O medo de que o apetite da China por commodities, desde cobre até carvão, esteja perdendo a força depois de dez anos de um crescimento vertiginoso provocou um colapso nos preços, mas a escala monumental do país nestes mercados deixa claro que a China continuará a defini-los no longo prazo, mesmo que a uma velocidade menor.
A China atualmente compra 12% do petróleo, 25% do ouro, quase 33% do algodão e até a metade dos principais metais básicos produzidos no mundo. Seu poder de compra transformou o país numa parte fundamental do comércio mundial de commodities, influenciando dos preços até as horas que os operadores trabalham. Embora os analistas prevejam uma desaceleração no crescimento da demanda chinesa por matérias-primas, eles acreditam que o poder de influência do país nos mercados não vá diminuir.
Os preços das commodities caíram de forma expressiva nos últimos dias, ampliando um período já longo de declínio, em meio a temores de que a desaceleração da economia chinesa reduza a demanda que alimentou ganhos nos mercados durante mais de dez anos. O consumo voraz de matérias-primas pela China em meio a um crescimento econômico anual de dois dígitos também incentivou a criação de um excesso de oferta em vários setores, de fertilizantes a ouro.
Nesta semana, o petróleo caiu para seus níveis mais baixos em cerca de seis anos. Os metais industriais, como o cobre e o alumínio, já perderam quase 20% de seu valor este ano, assim como o minério de ferro.
Muitos analistas dizem que o mercado está errado: a demanda chinesa por commodities não está caindo. “Se analisarmos as importações de commodities da China nos últimos meses, elas, na verdade, têm se mantido bem fortes”, diz Tom Pugh, economista de commodities da Capital Economics. “Muito [desse sentimento] é porque as pessoas pensavam que a China seguiria crescendo 10% por ano eternamente e agora elas estão descobrindo que isso não vai acontecer.”
O crescimento do produto interno bruto chinês está desacelerando, e os economistas cada vez mais duvidam que a China realmente alcance a expansão anual de 7% registrada pelos dados oficiais do segundo trimestre, com alguns achando que a taxa real pode ser até metade desse valor. Isso afeta o cálculo da demanda esperada do país.
A agência de informação sobre petróleo dos Estados Unidos estima que, apesar da recente desaceleração no crescimento do consumo de petróleo pela China, o país ainda será responsável por mais de 25% do aumento da demanda global neste ano. A China é responsável por 46% do atual consumo de cobre, depois de abocanhar cerca de 7,5% de crescimento composto da demanda anualmente entre 2010 a 2014.
O Deutsche Bank AG agora estima que esse crescimento cairá para 3% deste ano até 2020. O aumento no consumo anual de alumínio deve cair para cerca de 5% a 6% nos próximos 10 a 15 anos, ante a expansão de 8% a 10% dos últimos anos, informou o banco.
Empresas de mineração, refino e exploração superestimaram o crescimento da demanda global, principalmente da China, e mantiveram uma febre expansionista que acrescentou capacidade extra ao mercado.
Entre 2015 e 2020, a China deve ser responsável por uma alta de quase 10% na demanda de potassa, fertilizante com um mercado de mais de US$ 20 bilhões. Mas a oferta deve crescer mais que 30% durante esse período, segundo o Scotiabank.
Com a China migrando de uma economia calcada na produção e exportação para outra mais dependente do consumo, os analistas estudam quais commodities se beneficiarão da mudança e quais serão afetadas. As importações de commodities como café e cacau podem sair ganhando, graças ao aumento da média de renda dos chineses e a consequente mudança em direção a produtos de maior qualidade.
A influência da China nos preços das commodities também aparecerá através das exportações. O afrouxamento da demanda do país por alguns metais e a desvalorização de sua moeda — que torna os produtos chineses mais baratos no exterior — incentivarão mais exportações de commodities de um país comumente associado às importações de matérias-primas. Nos primeiros sete meses do ano, as exportações chinesas de alumínio subiram 28%, para 2.87 milhões de toneladas, enquanto as exportações de produtos de aço subiram 27%, para 62.13 milhões de toneladas, segundo dados do Citi Research.
Nos últimos anos, a China passou a definir a própria forma em que as commodities são vendidas e compradas, tradicionalmente um âmbito dominado por centros financeiros como Londres e Nova York.
A atividade nas bolsas chinesas explodiu. A negociação de commodities como aço, zinco e alumínio elevou os volumes da Bolsa de Futuros de Xangai em 31% em 2014 ante 2013, segundo a “Futures Industry Magazine”, uma publicação setorial. Os volumes de ouro na bolsa de ouro de Xangai subiram 44% em julho em relação a igual período do ano anterior, para 316 toneladas, segundo a trading de metais preciosos Anthem Vault.
A China também está impondo sua presença em tradicionais centros negociadores de commodities. Em junho, o Bank of China Ltd., um dos quatro principais bancos estatais da China, tornou-se parte do programa secular de fixação diária de preço conhecido como Gold Fix, em que um grupo de bancos define o preço do ouro da London Bullion Market Association, uma referência para o setor. Em 2012, a London Metal Exchange, a bolsa de metais britânica, foi vendida para a Hong Kong Exchange & Clearing Ltd., enfraquecendo a americana Intercontinental Exchange Inc.
Bancos e fundos por toda a Europa estão reconhecendo o aumento da atividade na China ao dedicar equipes que permanecem monitorando esses mercados até tarde da noite. “Há muito mais negociações acontecendo à noite”, diz um operador da Sucden Financial de Londres.
Na capital britânica, os investidores também estão prestando mais atenção às negociações entre duas e seis da tarde, no horário de Londres, quando operadores noturnos da China entram na London Metal Exchange. “Os volumes são 20 vezes mais elevados do que veríamos no restante do dia”, diz Vivienne Lloyd, analista de metais do Macquarie Group.
Os efeitos da demanda chinesa por commodities serão sentidos bem além dos mercados financeiros. Bilhões devem ser gastos em infraestrutura no Canadá para enviar petróleo e gás para China e para o restante da Ásia. As commodities representam oito dos dez maiores itens de exportação da Austrália, grande parte seguindo para seu maior parceiro comercial, a China.
Fonte: The Wall Street Journal