O chocolate e a militância climática. Por Xico Graziano

na região da Transamazônica, estão 85% do total de 205 mil hectares de cacaueiros cultivados no Pará.                                                 Foto; Pixabay / https://pixabay.com/pt/users/graniel7-22900754/

Mudanças do clima não influenciam na produção de cacau no Brasil, muito menos no
preço do chocolate; isso é catastrofismo e desinformação

Valentine’s Day, 14 de fevereiro de 2025. Leio as notícias e me deparo com uma curiosa manchete: “Mudanças climáticas põem chocolate em risco”. Fiquei intrigado: fato ou fake?

Vai que alguma amiga apaixonada me pergunta, teria que saber. Procurando a explicação, encontro que a ameaça à produção de cacau vem da crescente desertificação: “Regiões como o Nordeste do Brasil, uma das principais áreas produtoras de cacau do mundo, estão lutando contra uma crescente aridez, uma secagem lenta, porém implacável, da terra”. Fiquei pasmo.

Tal registro é absurdamente incorreto. O texto, de autoria de Narcisa Pricope, da Mississippi State University (EUA), é um cabal exemplo da desinformação causada pela militância climática, que mistura ciência com catastrofismo ecológico. É lamentável.

Nenhuma, repito, nenhuma lavoura de cacau do Brasil está situada em região de solos áridos, nem tampouco próxima de locais onde avança a desertificação. A maior zona produtora do cacau brasileiro se localiza hoje no Pará, em pleno bioma da Floresta Amazônica, tendo Altamira como município de referência.

Ali, na região da Transamazônica, estão 85% do total de 205 mil hectares de cacaueiros cultivados no Pará. Segundo o Ministério da Agricultura (PDF – 3 MB), a moderna cadeia produtiva da cacauicultura amazônica envolve 27.800 produtores, que colhem frutos com uma produtividade média de 960 kg/ha. Como o cacaueiro gosta de meia sombra, impera o sistema agroflorestal, que intercala espécies como, por exemplo, cacau com banana, cacau com seringueira, cacau com coco-da-baía, cacau com eucalipto.

Essa nova região da cacauicultura nacional apresenta quase o dobro da produtividade na histórica região produtora, localizada no sul da Bahia, tendo Ilhéus como município de referência. Lá, se encontra uma área cultivada próxima aos 400 mil hectares, envolvendo 41.000 produtores. No entanto, o volume colhido de cacau é menor por causa da baixa produtividade dos pomares, cultivados no sistema chamado de “cabruca”, onde o cacau é plantado debaixo de grandes árvores nativas.

Essa antiga cacauicultura, palco dos magníficos romances de Jorge Amado, passa por uma modernização tecnológica depois de ter sido quase dizimada pela introdução, criminosa, por militantes ideológicos da esquerda, da doença da vassoura-de-bruxa, no final da década de 1980. O fato é, em minha visão, o maior crime cometido contra a agronomia mundial.

Peço sua atenção. Embora o imenso Estado da Bahia pertença ao Nordeste brasileiro, a região cacauicultora de Ilhéus é uma expressão pura do bioma da Mata Atlântica, representando uma zona extremamente chuvosa. Chove por lá o dobro do interior paulista. Aridez zero.

Como poderia a professora de Mississipi ter se equivocado tanto? Será que ela conhece o sul da Bahia, ou já pisou na Transamazônica? Duvido.

É gravíssima a desinformação causada pela militância climática em assuntos da alimentação. Já decretaram também o fim da cafeicultura. Só que não. As lavouras de café duplicaram sua produção, mudando, entretanto, de endereço.

No passado, os Estados do Paraná e de São Paulo eram os grandes produtores de café do Brasil. Hoje, quem lidera a cafeicultura é Minas Gerais, seguido do Espírito Santo.

Perceba que as lavouras de café fugiram do frio das geadas, buscando o calor. Na distante e calorenta Rondônia, por exemplo, se produz atualmente 4 vezes mais café que no Paraná. Na Bahia, idem. Pelos genéricos e enganosos discursos da militância climática, deveria acontecer o contrário.

As evidências mostram o mesmo movimento nas lavouras irrigadas de feijão, que se expandem para o Cerrado do Centro-Oeste, onde manifestam elevada produtividade. O trigo irrigado da Embrapa também está de malas prontas para o Nordeste.

E a soja, então, que antes só se produzia nas terras frias do Rio Grande do Sul e, agora, domina o espaço rural em Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Maranhão. Que doideira é essa? Chama-se evolução tecnológica….

O grave erro da militância climática é desprezar a ciência agronômica, desconsiderando a produção contínua de conhecimentos, capazes de mitigar e superar problemas relacionados à produção rural, sejam alterações climáticas, pragas e doenças, fertilidade de solos e água ou, ainda, escassez de mão de obra.

Alguém tem dúvidas? A prova do sucesso da moderna agronomia em superar ameaças se encontra nos dados oficiais do IBGE, do Ipea ou da Conab, que mensuram o crescimento da produtividade física das lavouras. Não quer dizer que inexistam mudanças de clima; significa que a inteligência humana produz soluções. Isso é cientificismo, diriam alguns. Pode ser. Eu o prefiro ao catastrofismo.

Fique atento. Se você deixar de ganhar um delicioso chocolate no Dia dos Namorados ou no seu aniversário, é porque o amor relaxou. Não tem nada a ver com a mudança de clima na Terra.

 

Xico Graziano é engenheiro agrônomo e doutor em administração.

Artigo publicado anteriormente no Poder360 e gentilmente cedido à SNA pelo autor.

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