A estimativa para a safra de grãos 2021/22 no Brasil, que inicialmente era de 300 milhões de toneladas, diminuiu para 268.2 milhões de toneladas, segundo o mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgado nesta quinta-feira.
Com relação à soja, a nova projeção da Conab é de 125.47 milhões de toneladas, uma queda de cerca de 9% em comparação à safra passada.
Para o diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Marcos Fava Neves, o comportamento do clima continua a dificultar as margens dos produtores rurais, em razão de perdas nas plantações.
“Nós começamos animados em setembro e outubro do ano passado, porque a área de plantio foi recorde, e havia previsão para clima favorável”, afirmou o especialista ao comentar sobre o assunto na CNN.
“Perder cerca de 25 milhões de toneladas de soja por causa do clima equivale a meia Argentina. Esse é o ponto preocupante. Terminamos o primeiro tempo com problema”, ressaltou o diretor da SNA.
Risco
“No ano passado, a seca veio no segundo tempo. Perdemos a cana, o milho, o café e a laranja. Ainda corremos o risco de enfrentar uma nova adversidade climática”, acrescentou o especialista.
No entanto, disse ele, “se o clima melhorar na segunda safra, há chances de o número de exportações empatar ou superar o ano passado, por causa do aumento dos preços.”
Balanço
Fava lembrou que o início do ano foi marcado por um clima de muita seca no Rio Grande do Sul, no Paraná e no Mato Grosso, o que prejudicou a soja. “Pessoas que estavam esperando colher cerca de 60 sacas por hectare estão colhendo de oito a dez”.
Na região Centro-Oeste houve o inverso, observou o diretor da SNA. “A chuva excessiva e poucos dias de sol dificultaram o enraizamento e o crescimento das plantações. Os produtores que estavam na expectativa de colher 70 sacas por hectares estão colhendo cerca de 60 sacas.”
Cenário econômico
Imprevistos à parte, o diretor da SNA chamou a atenção para alguns aspectos que deverão predominar na economia em 2022, com impacto direto no agro.
“A expansão da demanda mundial segue firme, com a economia crescendo 4,7% em 2022 e o mercado mundial de grãos registrando de 35 a 40 milhões de toneladas ao ano. Estamos também com uma incrível alta no preço do petróleo. Vivenciamos ainda problemas de logística, de armazenagem insuficiente e de custos no transporte. E os problemas com o clima continuam a refletir a redução da oferta.”
Além disso, ressaltou Fava, “os custos dos insumos continuam subindo, mas poderá haver alguma melhora. Teremos o câmbio desvalorizado em ano eleitoral, o aumento da taxa de juros e do custo dos investimentos, além de preços altos com a substituição de culturas em virtude da falta eventual de alguns produtos.”
Por fim, afirmou o especialista, “haverá uma explosão dos custos de produção e de arrendamento; um provável stress na cadeia de suprimentos, com escassez de produtos e peças, e uma pressão crescente com relação à sustentabilidade ambiental, segurança e sanidade, que também irá provocar o aumento nos custos”. A falta de talentos em diversas áreas e o fantasma da pandemia completam o cenário. “Jogar na retranca é a melhor alternativa”, concluiu Fava.