O Brasil continua salvo de um desastre cambial e de uma crise econômica muito mais séria graças ao agronegócio, o setor produtivo mais eficiente do País, capaz de garantir um superávit comercial de US$ 40.77 bilhões no primeiro semestre, enquanto se acumulava um déficit global de US$ 2.36 bilhões no comércio exterior.
O campo e as fábricas diretamente ligadas à agropecuária continuam proporcionando a maior parte das poucas notícias positivas da economia, enquanto a maior parte da indústria permanece atolada em problemas de competitividade, agravados pela sucessão de erros da política econômica. De janeiro a junho o agronegócio exportou produtos no valor de US$ 49.11 bilhões, ou 44,4% do total faturado por todos os setores com as vendas ao exterior. A contribuição do setor de commodities para as contas externas foi completada com os embarques de minérios, principalmente de ferro.
No campo, a perspectiva é de mais um recorde na produção de grãos e oleaginosas – formada principalmente por algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo. A safra desses produtos deve alcançar 193.87 milhões de toneladas. Confirmado esse número, terá havido aumento de 2,8% em relação à colheita da temporada anterior, segundo a última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura.
A irregularidade das chuvas tem prejudicado o rendimento das lavouras e por isso o aumento da produção deve ser menor que o da área plantada (6,1%). Esse tem sido um evento raro. Nos últimos 20 anos as safras têm crescido muito mais que o espaço ocupado pelas culturas. A produtividade tem sido há muito tempo uma das principais vantagens da agricultura brasileira e, mais recentemente, o seu sinal distintivo na economia nacional.
São estimadas colheitas maiores para algodão, amendoim, arroz, feijão, soja e trigo. A produção de milho deve ser 4,1% menor que a da safra anterior, mas, ainda assim, o abastecimento será tranquilo e o estoque final deverá aumentar. O aumento mais notável de produção deverá ser o do trigo, principal cultura de inverno. A última estimativa indica uma área plantada 18,9% maior que a da safra anterior – consequência de preços favorecidos por uma forte demanda internacional, com influência evidente da crise na Ucrânia, importante país produtor e exportador. Se nenhuma surpresa ocorrer, a produção poderá crescer 33% e chegar a 7.39 milhões de toneladas. Nesse caso, a importação no ano-safra poderá ficar em 5.5 milhões de toneladas, 14% abaixo da estimada para o ano anterior.
Boa produção no campo contribui para a demanda de bens industriais no interior, para o reforço das exportações e para a contenção do custo de vida. Os preços internos são em boa parte determinados pelas condições do mercado internacional e isso se reflete, ocasionalmente, em pressões de alta no comércio de alimentos.
Mas as pressões seriam certamente maiores, e até muito maiores, se a produção interna fosse menor. Além disso, cotações em alta nas bolsas internacionais afetam muitos países e poucos têm inflação tão alta quanto à brasileira. A alta geral de preços é determinada por vários fatores, além das condições do mercado agrícola, e o desarranjo das contas públicas é um dos mais importantes. Nesse quesito, poucos emergentes vão mal como o Brasil.
As exportações do agronegócio renderam US$ 99.451 bilhões nos 12 meses até junho, com superávit comercial de US$ 82.43 bilhões. A receita foi 1,1% menor que a dos 12 meses até junho de 2013 e o gasto com a importação, 2,2% maior. Isso se explica principalmente pela evolução dos preços dos produtos vendidos e comprados. Ainda assim, o saldo foi elevado, embora insuficiente para compensar o déficit no comércio de outros tipos de bens e nas contas de serviços e rendas.
Nos 12 meses até maio, último período com informação disponível, chegou a US$ 81.85 bilhões o déficit em transações correntes – o mais amplo indicador das transações com o exterior. Esse déficit equivaleu a 3,61% do Produto Interno Bruto. Como estariam as contas externas sem a competência do agronegócio?
Fonte: Estadão