Avenida Brasil, 9.727, Penha. Qualquer morador da cidade que receba a indicação desse endereço vai acreditar que se trata de um dos muitos depósitos de mercadorias ou prédios abandonados da via. Mas quem cruza o portão verde deixa para trás o cenário de obras, engarrafamento e abandono da avenida e encontra uma área de 144 mil metros quadrados, com hortas, currais, um bosque e ar puro: a Escola Wencesláo Bello, da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
Desconhecido de muitos cariocas, o campus oferece cursos agrícolas – entre eles, horticultura orgânica e jardinagem –, além da oportunidade de uma agradável caminhada e o contato com animais de fazenda. Instalado em uma Área de Proteção Ambiental – a APA da Fazendinha, criada em 1984 , o campus é considerado um oásis.
“Nunca imaginei que existiria um lugar assim em plena Avenida Brasil. Eu e meu marido descobrimos por acaso, quando fomos pesquisar opções de cursos de horta orgânica na internet, e adoramos, pois nos ajuda a esquecer o estresse do mundo corporativo”, conta a administradora de empresas Aniella Castro Andrade, de 40 anos, moradora de Copacabana, que pensa em usar o aprendizado para, num futuro próximo, mudar-se para o campo com a família.
O terreno fez parte da antiga Fazenda Grande da Penha e, em 1859, a posse foi entregue ao Horto Frutícula da Penha por Dom Pedro II, sendo transferido 40 anos depois para a SNA, que ali instalou uma escola, que hoje abriga cursos universitários. Mas são as aulas livres, aos sábados, que oferecem a chance de uma fuga da vida urbana.
São mais de 50 tipos de cursos, com cargas entre 16 e 24 horas, como criação de galinha caipira, helicicultura (criação de escargots), hidroponia, cultivo de plantas medicinais, suinocultura e comportamento e adestramento básico de cães. Ultimamente, explica Leandro Fonseca, coordenador dos cursos, as aulas de jardinagem, paisagismo e horticultura orgânica têm sido muito procuradas. Os preços variam entre R$ 280 e R$ 310.
Segundo a professora Cláudia Fortes, muitos alunos sonham em trocar o estresse da vida urbana pelo campo: “Tem gente que trabalha com agricultura e quer se aperfeiçoar e os que procuram um momento de contato com a terra. Mas tenho percebido que muita gente fala em deixar a cidade”.
O lugar é encarado como uma espécie de quintal por moradores de Olaria, Penha e Ramos. Nos finais de semana, é comum pais levarem os filhos para passear e ver bois, cavalos, porcos e galinhas, como a dona da casa Ana Maria Gomes de Castro, de 42 anos, que gosta de levar a filha Clara, de três anos, e o marido. A entrada é gratuita.
“Nossa filha adora e hoje (anteontem), fomos ao supermercado e ela pediu para vir visitar os bichinhos da fazendinha”, conta Ana Maria.
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Fonte: O Globo, publicado em cinco de maio de 2017.