O ENCOBRIMENTO DO DESCOBRIMENTO. Por Evaristo de Miranda

Há 524 anos, no dia 22 de abril, uma esquadra portuguesa comandada por Pedro Alvares Cabral, descobriu, retirou do quarto escuro da ignorância histórica, a Terra de Santa Cruz. O descobrimento do Brasil ocorreu dez meses apenas do retorno de Vasco da Gama de seu feito naval: a ligação marítima direta de Portugal com a Índia.

Durante uma semana, os portugueses desembarcaram, exploram, entraram em contato com os indígenas, celebraram a primeira missa, tomaram posse da terra recém-descoberta e rumaram para a India no dia 1 de maio.

Pero Vaz de Caminha, escrivão, relatou com precisão essa aventura e fez o primeiro diagnóstico escrito da agricultura brasileira. Para ele, não havia agricultura significativa “senão desse inhame que aqui há muito”. Nem pecuária. Os índios “não lavram, nem criam, nem há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem nenhum outro animal acostumado a viver com os homens”. Nem roda, nem metais. Em lugar algum das Américas. Nem nos incas ou astecas. Estavam na Idade da Pedra.

Para atender necessidades básicas de alimentação, saúde e vestimenta, durante séculos, os portugueses desenvolveram a agricultura. Eles introduziram em terras brasileiras tudo de possível interesse, sobretudo a partir da Ásia e Europa. Essa história ainda não foi devidamente contada!

Os lusitanos aumentaram a biodiversidade brasileira e mudaram hábitos alimentares, com a introdução de muitos vegetais: cana-de-açúcar, manga, banana, arroz, feijões, trigo, inhame, uva, coco, laranjas, hortaliças e de todos os animais domésticos e de pecuária. A pecuária, associada à cana-de-açúcar, construiu o povoamento europeu no Brasil.

Das 12 naus saídas de Lisboa apenas 6 regressaram. Dos 1.500 homens, apenas 500 retornaram. Pero Vaz de Caminha e o frei Henrique de Coimbra foram assassinados na Índia, em um ataque de mercadores árabes.

Muitos desvirtuam a história do Brasil, incutindo nos brasileiros vergonha de suas raízes e até mesmo de sua língua e nacionalidade. O acontecimento de 22 de abril de 1500 é escondido, omitido, deixou de ser evocado ou, pior, apresentado em narrativas mentirosas e anacrônicas. É tempo de descobrir o descobrimento do Brasil.

Por Evaristo de Miranda, doutor em Ecologia, ex-pesquisador da Embrapa e membro da Academia Nacional de Agricultura da SNA.   
Edição: Redação SNA – imprensa@sna.agr.br
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