Nos laboratórios, a carne do futuro está quase no ponto

A proteína do futuro pode não ser de insetos sintéticos, como já foi retratada em obras de ficção científica. De olho em um cenário de escassez de proteína animal na forma como é popular hoje e na mudança de hábitos dos consumidores, grandes grupos do agronegócio estão investindo em alternativas mais palatáveis.

Em mais um passo nessa direção, a Cargill anunciou ontem que fará um aporte na startup israelense Aleph Farms, que desenvolve bifes 3D. A multi americana faz parte de um grupo de empresas, liderado pela VisVires New Protein, que decidiu financiar o que parecia impossível e, juntas, alocaram US$ 12 milhões na Aleph. O objetivo é que o bife 3D chegue ao mercado comercial em um prazo de três a cinco anos.

Essa não foi a primeira rodada realizada pela Aleph para atrair investimentos. Fundada em 2017, a empresa já havia levantado US$ 2.25 milhões para suas pesquisas com The Kitchen, Peregrine Ventures, CPT Capital e New Crop Capital.

“A tecnologia pesquisada não é geneticamente modificada e depende de um processo natural que ocorre nas vacas para regenerar e construir tecidos musculares”.

A descrição poderia ter sido pensada por Steven Spielberg, mas está disponível no site da Aleph Farms. A empresa desenvolveu uma maneira de isolar as células responsáveis por esse processo e cultivá-las fora do animal para formar o mesmo tecido complexo típico dos bifes.

Também não é o primeiro investimento da Cargill em carne de laboratório. Em 2017, a companhia foi uma das primeiras “patrocinadoras” da Memphis Meats, fundada em 2005 e que se tornou uma das líderes no desenvolvimento de carne a partir de células animais. A Tyson Foods, maior produtora de carnes dos Estados Unidos, foi outra gigante que investiu na Memphis, em 2018.

A produção de carne em laboratório responde a uma grande demanda do consumidor, sobretudo em países desenvolvidos: a redução do impacto ambiental da produção de carne e o bem-estar animal. Nos laboratórios, a carne ainda é carne, mas não há animais abatidos nem a emissão de gases de efeito estufa.

“Comer realmente carne sem causar toda a destruição do planeta é o que significa ‘carne limpa'”, aponta um vídeo institucional da Just Meat Company, que tem sede em San Francisco, nos EUA, e aposta na produção de carne de frango a partir de células coletadas de penas das aves.

As startups defendem que a carne de laboratório também é mais segura do ponto de vista alimentar, já que não apresenta risco de doenças animais e não precisa de antibióticos ou vacinas para ser produzida.

Com os investimentos crescentes, espera-se abreviar o tempo para a chegada da carne de laboratório no prato do consumidor. Não há nada do gênero nas gôndolas e nem legislação que regule esse mercado.

A realidade mais próxima hoje são as alternativas desenvolvidas a partir de vegetais. Exemplos de startups nessa área não faltam, e já há oferta disponível para consumo. Esse mercado também cresce a reboque de mudanças nos hábitos de consumidores que querem reduzir a ingestão de proteína animal.

A própria Cargill investe nessa área. Nesse sentido, em 2018 anunciou uma joint-venture com Puris, maior produtora de proteína de ervilha na América do Norte.

E há outros movimentos importantes nessa frente. Nesta semana, informou a agência Reuters, a Impossible Foods, que produz hambúrguer sem carne, fez uma rodada com investidores e atraiu cerca de US$ 300 milhões. Apostaram na empresa Bill Gates, além de Google, UBS e Temasek.

Na semana passada, a americana Beyond Meat, fabricante de carne à base de vegetais, lançou seus papéis na bolsa de Nasdaq, com um valor de mercado inicial de US$ 1.5 bilhão. O montante já saltou para a casa dos US$ 4 bilhões.

Segundo da Grand View Research, o mercado de produtos que substituem alimentos à base de carne deverá alcançar US$ 5.8 bilhões até 2022, e ninguém quer perder uma fatia desse mercado.

 

Valor Econômico

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