Páscoa desse ano reflete alta de preços nos alimentos

Colheita do cacau, um dos ingredientes mais importantes para fabricação do chocolate/Foto: Pixabay

 

Causas, análises e alternativas

Tradicional celebração cristã que reúne famílias em almoços fartos, a Páscoa proporcionará um desafio aos consumidores. Em 2024, os alimentos que costumam estar nas mesas brasileiras nesta data estão mais caros, em função de fenômenos climáticos que afetaram diversas cadeias produtivas. O El Niño desestabilizou o regime de chuvas em algumas regiões, afetando safras e colheitas, como o arroz, que teve um aumento de 30%.

Em alguns casos, essa subida ficou na casa dos 40%, como o azeite e a batata inglesa. Esses itens acompanham uma das receitas mais preparadas no período, o bacalhau. Esse peixe tão procurado, ironicamente, praticamente não sofreu alteração no acumulado dos últimos 12 meses de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Os pescados, como um todo, subiram cera de 3%.

Alguns especialistas esperavam alta mais expressiva pois, além da abstinência de carne vermelha estimulada pela tradição católica da quaresma, a procura por pescados naturalmente maior após o Carnaval se somou ao fato de que operações do Ministério da Agricultura de liberação de cargas terem sido transferidas para as fronteiras, em 2021.

Desde então, passaram a ocorrer mais atrasos nesse trabalho, sem que os preços, dessa vez, espelhassem tal descompasso. Um dos fatores que ajudaram a contrabalançar o valor do bacalhau e outros peixes importados foi a queda da taxa de câmbio. No intervalo de 12 meses entre fevereiro de 2023 e fevereiro deste ano, a moeda americana recuou 4,3% – o dólar comercial está hoje abaixo de R$ 5,00.

Já o camarão, como está em época de defeso, também está mais caro. Entre os meses de janeiro e abril, é proibido capturar, transportar, armazenar ou comercializar as espécies rosa, sete-barbas, santana e barba-ruça. Com menos oferta e demanda aquecida, os preços sobem.

Talvez por isso, outras espécies têm atraído mais a atenção dos consumidores. Os pequenos pelágicos, como sardinha, cavalinha e sardinha-laje, por exemplo, são as opções mais acessíveis. A tilápia, outra espécie que está agora com preços um pouco mais baixos do que nos meses anteriores, é também uma boa alternativa, segundo os comerciantes.

 

Chocolate, uma estrela da Páscoa e do agro brasileiro

O chocolate é fabricado a partir de três ingredientes essenciais nos quais o Brasil é grande produtor: leite, cacau e açúcar. Neste último, o Brasil é líder mundial em números de produção, com 20% do total, sendo São Paulo o estado responsável por 63% do cenário nacional. Estimativas de mercado apontam para uma produção de ovos e itens de Páscoa superior a 12,5 mil toneladas de produtos neste ano, em alta de 15% sobre as 10,8 mil toneladas de produtos da Páscoa de 2023.

Cultivo da cana de açúcar. Foto/ https://pixabay.com/pt/users/jamesdemers-3416/

O aumento reflete a aposta do setor na intenção de compra do consumidor, considerando o cenário econômico positivo de inflação controlada, PIB em crescimento e nossas indústrias mais preparadas, segundo dados da   Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoins e Balas (Abicab). A entidade ainda projeta que, em 2023, a produção de chocolate no Brasil cresceu 6%, com um total de 805 mil toneladas. O consumo per capita também aumentou 8,3% no período, para 3,9 quilos por pessoa em 2023.

Mesmo assim, estudo da empresa Horus identificou aumento médio de preços de 11% nas barras de chocolates, de 10,5% nos chocolates e bombons e de 1,8% nos ovos de Páscoa. No entanto, o relatório salienta que o aumento de preço da categoria ovos foi menor que o dos chocolates e das barras. A depender do peso do ovo e a marca, a alta chegou a atingir a marca de 26% nos dois primeiros meses do ano. Para realizar a pesquisa, a Horus levantou os preços pagos pelo consumidor final por meio da análise de cerca de 500 milhões de notas fiscais.

Novamente, o El Niño explica esse cenário, tendo provocado seca nas lavouras de cacau de Gana e Costa do Marfim, principais produtores mundiais dessa comodity. Com menos oferta, os preços subiram desde o ano passado, numa tendência que deve se manter pelo menos até o segundo trimestre de 2024.

 

Um balanço de otimismo e crescimento

Apesar de alguns revezes e ocorrências de força maior, mesmo com preços maiores, a cadeia produtiva brasileira se manteve firme e o comércio está otimista, à espera de um faturamento total de R$ 3,44 bilhões em vendas relacionadas à Páscoa. Isso representa um crescimento de 4,5% na comparação com o ano passado, já descontada a inflação.

A estimativa foi divulgada na primeira quinzena de março, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Se confirmada a expectativa, será o quarto ano seguido de alta nas vendas. A trajetória de crescimento que vinha sendo observada desde 2016 foi interrompida apenas em 2020, ano em que se iniciou a pandemia de covid-19, que afetou severamente toda a economia.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor (MTb 13.9290)

 

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