O leite em pó no mercado internacional

Autor: Sylvio Marini, presidente da Cooperativa Regional Agropecuária de Macuco (RJ) //


O aumento dos preços internacionais do leite em pó, no primeiro semestre deste ano, foi ocasionado basicamente pela forte demanda asiática, especialmente da China, que teve problemas com a melanina no leite e precisou aumentar as importações de lácteos. Além disso, o baixo patamar de consumo desses produtos no país, e seu elevado potencial de expansão, dado o nível de crescimento econômico, justificam os percentuais de avanço das compras chinesas.

Para 2011 , a estimativa do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) é de aumento de 134% das importações da China de leite em pó integral, frente a 2010 (após crescimento de 81% no ano passado) e de 10% nas compras de leite em pó desnatado (mediante incremento de 30% em 2010).

A título comparativo, o volume estimado das importações chinesas de leite em pó integral representa mais que as compras da Argélia, Brasil, Estados Unidos e Austrália juntos.

Dados recentes do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina sobre os preços do leite no mercado, atestam que o produtor brasileiro recebeu este ano, em dólar, 50% a mais que os argentinos, no mês de junho. Isto se deve, em grande parte, à alta cotação do real frente à moeda americana, o que torna competitivo (ou encarece, do ponto de vista exportador) o produto brasileiro frente aos demais.

Em junho de 2010, o leite brasileiro era 20% mais caro que o argentino. Essa situação evidencia o ganho de competitividade que a Argentina vem apresentando sobre o Brasil. Nesse sentido, justifica-se o aumento das vendas de lácteos ao mercado brasileiro. No primeiro semestre desse ano, as importações de lácteos do país vizinho foram quase 80% maiores que as de igual período de 2010.

O leite pago ao produtor brasileiro em junho (média de sete estados) , convertido em dólar, também ficou acima do cotado nos Estados Unidos – vantagem de 31%, considerando-se dados da LTO Nederland.

Economia e setor lácteo

O crescimento econômico mundial foi revisado para baixo, dada a situação delicada enfrentada pelos governos de países europeus e dos Estados Unidos. Segundo informações do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) global deve crescer 4,3% em 2011, contra 5,1% observados em 2010. Com isso, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a demanda internacional por lácteos possa desacelerar, ou seja, ser menos intensa do que a registrada no início deste ano.

Um dos pontos a serem observados neste cenário é que o excesso de produção em alguns países, especialmente na Argentina e Uruguai (de quem o Brasil mais compra lácteos), pode ser direcionado ao mercado brasileiro, sobretudo num contexto de Real valorizado e redução da demanda de alguns países importadores. Isto significa que as compras por parte de empresas que atuam no Brasil podem atingir patamares ainda mais elevados, o que tende a prejudicar o segmento produtivo nacional.

Projeções

Estimativa do USDA aponta crescimento de 3% da produção brasileira de leite neste ano, abaixo do avanço projetado para a Argentina (4,4%) e Nova Zelândia (5,1%).

Segundo o USDA, a Oceania também pode ter forte recuperação da produção de leite, se o clima for favorável, ainda que os dados mais recentes do governo norte-americano para a Nova Zelândia tenham diminuído a taxa de crescimento estimada para esse país. Além dos preços mais elevados, a Nova Zelândia exportou volume significativo de leite em pó para China na última temporada – fato que favorece o estímulo para investimento por parte dos produtores, resultando numa possível ampliação da produtividade em torno de 5% sobre o ano passado. Na Austrália, a produção tende a aumentar 2,9% em 2011.

Na Europa, após a estabilidade ou leve queda na produção nos últimos anos, a previsão é de ligeiro aumento de 0,9% na oferta em 2010, motivada pelos elevados preços internos.

Produção de leite (em mil toneladas)

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