Os desastres naturais acelerados pelas mudanças climáticas e os conflitos humanos provocaram prejuízos da ordem de US$ 96 bilhões aos agricultores de países em desenvolvimento entre 2005 e 2015.
Com seca e tsunamis, guerras e crises humanitárias, os produtores da Ásia, da América Latina e Caribe e da África foram impactados por acontecimentos acumulados que acarretaram em perdas de produtividade, quebra de safras e a disseminação de pragas e doenças em suas lavouras e animais.
A constatação está no mais novo relatório da FAO, a Agência para Alimentação e Agricultura da ONU, sobre os impactos do clima na agricultura, divulgado ontem.
Não há motivos para alentos, por enquanto. Na medida em que a mudança no clima avança, os danos no campo continuarão a crescer. “Isso se tornou o novo normal”, disse José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO.
De acordo com o estudo, o segundo da FAO sobre o tema, os desastres naturais têm atingido desde os anos 1980 cada continente do planeta com frequência e intensidades maiores.
Nessa categoria estão incluídos de secas a furacões, e também enchentes, incêndios florestais, tempestades, surtos de pestes no campo e doenças em animais e a proliferação de algas tóxicas nos mares.
Uma média de 260 episódios ocorreram todos os anos entre 2005 e 2016 nos países em desenvolvimento, contabilizou o estudo. Mais que os 232 de 1993 a 2004 e maior ainda quando comparado aos 122 episódios registrados entre 1981 e 1992.
O estrago maior ocorreu na Ásia, com US$ 48 bilhões em perdas financeiras na agricultura nesse período. Os países da região sofreram com enchentes, tempestades, terremotos e tsunamis, além de extremos de temperatura.
Na África, que teve US$ 26 bilhões em prejuízos, e na América Latina e o Caribe, com US$ 22 bilhões, a seca foi quem consumiu recursos do campo.
De modo geral, a seca tem sido o carro-chefe dos prejuízos. Foi sentida em propriedades rurais do Norte, Sul, Leste e Oeste do globo, diz a FAO. Nada menos que 83% de todo o dano econômico provocado pela escassez de água foi absorvido pelo setor agropecuário, com impacto da ordem de US$ 29 bilhões.
“A redução de riscos de desastres e um gerenciamento melhor devem se tornar parte integral da agricultura moderna. Isso é crucial para garantir o desenvolvimento sustentável do campo, que é a base da adaptação às mudanças no clima”, disse Graziano.
O relatório mostra que outras ameaças pesam sobre a segurança alimentar e a vida no campo. Ao contrário do estudo anterior, de 2015, este leva em consideração conflitos nas regiões analisadas. Um primeiro estudo de caso da guerra civil da Síria aponta que as perdas no país com agricultura, entre 2011 e 2016, foram de pelo menos US$ 16 bilhões.
Fonte: Valor Econômico