Após dez anos da descoberta do genoma funcional do café, que foi anunciado na ocasião como um feito científico inédito realizado por brasileiros, pesquisadores de 11 países divulgaram agora o genoma completo do grão, pela primeira vez no mundo.
A variedade estudada foi a Conilon (Coffea canephora), mais utilizada na produção de blends, que corresponde a cerca de 30% do mercado internacional. Misturado à Coffea arabica, é o tipo mais consumido no Brasil e no exterior.
O pesquisador Alan Andrade, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, participou do consórcio internacional de cientistas formado pela Alemanha, Austrália, Canadá, China, Espanha, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia e Itália. Ele também integrou a equipe brasileira de 2004, na descoberta do genoma funcional.
“A partir do sequenciamento do genoma completo do café será possível melhorá-lo geneticamente falando. E, se antes demorávamos cerca de 30 anos para gerar uma nova variedade do grão, agora esse tempo pode ser reduzido para uma década”, informa Andrade.
Ele ainda explica que, diferentementemente do funcional, o genoma estrutural permite aos cientistas conhecer a ordem dos genes dentro das sequências de DNA e das regiões intergênicas que compõem o genoma, o que não era possível observar no primeiro caso.
“O novo sequenciamento permitirá desenvolver várias características relevantes para uma mesma planta, no que diz respeito à precocidade, produtividade, resistência a pragas e doenças e tolerância a mudanças climáticas.”
Simplificando, o especialista ressalta que o genoma estrutural do café permite gerar uma espécie de radiografia de cada planta.
“Podemos comparar o novo sequenciamento genético do grão aos testes de DNA realizados em seres humanos para descobrir qual é a propensão do indivíduo de ter diabetes ou câncer, por exemplo.”
Conforme Andrade, a partir do genoma estrutural do café, “temos ferramentas moleculares e genômicas necessárias e fundamentais para ampliar a rapidez do melhoramento genético e prevenir quanto a prováveis problemas que venham a prejudicar o cultivo do grão”.
LEGADO
Ainda que superada, a importância da descoberta do genoma funcional do café, em 2004, foi destacada pelo pesquisador.
“O sequenciamento funcional do grão desenvolvido no Brasil, há dez anos, foi fundamental para que chegássemos ao feito inédito de agora, porque nossos dados foram utilizados para dirimir os erros do genoma estrutural.”
A descoberta anterior resultou, na época, no maior banco de dados para o café no mundo, com 200 mil sequências de DNA. Atualmente, já possui mais de 30 mil genes identificados e está disponível para 45 instituições que integram o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), distribuídas em 14 Estados brasileiros.
Mesmo sendo um arquivo público, o banco de dados do genoma estrutural do café está guardado na França, mas logo deve ser disponibilizado no Brasil a todos os interessados.
“Primeiramente, precisamos montar uma estrutura com um servidor, porque não temos condições de abrir o banco de dados para 200 pesquisadores ao mesmo tempo, por exemplo. A expectativa é de que ele esteja disponível em nosso país até o final deste ano.”
CAFÉ ARÁBICA
Segundo o pesquisador, o próximo passo será descobrir o sequenciamento do genoma do café arábica, que já vem sendo estudado por dois consórcios internacionais, incluindo cientistas do Brasil, Estados Unidos e França.
“Desta vez, além de mim, temos mais dois pesquisadores brasileiros: Douglas Silva Domingues, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), e Luiz Filipe Protasio Pereira, da Embrapa Café. Este trabalho vem sendo realizado em parceira com a empresa Nestlé.”
Conforme Andrade, várias plantas já genotipadas em escala genômica estão sendo testadas em campo há quase quatro anos, na Embrapa Cerrados, no município de Planaltina (DF). Ao todo estão sendo avaliadas mais de mil plantas no que se referem à produção e às demais características agronômicas.
A publicação completa do sequenciamento do genoma estrutural do café está disponível no site da Revista Sciente (www.sciencemag.org).
Por equipe SNA/RJ