Paçoquinha, geleia de umbu e mel diversificam exportação além da soja

Por Mauro Zafalon

O Brasil é imbatível nas exportações de soja. As receitas deste ano poderão chegar a US$ 45 bilhões. A Balança Comercial brasileira cresce continuamente, e o País exporta muito, mas com receitas provenientes de poucos produtos. É preciso explorar o mercado externo com novos itens.

A demanda externa é ampla e variada, mas o desafio é atingir o consumidor e entrar diretamente na cadeia de consumo deles, afirmou Lígia Dutra, superintendente de relações internacionais da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Para ela, a falta de inserção nos mercados externos faz com que o Brasil exporte cada vez mais itens menos processados. O agronegócio brasileiro precisa se internacionalizar e ter mais espaço lá fora, inclusive em mercados novos.

“Não temos como olhar para o mundo sem olharmos para os países da Ásia, com destaques para China, Japão, Coreia do Sul, Malásia, Indonésia e Vietnã”, disse Dutra.

A capacidade nacional de exportação, no entanto, vai depender de uma profissionalização. Mesmo assim, não é fácil. Todos os produtores mundiais querem vender para esses mercados, devido à escala e à variedade de produtos adquiridos por eles.

Lista

Para sair da dependência de apenas alguns produtos no rol das exportações, como a soja, e diversificar as vendas externas, Dutra lista uma série de produtos brasileiros que começam a ganhar força e têm potencial no mercado externo.

Entre eles, frutas frescas e secas, hortícolas, amendoim, gergelim, feijão, mel e açaí. O País, porém, ainda está longe dos concorrentes nesses setores.

Variedade

Os Estados Unidos, por exemplo, um dos grandes competidores do Brasil, devido à similaridade das exportações, perde na soja, mas ganha em muito na diversificação da Balança Comercial.

A exportação anual de frutas do Brasil está próxima de US$ 900 milhões nos últimos anos. A dos Estados Unidos atinge US$ 5.8 bilhões. Os americanos são fortes também nas vendas externas de vegetais frescos e processados. Eles obtêm US$ 5.2 bilhões por ano com esses itens.

Dutra diz que é importante o País ampliar as exportações desses produtos porque eles concentram mão de obra intensiva, geram riqueza e renda para pequenos produtores, além de elevar o IDH, índice que mede quesitos de saúde, educação e renda.

Agricultura familiar

Para a representante da CNA, essa evolução é demorada, mas muitas associações e empresas estão se voltando para produtos vindos da agricultura familiar.

O programa AgroBrazil, da CNA, busca mercado, encontra compradores e facilita a logística. O Sebrae atua na gestão de empresas, indicações geográficas e embalagens. Já o Senar cuida da produção, principalmente levando em consideração o padrão internacional.

As cooperativas têm desempenhado um papel importante para agrupar esses produtores, segundo a superintendente da CNA. As exportações têm elevados custos, que vão de impostos a crédito e certificações.

Além disso, é necessária uma logística para administrar os pequenos volumes, vindos de muitos produtores. O papel das cooperativas é preponderante.

Público-alvo

As opções são diversas, e a gama de produtos é longa. Vão de amendoim e seus derivados a geleias de frutas tropicais e mel. O importante é descobrir o consumidor ideal para eles.

A tradicional paçoquinha brasileira atrai os chineses. Já a geleia de umbu caiu nas graças dos alemães. Embora a Europa seja especializada em geleias, o produto brasileiro, oriundo de uma cooperativa de mulheres e de pequenos produtores do sertão da Bahia, alcançou os supermercados do país europeu.

Agregação de valor

Na avaliação de Dutra, o Brasil precisa aproveitar também a qualidade de seus produtos. O mel brasileiro é superior ao de outros países. Quando vendido a granel, essa qualidade desaparece, uma vez que é misturado a produto de outras origens. “É necessária uma agregação de valor”, disse ela.

Estudo de mercado

As receitas com exportações fora dos grandes grupos, como grãos e carnes, ainda são pequenas, mas as possibilidades se apresentam infinitas, segundo a superintendente da CNA. “É preciso estar lá, conhecer o mercado e se antecipar às mudanças de tendências de consumo”.

Dutra cita o exemplo da China. O país está se abrindo a produtos do Ocidente, principalmente ao leite.

“É preciso estudar e aproveitar as necessidades de cada região, com produtos específicos. Enquanto os asiáticos elevam consumo devido à renda maior, os europeus olham para fatores sociais, que incluem sustentabilidade e agricultura familiar”.

“Em todos os mercados, no entanto, a qualidade da mercadoria e os protocolos fitossanitários fazem parte dessas negociações”, afirma Dutra.

 

Fonte: Folha de S. Paulo

Equipe SNA

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