Pantanal: em período proibido, nove focos iniciais lideraram destruição

De um total de 18.259 focos de calor de 1º de janeiro a setembro no Pantanal brasileiro, 11.284 (62%) foram registrados em Mato Grosso e 6.975 (38%) em Mato Grosso do Sul, segundo análise do Instituto Centro de Vida (ICV), com base em dados da Global Emissions Fires Database, da Nasa.

Da área queimada, dois milhões de hectares eram de terras em Mato Grosso, que abriga 35% do bioma, ou 5.4 milhões de hectares. Além disso, 72% dessa área é ocupada por fazendas registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), 10% por unidades de conservação, 1% por terras indígenas e cerca de 1% por assentamentos.

Vinícius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do ICV, afirma que, ao longo de quase 50 dias do período proibitivo de queimadas no Pantanal (que neste ano começou em 1º de julho), apenas nove pontos iniciais de incêndio foram responsáveis por queimar 324.000 hectares, ou 67,50% da área atingida no período.

Cinco deles foram em imóveis inscritos no CAR, três em áreas não cadastradas e um em reserva indígena. O ICV não realiza o mesmo levantamento para o Mato Grosso do Sul.

“Não quer dizer, porém, que o fogo foi causado de forma criminosa nessas áreas. Para afirmar isso, é necessário fazer uma perícia de campo, o que depende dos órgãos fiscalizadores”, afirmou Silgueiro. “Mas foram cinco focos em zona rural no período proibitivo, e há 3.260 imóveis registrados no CAR no Pantanal mato-grossense”.

Para Silgueiro, é necessário fiscalizar os crimes ambientais e criar uma estratégia coerente tanto de combate ao fogo como de definição do período proibitivo de queimadas, melhor alinhada com o monitoramento das condições climáticas. “É importante o agronegócio cobrar o Estado para que faça essa responsabilização e tenha um planejamento de combate ao fogo”, disse ele.

Causas

Silgueiro lembra que um dos fatores que levaram à situação atual foi a seca severa, que fez com que o rio Paraguai atingisse o nível mais baixo desde os anos 1960.“Estudos apontam que, com a aceleração do desmatamento da Amazônia, o período de chuvas tem encurtado e as secas se tornaram mais severas nas regiões central e Sudeste do país”.

O desmatamento afeta o fenômeno conhecido como rios voadores, em que a umidade da floresta origina uma grande coluna de água, transportada pela América do Sul.

Outra causa apontada pelo especialista para o descontrole no número das queimadas é a sensação de impunidade de quem faz uso do fogo de maneira ilegal. As queimadas são proibidas na época de estiagem, quando a vegetação seca vira um barril de pólvora, e seus responsáveis podem ser punidos pela Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) com um a quatro anos de reclusão.

De 1º de janeiro a 14 de setembro, as multas aplicadas pelo Ibama por infrações relacionadas à vegetação, como desmatamento e queimadas ilegais, caíram 22% ante o mesmo intervalo de 2019. Em Mato Grosso, foram registradas 173 autuações, 52% menos que um ano antes, segundo a BBC News.

Ocorrências

O impacto do fogo no Pantanal em Mato Grosso também foi sem precedentes nas Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs) neste ano. Os dados do ICV mostram que, de janeiro a setembro, foram detectados 299 focos de calor em terras indígenas no Pantanal. Em 2019 foram nove, e em 2018, nenhum.

Nas unidades de conservação, foram 696 este ano, contra 19 no ano passado. Um deles ocorreu no Parque Estadual Encontro das Águas, o maior refúgio de onça-pintada das Américas, que teve mais de 92.000 hectares atingidos até 13 de setembro, 85% da sua área total.

Segundo Daniella Bueno, da Acrimat, ainda que seja originado pela ação do homem, nem sempre o fogo é criminoso. “Existe o fogo frio, que é feito para limpeza da pastagem, usado entre dezembro e abril. É um fogo controlado, previsto no Código Florestal”.

Daniela observa que a perícia do Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional identificou a queima de pastos causada pelo fogo proveniente de raízes de árvores de onde foi retirado mel de abelha e de máquinas agrícolas, usadas até mesmo no combate aos incêndios.

 

Fonte: Valor Econômico

Equipe SNA

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