Os caminhos para a pecuária leiteira nacional voltar a crescer

Com a diminuição das importações de leite em pó, o lácteo nacional passou por uma valorização. Foto: Pixabay

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Modernizando a cadeia produtiva

Desde o ano passado, o Portal SNA vem acompanhando o momento difícil pelo qual a produção brasileira de leite vem passando. O setor enfrenta queda de preços e forte concorrência de países vizinhos como Argentina e Uruguai, que também são membros do Mercosul. Neles, a cadeia produtiva é mais profissionalizada e robusta, além de se beneficiar da isenção tarifária do bloco. Entidades de representação como Abraleite e a FPPL (Frente Parlamentar em Apoio ao Produtor de Leite) manifestaram preocupação com os rumos da crise e cobraram ações do governo para proteger e valorizar a indústria leiteira nacional. No entanto, poucos efeitos foram sentidos até agora.

Avanço

No mês passado, realizou-se a 50ª Expoleite, em Arapoti (PR), com organização da Capal Cooperativa Agroindustrial. Como não poderia ser diferente, além dos destaques habituais de uma feira agrícola, tais como novidades em termos de maquinário, ferramentas tecnológicas e desfile de animais premiados, os debates acerca do futuro do setor marcaram o evento. Diante dos desafios impostos, o consenso é de que o setor precisa arregaçar as mangas e modernizar a cadeia produtiva, com digitalização das etapas de manejo, investimento na qualidade e rastreabilidade do produto, além do caráter sustentável de todo o processo.

Representantes da Capal salientaram que, com a diminuição das importações de leite em pó, o lácteo nacional passou por uma valorização, além do respaldo que o cooperado possui ao integrar um modelo de negócios capaz de protegê-lo das oscilações naturais que uma atividade sazonal como a produção de leite enfrenta. Com um volume anual de 146 milhões de litros, segundo dados do Cepea, e valorização de até R$ 2,46 o litro para o produtor, o horizonte é de otimismo, mas também de busca por mão de obra qualificada nas fazendas e de espaço para crescimento.

Para isso, ações de planejamento e redução de custos na propriedade são essenciais. Com margens financeiras cada vez menores, é a qualidade superior do produto que garantirá ao setor uma expansão. Em declaração à Globo Rural, o economista Paulo do Carmo Martins, pesquisador que já esteve à frente da Embrapa Gado de Leite, declarou:

O produtor que atua com pecuária leiteira, atualmente, precisa adotar uma gestão eficiente na propriedade, a fim de garantir a produtividade, a redução dos custos e a qualidade do leite. Para isso, é preciso gerar dados. E para gerar dados, a gente precisa ter uma concepção mais digital. Quando se trabalha em outras áreas, como agricultura, suinocultura e avicultura, o processo está mais estruturado. Nesses casos, o produtor tem menos decisões a tomar no dia a dia do que o produtor de leite. Precisamos reduzir a quantidade de decisões a serem tomadas e ter todo o processo organizado, para trazer agilidade e eficiência à gestão”

Gestão integrada, sustentável e com rastreabilidade

Ainda segundo Martins, o novo modelo de pecuária prevê a gestão informatizada de sistemas de produção de leite, com soluções tecnológicas que fazem a administração da propriedade ser mais eficiente na tomada de decisão em todos os aspectos da cadeia produtiva. Ele lembra que há várias opções de softwares e aplicativos, desenvolvidos por universidades, startups e pela Embrapa, que fornecem subsídios para a gestão zootécnica e econômica da atividade.

No contexto das cooperativas agrícolas, essa governança é mais acessível, permitindo ao produtor aferir indicadores de desempenho e eficiência, além da implementação de um sistema de rastreabilidade que forneça à indústria e ao consumidor informações precisas do histórico dos animais e da atividade produtiva.

No entanto, estudiosos projetam que esse arcabouço ainda levará pelo menos dez anos para se concretizar no setor lácteo, em comparação a outros cultivos que já possuem um histórico mais avançado desses elementos. Essa defasagem potencializou as dificuldades trazidas pela concorrência e dinâmica de preços, levando inclusive ao abandono da atividade por parte de alguns produtores, especialmente os gaúchos, após as enchentes de maio.

Além da rastreabilidade, as cooperativas de pecuária leiteira fornecem assistência quanto às boas práticas que garantem a sustentabilidade e adequação às normas ESG, o que é difícil para agricultores familiares que fazem do leite uma fonte de renda extra e dependem de intermediários e fornecedores de insumos distintos em regiões mais afastadas.

Mesmo assim, representantes do setor seguem confiantes que a atualização dos métodos e diálogo com o poder público deverão fortalecer o segmento diante de um mercado cada vez mais competitivo e exigente quanto à qualidade do produto e sua respectiva origem certificada, no que muitos já batizam de pecuária 4.0, isto é, aquela que incorpora todas as demandas de bem-estar animal, sustentabilidade, integração de etapas e gestão informatizada.

Por  Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290) marcelosa@sna.agr.br
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