ouça o texto – Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290) marcelosa@sna.agr.br
Renovação de ânimos e das lavouras
Após um ciclo de colheitas mais modestas e intempéries da natureza que mobilizaram produtores, causando apreensão nas lavouras, os ânimos começam a se renovar com as previsões para 2024/2025. A chegada da primavera marca também o começo do fenômeno La Niña, que deve aumentar o volume de chuvas e devolver a umidade e o solo verde ao Centro – Oeste, região mais castigada por meses de calor, estiagem e incêndios. O cerrado sofreu com essa combinação de fatores, mas é um bioma acostumado a períodos mais secos e de altas temperaturas. O La Niña pode trazer uma barreira natural que bloqueia, com as chuvas, a propagação de chamas que assolaram o país.
Essa perspectiva melhorou ainda mais com a estimativa, feita pela Conab essa semana, de que a próxima safra de grãos 2024/25, que começará a ser plantada neste mês, tem potencial para atingir 326,9 milhões de toneladas, alta de 8% em relação à temporada anterior. Se confirmado, o número seria um novo recorde da série histórica. A notícia foi recebida com confiança e cautela, já que a irregularidade das chuvas trazidas pelo La Niña é fator decisivo na escolha dos produtores em termos de datas, com muitos podendo postergar o plantio enquanto a estiagem persistir.
Na safra 2023/24, encerrada há pouco, a produção de grãos nacional atingiu 302,2 milhões de toneladas, de acordo com a estatal. A área total cultivada deverá crescer 2,1%, passando de 79,7 milhões de hectares para 81,4 milhões de hectares. As apostas se concentram no protagonismo da soja, que, mesmo com a cotação longe dos melhores dias, deve puxar o desempenho da nova safra de grãos após a estiagem e confirmar seu status de estrela do agronegócio brasileiro. Com a recuperação das principais regiões produtoras, a Conab projeta uma colheita de 166,28 milhões de toneladas, incremento de 12,82% sobre as 147,4 milhões de toneladas produzidas em 2023/24. A área plantada total deve crescer e chegar a 47,4 milhões de hectares.
Já para o milho as estimativas são de estabilidade, com manutenção da área cultivada e produção ligeiramente maior: 119,8 milhões de toneladas, acima das 115,72 milhões de toneladas colhidas em 2023/24. O arroz, que tanta preocupação causou devido às chuvas no Rio Grande do Sul, principal produtor do país, deverá ter área plantada 11,1% maior no país na safra 2024/25, além de crescimento na ordem de 15% na produção, em torno de 12,1 milhões de toneladas. Na safra passada (2023/24), a colheita ficou em 10,6 milhões de toneladas.
Os números são promissores, mas o produtor deverá ser paciente ao aguardar pela regularização do regime de chuvas, algo que esse ano só deve ocorrer mais tarde, na segunda quinzena de outubro. A isso se soma a questão de que o fornecimento de energia para os próximos meses segue monitorado de perto pelas autoridades, que cogitam até o retorno do horário de verão, suspenso desde 2019, como forma de economia, ainda que o custo – benefício dessa medida seja hoje menor do que em outras épocas, devido à mudança dos hábitos de consumo.
Em síntese, o ano de 2025 pode marcar uma virada de chave para o Agro brasileiro após um ciclo de turbulências, seja pelo clima, seja pela oscilação das commodities, que sempre são acompanhadas de movimentos políticos que acirram as disputas ideológicas e comprometem o bom andamento dos negócios e abertura de novos mercados. A presidência rotativa do G20, em 2024, e realização da COP 30, no ano que vem no Pará, representam boas chances de alinhar as instituições à tendência de alta das safras e abrandamento dos extremos climáticos.