Visão geral: origem e evolução do conceito
Com o tempo, tornou-se necessária a adoção de uma postura consciente que considere fatores externos mais abrangentes, representados pelas letras da sigla e pelas expectativas de agentes como investidores, acionistas e clientes, sendo que estes últimos buscam, cada vez mais, consumir marcas que estejam inseridas num contexto amplo de sustentabilidade ambiental e engajamento social.
Traduzidas do inglês, as iniciais da sigla ESG significam, respectivamente, ambiental, social e governança. Representam, na prática, que um empreendimento precisa, atualmente, agir de forma a preservar e regenerar o meio ambiente na qual sua atividade fim estiver inserida; ter a consciência social de garantir um local de trabalho saudável e diverso, com boa comunicação entre funcionários, clientes e fornecedores; por fim, essas práticas precisam estar abrangidas por uma gestão ética e humanizada, que priorize o bom relacionamento entre chefes e subordinados, além de regras de conduta claras que devem ser observadas.
No pujante cenário da agropecuária brasileira, os produtores já são bastante zelosos de suas responsabilidades, mas buscam, cada vez mais, incorporar essas obrigações que os novos tempos trouxeram. Atualmente, as empresas, nas relações com clientes, fornecedores e entre si próprias, precisam assimilar os protocolos ESG para obter um selo certificador, fornecido por algumas entidades que coletam e classificam os dados advindos dessas boas práticas. Assim, pode se agregar valor aos bens e serviços ofertados, numa relação de confiança e prestígio que atesta a preocupação do produtor. Isso tem reflexos, inclusive, nos preços praticados e, mais importante ainda, nas exportações, pois alguns países já se destacam, entre eles o Brasil.
Cada pilar e suas nuances, no cenário do agro
A vertente ambiental é preocupação antiga, mas ganhou ênfase com a intensificação de eventos climáticos extremos. Assim, a agricultura e pecuária devem buscar reduzir ou compensar suas emissões de carbono e demais gases que contribuem para o efeito estufa. Também entram na lista a recuperação de pastagens degradadas, busca por fontes renováveis de energia, além de técnicas como integração entre lavoura – pecuária e plantio direto.
Já o social diz respeito às relações da empresa rural com seus colaboradores, fornecedores e clientes. Tem que haver um compromisso com a redução dos impactos causados em sua área de atuação e observância das leis trabalhistas específicas do campo, quando for o caso. As oportunidades devem contemplar a todos, sem distinção de qualquer natureza, e o cuidado com a proteção de dados, através da nova LGPD, deve ser um norte.
Por fim, a governança concerne os aspectos de administração interna do empreendimento, independentemente do porte. Regras de conduta, protocolos para boas relações com funcionários, fornecedores e clientes; gestão de riscos para minimizar as perdas e planejamento no tocante a sucessão, sobretudo quando as empreitadas são de pequeno ou médio porte, a exemplo da agricultura familiar. Nesse contexto, inserem-se também as cooperativas agrícolas.
A adoção dessas práticas movimentou também mercados aparentemente distantes do universo agro, uma vez que, num fenômeno cada vez mais comum, escritórios de advocacia, contabilidade e que oferecem consultoria de gestão migram para os principais centros produtores do interior para atender a demanda crescente dessas regiões, uma vez que a preocupação em profissionalizar as etapas requer os serviços desses profissionais.
Críticas
Todo esse novo panorama não passa sem críticas pertinentes, como, por exemplo, as ponderações feitas pelo professor Rubem Novaes, ex-presidente do Banco do Brasil e membro do Conselho de Economistas da SNA. Em palestra proferida no mês passado na Confederação Nacional do Comércio (CNC), salientou que, apesar da nobreza da agenda ESG, não cabe aos gestores privados “[…] a correção dos males do mundo. A função do administrador […] será sempre o de cuidar bem dos resultados da empresa. Ao fazer isso, com os olhos voltados para as novas preferências do mercado, cumprirá seu verdadeiro papel social”.
Novaes também manifestou preocupação que a adesão casuística de empresas a determinadas exigências efêmeras do mercado, sem pesar as reais vantagens para a sua atividade-fim, pode prejudicar a qualidade e rentabilidade, e consequentemente o valor da própria companhia, acabando por afetar, sem querer, funcionários e acionistas. Ele destacou que a separação entre o papel do gestor público e privado é fundamental, pois ambos estão submetidos aos ditames da lei, mas o privado possui a obrigação de agir visando, dentro da legalidade e demais normas, maximizar o lucro de seu empreendimento.
Como essa visão ainda gera reações de protesto, muitos executivos e dirigentes ainda são contratados por seu comprometimento com pautas sociais que podem não necessariamente ajudar a empresa, como, em alguns casos, prejudicá-la, sobretudo em ações de marketing que alienem o público-alvo dos bens ou serviços oferecidos.
Novaes concluiu reconhecendo que a sociedade evoluiu em seus propósitos de bem-estar social, mas reiterou que a função de agentes públicos e privados são distintas, apesar de complementares, e que somente se atuarem em harmonia com a natureza de seus cargos e deveres é que produzirão, em conjunto e harmonia, ganhos de teor socioambiental, respaldados por uma governança interna que possibilite essa dinâmica salutar.
Por Marcelo Sá – jornalista/editor – (MTb 13.9290)