Na quinta-feira (20), o agrônomo italiano Marcello Broggio, oficial da FAO Brasil, apresentou um seminário sobre tendências e problemáticas da agricultura orgânica no nosso País e no mundo, com o propósito de fomentar o debate entre pesquisadores e analistas da Embrapa Hortaliças (Brasília/DF) sobre os aspectos conceituais relativos à produção orgânica em comparação com outros sistemas de produção.
Os números apresentados indicam que 1,1% da área agrícola mundial são dedicados à agricultura orgânica certificada, o que em número absoluto totaliza 50.9 milhões de hectares. Na América Latina, há 6.7 milhões de hectares, o que equivale a 13% da área agrícola do continente. “Os países latino-americanos com maior número de produtores orgânicos são México, Peru e Paraguai”, disse Broggio. O México, inclusive, é o terceiro país em número de produtores (200.000), ficando atrás de Etiópia (203.000) e da Índia (585.000).
No ano retrasado, o mercado de produtos orgânicos movimentou mais de € 75 bilhões, com um claro indicativo de aumento da demanda dos consumidores. Os países com os maiores mercados são Estados Unidos (€ 35.8 bilhões), Alemanha (€ 8.6 bilhões) e França (€ 5.5 bilhões). Contudo, outros países destacam-se nesse cenário: Espanha com uma expansão de mercado de 24,8% de 2014 para 2015, Dinamarca com 8,4% da fatia de mercado para produtos orgânicos, e a Suíça, que tem o maior valor per capita gastos com alimentos orgânicos.
“Todos esses números revelam que há tendência de aumento em todas as dimensões: área cultivada, número de produtores e mercado. Fica evidente que as produções e os mercados mais expressivos estão em países desenvolvidos, em especial na Europa”, assinala o agrônomo ao sugerir que isso se deve tanto pela população com renda mais alta e maior grau de escolaridade, mas também por haver maior sensibilização da massa para a importância da qualidade do alimento, em detrimento da quantidade e do preço. “Observamos que, na Europa, a preferência por orgânicos está diretamente relacionada à certificação que garante a ausência de agrotóxicos e de transgênicos”, pondera.
Após expor os quatro princípios da agricultura biológica saúde, ecologia, justiça e precaução, Broggio traçou um paralelo entre diferentes sistemas de produção e frisou ser necessário observar rendimentos e lucros, bem como indicadores socioeconômicos que, ainda nos dias atuais, são mal documentados. “Geralmente, o que acontece é uma comparação que leva em conta somente o desempenho produtivo alcançado nos diferentes sistemas produtivos. Porém, há uma gama de indicadores que precisam ser computados como sequestro de carbono, biomassa microbiana do solo, uso de pesticidas e combustíveis fósseis, aporte de nutrientes minerais, entre outros”, disse.
Diante de tal exposição, o agrônomo explicou como a FAO está inserida na problemática, uma vez que é a agência especializada da ONU encarregada de assegurar às pessoas o acesso regular a alimentos de boa qualidade e contribuir para erradicação da fome. “A FAO tem uma proposta de intensificação sustentável, por meio do programa ‘Save and Grow’, cujo desafio é buscar novos modelos e colocar a produção e o consumo de alimentos em um patamar mais sustentável”, explica ao concluir que os cenários vindouros irão exigir que pesquisadores agropecuários tracem outros caminhos para os sistemas de cultivo, a gestão da água e do solo, a proteção vegetal, entre outros fatores, que devem guiar a formulação de novas políticas públicas.
Embrapa