Tendo em vista o enorme mercado consumidor chinês, é importante entender como o Brasil pode explorar a demanda da China por produtos agropecuários no Brasil, como pode receber recursos para investimentos visando ao aumento da produtividade e quais áreas devem ser prioridade do país asiático.
Em entrevista ao programa Mercado & Companhia, do Canal Rural, o ministro conselheiro da Embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui, afirmou que o governo chinês apenas orienta os investimentos e pode, eventualmente, assumir um papel catalisador.
Porém, as decisões efetivas cabem ao setor empresarial. Segundo o ministro, a China já investiu um total de US$ 80 bilhões de dólares no Brasil, com valores concentrados em energia e eletricidade. Ele acredita que o agronegócio é o setor com maior potencial para receber recursos do país asiático.
Meta de investimentos
Segundo Yuhui, o mais interessante para a China é integrar e fazer avançar as cadeias produtivas locais, para baratear o “custo Brasil”, que está bastante ligado a questões logísticas e de infraestrutura.
Ele lembrou que empresas chinesas já têm parcerias e participações em alguns portos brasileiros no Sul e no Norte, e que, em comparação com anos anteriores, a relação entre as duas nações está mais forte. Porém, acredita que ainda haja grande potencial de aumento nessa cooperação.
Nesse contexto, a área de infraestrutura e logística tem o principal foco de investimento, de acordo com o ministro.
“Temos de combinar o nosso planejamento com o brasileiro no âmbito, por exemplo, do PPI (Programa de Parcerias de Investimento) e do Plano Nacional Brasileiro de Logística. Mas, certamente, a área de logística é uma das mais promissoras para a cooperação China-Brasil”.
Yuhui afirmou que China e Brasil têm vantagens complementares na área de infraestrutura. “A China tem alguma facilidade no financiamento, na experiência e também na tecnologia, enquanto o Brasil tem uma grande demanda e mercado para tudo isso”.
Demanda por carnes
Até 2027, assegurou o ministro conselheiro, a China deve importar mais de oito milhões de toneladas de carne bovina, volume superior à toda produção atual da União Europeia.
Neste momento, a carne suína é a principal fonte de proteína animal na dieta chinesa, e o país asiático é o maior consumidor e produtor global dessa proteína.
Segundo Yuhui, o rebanho suíno chinês já está em recuperação, após os surtos de Peste Suína Africana que atingiram o país. Mas ele afirma que a tendência geral é de que a China dependa cada vez mais da importação de carne suína para atender o consumo crescente.
Embargos de frigoríficos
A decisão do governo chinês de suspender a habilitação para exportação de frigoríficos brasileiros é justificada por Yuhui como medida de precaução para reduzir ou minimizar a contaminação no processamento, transporte e embalagem dos alimentos.
“Mas são medidas temporárias, que são sujeitas a ajustes constantes, por meio de análises e critérios objetivos e também de conversas entre autoridades dos dois lados”, afirmou.
Além disso, o ministro julga adequado o diálogo entre o Ministério da Agricultura (Mapa) e o governo chinês sobre essas questões.
“Nosso diálogo com Mapa é frequente, permanente e muito adequado, e os dois lados têm mantido bastante comunicação para tirar dúvidas. Pode ter certeza que o comércio bilateral entre China e Brasil não será impactado de forma substancial”.
Relação comercial
Yuhui ressaltou ainda o avanço da corrente de comércio entre Brasil e China mesmo em um período de pandemia, que causou redução das exportações brasileiras para outros países.
“Temos razão para tomar uma atitude cautelosamente otimista, porque a economia brasileira já apresentou sinais de recuperação”, disse.
“A China já começou a retomar sua atividade econômica normal, com sinais muito fortes de retomada de seu consumo. Se olharmos para o longo e médio prazo, teremos ainda mais razão para sermos otimistas, considerando nossa complementabilidade e o aumento do mercado de consumo na China”.
Canal Rural