eólicos podem ser usados na armazenagem a fim de auxiliar no processo de remoção de calor e reduzir a condensação na superfície dos grãos?
Sim. Existem vários trabalhos mostrando que realmente essa tecnologia pode auxiliar em manter a qualidade dos grãos armazenados. Numa condição de armazenagem em que se utilizou toda a tecnologia de termometria e aeração de forma correta e não ocorreram problemas durante a armazenagem, podem não ocorrer diferenças entre os silos com exaustores e sem exaustores. Entretanto, em condições adversas, podem acontecer durante a armazenagem, onde não foi possível a todo momento ligar a aeração nos momentos corretos, os exaustores podem auxiliar muito na manutenção da qualidade dos grãos.
Por Marcelo Sá – jornalista/editor (MTb 13.9290)