Principal insumo na produção de rações que alimentam frangos e suínos para a agroindústria, o milho, que tem sido apontado como a “nova soja” do Brasil, principalmente pelo volume recorde das exportações, virou foco de vários debates entre especialistas do agronegócio. E com fundamento: enquanto no mercado interno os consumidores encontram dificuldades para comprar o cereal, as exportações do grão tiveram alta de 269%, no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando 7.8 milhões de toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Todos concordam que houve uma queda no volume comercializado do produto no mercado interno e uma valorização de seu preço no exterior, fazendo com que o produtor rural optasse por exportar em vez de negociar no mercado interno. Para mudar a atual conjuntura, instituições representativas de ambos os setores defendem maior aproximação entre agroindústrias e agricultores.
Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra acredita que as agroindústrias terão, a partir de agora, de planejar melhor a aquisição de milho, criando uma espécie de “hedge” de compra, por meio, por exemplo, de contratos de antecipação.
“Não há fórmula mágica. Entretanto, a aproximação entre produtores e demandantes de insumos torna a constituição de soluções mais viável. E uma delas está no radar do setor, pela constituição de mecanismos que viabilizem a compra futura em condições de interesse das partes envolvidas”, diz Turra, em entrevista à equipe SNA/RJ.
Segundo ele, “também temos como objetivo aprimorar o monitoramento das vendas no porto, para adequar o planejamento de consumo das empresas”. “Há uma série de propostas que pode reduzir os impactos das altas dos insumos, dando oportunidade de ganhos para quem produz e quem consome.”
De acordo com a ABPA, por causa do aquecimento das exportações, a saca do milho no mercado doméstico chegou a atingir valores recordes (em torno de R$ 60), “em um processo natural de equiparação da cotação interna com o valor de venda para o exterior”.
OPINIÃO DA SNA
Para o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Hélio Sirimarco, o diálogo é sempre importante, mas antes disto é necessário entender que “não existe perigo de desabastecimento de milho no Brasil, porque o problema no mercado interno está no preço do grão”. “Com a quebra da safrinha, os estoques continuarão apertados e os preços altos. Os produtores que já venderam boa parte da produção permanecerão afastados do mercado”, avalia.
Em sua opinião, “com o descolamento dos preços praticados no mercado internacional e no mercado interno, tendem a aumentar os cancelamentos de contratos para exportação (“wash outs”), até porque, em algumas regiões brasileiras, compensa mais pagar as multas pelo não cumprimento dos contratos a vender o grão no País, para abastecer as indústrias de aves e suínos”.
Sobre o diálogo entre agroindústrias de frangos e suínos e os produtores de milho, Sirimarco entende que “a situação é complicada, porque os interesses são opostos”. “Há dois anos, o preço do milho despencou por causa da grande oferta. Em Mato Grosso, por exemplo, a saca chegou a ser negociada a dez reais. Por isso, o governo federal teve de realizar leilões de compra para garantir o preço mínimo para os agricultores.”
Ele ainda lembra que, naquela época, “a agroindústria não se preocupou com a situação dos produtores, até porque, com o custo do milho baixo, sua margem de lucro aumentou”. “Esta aproximação pode ocorrer, mas os produtores vão sempre querer vender o milho por um preço mais alto e a agroindústria comprar por um preço mais baixo. Por isto, volto a insistir: não existe perigo de desabastecimento, o problema é o preço.”
OPINIÃO DA ABRAMILHO
Em entrevista à equipe SNA/RJ, o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), diz que participar destas discussões é interessante. “Só que o mais importante, no momento, é produzir mais milho para atender às demandas internas e externas”, resume.
De acordo com ele, “não adianta sentar para discutir qualquer assunto referente ao milho, se não houver produção suficiente”. “Nos últimos quatro anos, a demanda pelo milho aumentou em oito milhões de toneladas, enquanto a produção não acompanhou este crescimento”, diz.
Em sua opinião, para resolver o impasse, “a solução tem de vir do governo federal, que precisa construir uma alternativa: ter uma política pública para a produção do grão, com linhas de financiamento, seguro rural, etc.”.
“Precisamos ter, pelo menos, entre 40 e 50 milhões de toneladas de milho para exportar, porque o mercado externo foi muito difícil de conquistar e não podemos desistir dele”, alerta Paolinelli, que também é membro da Academia Nacional de Agricultura, da SNA.
Por equipe SNA/RJ