Pacto com México ‘divide’ arroz e feijão

Com o desejo de abocanhar uma fatia dos US$ 320 milhões anuais gastos pelo México com importações de arroz, agricultores e empresas brasileiras comemoraram o anúncio feito no fim de semana pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, de que aquele mercado será aberto para o cereal beneficiado do Brasil.

Mas, ao mesmo tempo, a decisão foi um balde de água fria na cabeça dos produtores de feijão, já que os mexicanos exigiram, em contrapartida, autorização para vender sua leguminosa ao mercado brasileiro.

Mesmo para os arrozeiros, que normalmente reclamam dos baixos preços domésticos, o que foi recebido como uma boa notícia tem limitações.

Estudo realizado pela Euromonitor Internacional a pedido da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) mostra que, em 2016, o México importou 929.000 toneladas de arroz, sendo que 88.800 toneladas eram de arroz em casca dos Estados Unidos, cujo acordo comercial com o vizinho permite a comércio com tarifa zero.

Naquele ano, o segundo maior fornecedor externo de arroz para o México foi o Uruguai, que também pode enviar ao parceiro arroz em casca com a tarifa zero devido a um acordo assinado entre ambos em 2004.

O Brasil já pode vender arroz em casca ao México, mas não o faz, em parte, porque tem de pagar tarifa de 7,2%, e de acordo com o novo acordo também haverá taxa para o beneficiado, não divulgada.

Do total importado pelo México em 2016, US$ 214 milhões foram de arroz em casca, US$ 99 milhões de branqueado ou semi branqueado, US$ 8 milhões de quebrado e US$ 1 milhão de descascado.

Segundo o estudo da Euromonitor, que foi divulgado no ano passado, o aumento médio do mercado mexicano de arroz será de 1,5% ao ano até 2020, levando em consideração o crescimento da população.

Apesar da barreira competitiva imposta pelas variações tarifárias, a diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Andressa Silva, disse que a abertura do mercado mexicano para o arroz beneficiado representa uma grande conquista.

“Em 2012, quando começamos o convênio com a Apex, mapeamos que o México é um grande consumidor de arroz e produz apenas 20% de sua demanda. É uma oportunidade para mostrarmos a qualidade do produto industrializado brasileiro”.

A investida para conquistar os mexicanos começou em 2013, e no ano seguinte o Brasil conseguiu o sinal verde daquele país para o arroz em casca. Mas nada foi exportado até agora, em razão do diferencial tarifário. “De lá para cá, o México dificultou as negociações envolvendo o arroz beneficiado”, afirmou Andressa.

Primeiro, pediu uma análise de risco de pragas, o que não é usual para produtos beneficiados. A Embrapa realizou um estudo e entregou. Depois, exigiu um relatório sobre as condições das indústrias nacionais, o que também é incomum.

“O Ministério da Agricultura encarou como barreira fitossanitária, mas entregamos o parecer. Os mexicanos sentaram sobre o relatório por três anos”, contou a diretora da Abiarroz.

A situação melhorou em 2017, quando Bivanilda Tapias se tornou adida agrícola brasileira na cidade do México e redobrou os esforços de negociação com o governo local. No ano passado, o então presidente Michel Temer esteve no país e fomentou a ideia da permuta entre arroz e feijão.

“Em fevereiro, a ministra Tereza Cristina recebeu o setor e entendeu nossas pautas. A partir daí, a embaixada brasileira voltou a intensificar as negociações no México”, disse Andressa, acrescentando que o próximo alvo será a China.

O problema é que, desde que Temer colocou a ideia de permuta no prato, a cadeia produtiva do feijão sequer foi consultada pelo Ministério da Agricultura em relação ao papel do segmento na barganha, ainda que o novo acordo preveja tarifa de 10% sobre a leguminosa mexicana.

“Essa notícia contraria tudo o que pretendemos, que é exportar mais e não receber concorrentes”, disse Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe).

O dirigente aproveitou a deixa e também reclamou sobre o fato de que ninguém da área foi convidado pelo ministério para participar da comitiva brasileira que está na Ásia, de onde a ministra confirmou o acordo com os mexicanos.

De qualquer forma, Lüders ressaltou que a barganha fechada não terá efeitos deletérios no mercado brasileiro porque o México tem oferta ajustada de feijão e exporta pouco.

“Acho que eles podem nos oferecer feijão preto, mas a Argentina já faz isso estando mais perto e com tarifa zerada em função do Mercosul. Além disso, especificamente nesta temporada, teremos uma grande produção de preto, pelo que indicam os números de plantio da segunda safra (o feijão tem três safras) e provavelmente não precisaremos de importação”, declarou o presidente do Ibrafe.

 

Valor Econômico

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