Parceria público-privada gera cinco novas cultivares de soja para o Cerrado

Os materiais são opções valiosas para o agricultor ao aliar alto teto produtivo e estabilidade à resistência a pragas e doenças e ciclo adequado às condições de cada região do Cerrado
Novas cultivares de soja aliam alto teto produtivo à resistência a pragas e doenças e ciclo adequado às condições de cada região do Cerrado

 

Pesquisadores da Embrapa devem oferecer ao agricultor, na safra 2014/2015, cinco novas cultivares de soja específicas para o Cerrado. Entre elas estão materiais com os eventos de transgenia Cultivance e Intacta (com RR e Bt). Todas são desenvolvidas em parcerias com as fundações Cerrado e Bahia.

Os novos produtos buscam atender às demandas dos produtores e às exigências dos mercados nacional e internacional de soja. Os materiais são opções valiosas para o agricultor ao aliar alto teto produtivo e estabilidade à resistência a pragas e doenças e ciclo adequado às condições de cada região do Cerrado. A perspectiva é que nos próximos anos sejam lançadas variedades com outros eventos de transgenia que facilitem o controle de ervas daninhas e insetos-praga.

A Embrapa já disponibiliza nove materiais convencionais e três transgênicos (RR) de soja para o Cerrado, também desenvolvidos em parceria com as fundações Cerrado e Bahia. A abrangência de adaptação das cultivares vai do noroeste mato-grossense ao centro-oeste mineiro e oeste baiano.

Cultivada inicialmente apenas no Sul do Brasil, a soja foi a primeira cultura a impulsionar o desenvolvimento agrícola do Cerrado, a partir da década de 1970. Hoje, a agricultura no bioma é responsável por mais de 60% da produção total da leguminosa no Brasil – 86 milhões de toneladas na safra 2013/2014, de acordo com a última previsão da Conab, divulgada em junho. A produtividade média (3,04 toneladas/hectare) supera a nacional (2,64 toneladas/hectare), segundo dados do IBGE. Ao oferecer ao mercado cultivares mais produtivas e adaptadas ao Cerrado, a Embrapa tem importante papel na expansão da cultura no Bioma.

 

PESQUISA LANÇOU 50 VARIEDADES PARA OS CERRADOS

Boa parte da tropicalização da soja no país foi desenvolvida pela Embrapa e seus parceiros, que direcionaram o trabalho de melhoramento genético visando à adaptação da cultura às condições ambientais da savana brasileira. Da variedade Doko, a primeira adaptada às condições de Cerrado, lançada em 1980, a cultivares altamente produtivas e com resistências múltiplas a nematoides, como a BRS 7980, lançada em 2014, um longo caminho de pesquisa e evolução foi percorrido.

O trabalho é sistematizado pelo programa de melhoramento genético de soja da Embrapa, que tem a liderança nacional da Embrapa Soja (Londrina, PR), com participação da Embrapa Produtos e Mercado (Brasília, DF). Cerca de 500 profissionais atuam no programa, com o envolvimento de diversas unidades de pesquisa e instituições parceiras.

No entanto, o braço que promove o desenvolvimento de cultivares para as diferentes regiões do Cerrado brasileiro é a Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), onde as ações são coordenadas pelo pesquisador Sebastião Pedro. Dos campos experimentais de Planaltina, já foram lançadas cerca de 50 variedades nos últimos 30 anos. Sebastião Pedro explica a vantagem de campos experimentais da Embrapa no coração do Cerrado:

– É o local em que os fatores extratificadores do ambiente mais se correlacionam com as outras regiões produtoras do bioma. É por isso que a chance de os materiais selecionados aqui darem certo em outras regiões é maior. Temos confirmado isso pelas pesquisas realizadas no programa de melhoramento – pontua.

O pesquisador diz que o programa de melhoramento genético conduzido pela Embrapa Cerrados é inovador.

– Não trabalhamos apenas com genética, mas com genética e ambiente.

 

ATÉ 14 ANOS DE PESQUISA PARA OBTER UMA CULTIVAR

Para garantir a seleção de materiais demandados pelos produtores do Cerrado, são realizados ensaios regionais nos Cerrados de Goiás, Mato Grosso, Bahia, Tocantins, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, Roraima e Amapá, o que corresponde a um raio de atuação de dois mil quilômetros. Os ensaios de competição (preliminares e finais) contaram, na safra 2013/2014, com 47 mil parcelas. Outros 33 ensaios em rede são conduzidos por parceiros.

Em todos esses locais, também são realizados estudos de fitotecnia, conduzidos pelo pesquisador André Pereira, para avaliar o comportamento dos materiais quanto a arranjo de plantas e populações, entre outros aspectos.

As linhagens que darão origem às novas cultivares devem alcançar maiores tetos de produtividade, sem abrir mão da multirresistência a nematoides e fungos do solo e da arquitetura de planta que favoreça o manejo da cultura.

– Para lançar um produto competitivo, é preciso ter visão estratégica e de longo prazo. Não podemos errar, pois uma cultivar de soja leva até 14 anos de pesquisa para ser desenvolvida e o cenário do sistema produtivo muda a cada ano – aponta o pesquisador.

 

APROVAÇÃO PELOS PARCEIROS

Em visita aos experimentos em janeiro de 2014, representantes de empresas sementeiras que compõem a Fundação Cerrados conheceram materiais precoces e superprecoces, convencionais e transgênicos com potencial para lançamento nos próximos anos agrícolas. Os principais mercados dessas empresas são Mato Grosso, Bahia, Tocantins, Maranhão, Piauí e Goiás.

– Antes, não havia materiais atualizados com as necessidades de mercado. Hoje, o mercado busca cultivares com tipo de crescimento indeterminado, com arquitetura mais ereta e ciclos mais precoces. O programa com a Embrapa está se encaixando nesse perfil. Esperamos enquadrar muitos materiais – disse o diretor técnico da Fundação Cerrados, Ilson Alves. Ele acrescenta que existem materiais prontos para serem lançados e que deve entrar bem no mercado, inclusive no sudoeste goiano, que está “carente de variedades”.

Os materiais que mais chamaram a atenção dos sementeiros aliam arquitetura ereta de planta a maior precocidade, elevado teto produtivo e resistência a doenças.

– É o que o mercado quer – disse João Batista Viana, técnico da Produtiva Sementes, de Formosa (GO).

Stênio Rapachi, da Sementes MR, de Luziânia (GO), lembrou que os materiais da Embrapa eram largamente comercializados no país até a chegada do evento RR, quando perderam mercado.

– Com a arquitetura moderna de planta desenvolvida no programa de melhoramento, está começando a crescer a demanda por sementes da Embrapa. Há materiais novos que são bastante promissores – destacou.

A empresa multiplica sementes Embrapa em cerca de 600 hectares.

– A perspectiva de aceitação para os materiais que estão chegando é boa, principalmente os que visam ao mercado de Mato Grosso – explica. Segundo os sementeiros, a demanda para aquele Estado é por cultivares convencionais para o período de safra e de transgênicas para a safrinha.

 

PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA

Sebastião Pedro ressalta a importância da parceria público-privada que tem dado sustentação ao programa. Ele explica que, muito além de competir no mercado de cultivares de soja, o principal legado do trabalho é a oferta de sementes de alta qualidade genética.

– O papel da Embrapa é fornecer tecnologia. Quem produz a semente Embrapa está contribuindo para manter o preço em equilíbrio no mercado. Isso permite garantir a sustentabilidade do agronegócio brasileiro – observa.

O gerente-adjunto de Produto da Embrapa Produtos e Mercado, Márcio Cota, explica o papel de cada parte na parceria para fazer as sementes chegarem aos produtores.

– Além de contribuir durante o desenvolvimento das cultivares, investindo e orientando o programa de pesquisa conforme suas necessidades, as empresas parceiras têm o papel de multiplicar as sementes em volume suficiente para atender à demanda dos agricultores que desejam produzir soja com tecnologia Embrapa. A Embrapa produz o material básico com qualidade genética que permita a produção de várias gerações pelos parceiros, nas diversas categorias de semente, e fornece aos associados das fundações de acordo com o planejamento de atuação no mercado.

 

Fonte: Rural BR

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp