O mercado de ovos no Brasil está em franco crescimento, após registrar alta de 6,1% na produção em 2015 sobre o ano anterior, saltando para 39,5 bilhões de unidades, conforme dados da Associação Brasileira de Proteína Animal. O cenário também melhorou bastante nos últimos tempos, principalmente depois que cientistas atestaram que ele faz bem à saúde, desde que não seja consumido com exageros, assim como qualquer alimento. Isto tudo tem colaborado para que o ovo, ainda segundo a ABPA, esteja presente em 98% dos lares brasileiros, atrás apenas do frango, que é consumido em 99% dos domicílios no País.
Na hora de comprá-lo nos supermercados e armazená-lo na geladeira, uma das preocupações do consumidor é com a casca do ovo: se ela é resistente ou não, e se está livre de contaminação, o que garantiria maior vida útil na prateleira ou em casa. Saiba que a aplicação da nanotecnologia pode possibilitar a qualidade necessária do produto, a partir da elaboração de revestimentos protetores feitos de nanopartículas. É o que busca um grupo de pesquisadores da Embrapa Aves e Suínos (SC), por meio do projeto Nanovo.
“Pelas nanopartículas de revestimento, é possível reduzir a contaminação microbiana e melhorar a permeabilidade da casca do ovo, diminuindo a deterioração interna, favorecendo maior tempo de armazenamento do produto, mantendo suas propriedades nutritivas”, explica a pesquisadora Helenice Mazzuco, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e coordenadora do estudo.
“Com o revestimento, o tempo de prateleira ou vida útil dos ovos poderá ser ampliado e sem necessidade de refrigeração, garantindo valor agregado ao produto com valorização de toda a rede de varejo e distribuição porque oferecerá economia de energia”, explica o analista Francisco Noé da Fonseca, responsável pelo desenvolvimento e avaliação do produto.
REVESTIMENTO
Analista da Embrapa Suínos e Aves e integrante do projeto Nanovo, Francisco Noé da Fonseca explica que, quando a galinha põe o ovo, ele vem recoberto por uma película que o protege do meio externo, mas a lavagem realizada, durante o processamento, remove esta barreira natural, deixando o ovo sensível ao ambiente externo, sobretudo à perda de massa e contaminação microbiana.
“Neste sentido, a ideia é desenvolver este revestimento do ovo, buscando agregar mais propriedades à casca, como resistência a pequenos impactos, que podem danificar os ovos, quanto à ampliação do tempo de prateleira”, diz Fonseca, que é responsável pelo desenvolvimento e avaliação do produto.
Em entrevista à equipe SNA/RJ, ele ainda comenta que “em um primeiro momento, a desvantagem desta tecnologia seria o seu custo, pois o ovo vai se tornar um pouco mais caro inicialmente; por outro lado, acredita-se que este revestimento favorecerá um melhor aproveitamento da produção devido à diminuição das perdas (durante o processamento e distribuição) e a maior durabilidade do ovo, o que compensaria o investimento na sua utilização”,
O analisa também defende que “um ovo mais resistente pode ser interessante quando se pensa em expandir a distribuição da produção para locais geograficamente distantes, como região Sul–Norte, e também oportuniza a exploração de novos mercados (exportação)”.
Helenice destaca que a aplicação de revestimentos em alimentos já é uma prática muito utilizada pela indústria alimentícia, com o objetivo de prolongar a vida útil dos produtos, especialmente os mais perecíveis. Um exemplo é a aplicação de cera em frutas cítricas ou maçãs, que além de proteger, melhora seu aspecto deixando-o mais atraente (brilhante) ao consumidor, e podendo ser consumido sem risco à saúde.
“Com a nanotecnologia, novas embalagens e revestimentos viraram alvo de pesquisa para incrementar a proteção e melhorar o aspecto de alimentos”, reforça a pesquisadora.
A PESQUISA
Na pesquisa da Embrapa, que começou em março do ano passado, vários revestimentos vêm sendo desenvolvidos e testados, para avaliação das propriedades do produto nanotecnológico e as melhorias que oferece na qualidade de ovos comerciais.
“No momento, o projeto ainda está na etapa de desenvolvimento da formulação, na qual tem sido testados diferentes materiais – já utilizados em outros setores como indústria alimentícia e farmacêutica –, de modo a se obter um produto que confira mais qualidade ao ovo”, informa Francisco Noé da Fonseca, analista responsável pelo desenvolvimento e avaliação do produto.
Um dos recobrimentos tem como base um polímero biodegradável, bastante usado pela indústria farmacêutica e de alimentos. Ele é feito de nanopartículas que oferecem um filme mais resistente à casca do ovo, reduzindo sua permeabilidade.
Os cientistas envolvidos com o projeto Nanovo também observaram maior resistência à quebra de casca. Após certa compressão, a película protegeu o ovo do impacto, sem comprometer a parte interna. A pesquisa segue com a etapa de ensaios microbiológicos e de qualidade.
DESAFIOS
Para Fonseca, “o maior desafio tem sido conseguir achar uma formulação que traga o máximo de incremento ao ovo, seja factível economicamente para o setor produtivo, e, consequentemente, impacte de forma positiva na cadeia produtiva de ovos de mesa do País”.
Sobre a chegada desta tecnologia à indústria e ao consumidor, ele conta que, recentemente, foi estabelecida uma parceria com uma empresa de insumos nanotecnológicos, que irá escalonar e disponibilizar o produto ao mercado, e uma empresa de máquinas para processamento de ovos, que irá delinear o aparelho de aplicação do revestimento e validá-lo.
“Estamos finalizando a triagem dos componentes da formulação para iniciarmos, em breve, os estudos de armazenamento em longo prazo, no sentido de verificar a faixa de ampliação do tempo de prateleira dos ovos. Acreditamos que, até o fim de 2017, já teremos uma formulação e um sistema de aplicação disponível no mercado”, ressalta o analista.
Por equipe SNA/RJ