Os preços do milho continuam em baixa no mercado interno pressionados pela oferta em alta, segundo o mais recente levantamento do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea). No último dia 5 de junho, o indicador Esalq/BM&FBovespa, que serve de referência para o mercado futuro nacional, referente à região de Campinas (SP), ficou em R$ 24,85 a saca de 60 quilos, o que significa queda de 0,25% no acumulado dos primeiros dias do mês. O indicador com base na média dos negócios, observados na região paulista, fechou em R$ 24,41 a saca, o que corresponde a uma redução de 0,3% no acumulado do mês.
Em nota, o Cepea destaca que “os fundamentos indicam mais para valores abaixo do mínimo governamental nas regiões produtoras de segunda safra do que para inversão da atual tendência. Como os valores já estão abaixo do preço mínimo oficial em algumas regiões, produtores têm expectativa de apoio para a comercialização nesta temporada”.
Ainda conforme o Centro de Estudos em Economia Aplicada, existem indicativos de que os preços continuarão em baixa. “Conforme a colheita avança, principalmente no Paraná, as informações vindas do campo vão confirmando produtividade muito acima da média. No Cerrado brasileiro, o elevado volume de chuva atrasa a colheita, mas favorece as lavouras implantadas mais tardiamente e que ainda estão em desenvolvimento”, diz a nota.
Produtores de milho, que já começaram a colher a segunda safra do grão – mais conhecida como safrinha – têm motivos para preocupação quanto à rentabilidade da produção.
“Nesse contexto, aumenta a expectativa sobre o apoio que o governo oferecerá à comercialização da atual temporada – os receios são que os recursos se escasseiem devido à necessidade de ajuste fiscal”, informa a nota do Cepea.
AVALIAÇÃO
Em Goiás, segundo o economista Pedro Arantes, consultor técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-GO), no ano passado as condições da comercialização de milho foram melhores, porque “os Estados Unidos não estavam bem e o câmbio ajudou”.
“Em nosso Estado, acreditamos a safra do milho deve ficar no mesmo patamar de 2014: 7 milhões de toneladas. Neste ano, a venda antecipada está melhor, mas é preciso que o mercado reaja, pois ainda vivemos um cenário duvidoso, até porque não temos como afirmar se a venda antecipada será ou não benéfica”, destaca Arantes.
De acordo com ele, o custo para o produtor de milho está mais alto. “A margem de lucro deste produtor já está no vermelho. Nem começou a colheita em Goiás e os preços já caíram de R$ 25,00 a saca para R$ 18,50. Já repassamos estas informações ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e, se continuar assim, vamos precisar da intervenção do governo federal”, alerta o economista.
Segundo Aline Veloso, coordenadora da Assessoria Técnica da Federação de Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), no Estado a colheita do milho safrinha já começou em algumas localidades das regiões Noroeste e Triângulo e deve se intensificar nos próximos meses.
“Chuvas em maio e no início de junho beneficiaram lavouras mais novas e produtores relatam aumento da produtividade das áreas. Mas mais produção não quer dizer mais renda no campo”, ressalta.
RENTABILIDADE
Aline ainda destaca que, com as informações publicadas sobre a safra norte-americana, que deve vir ainda maior, e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), destacando o bom desenvolvimento da segunda safra no País, há forte preocupação quanto à rentabilidade da safra.
“Os preços já estão menores e sinalizam queda com o início da colheita de Mato Grosso e demais Estados produtores. Em Minas, o preço do cereal vem caindo e ainda está acima do preço mínimo, mas o produtor está preocupado se os valores praticados no mercado possibilitarão o pagamento de seus compromissos.”
Conforme Aline, os custos de produção ficaram mais caros em função dos aumentos da energia elétrica, mão de obra e defensivos agrícolas, principalmente os importados, que sofreram forte influência do dólar.
“Esse ponto também deve interferir na próxima safra. Outro que destacamos, com muita preocupação, é quanto à disponibilização de recursos para compras governamentais, dado o cenário de ajuste pelo qual o País passa.”
A coordenadora lembra que, no ano passado, a Conab já havia sinalizado mudança de estratégia de subsídio aos produtos agrícolas, em especial ao milho.
“Com a redução orçamentária, certamente os leilões e transferências de estoque entre armazéns da companhia não acontecerão ou virão tardiamente. E mais uma vez, se as exportações do grão não se ampliarem e a intervenção não ocorrer, o produtor ficará descoberto, sem condições de caixa”, alerta Aline.
Por equipe SNA/RJ