O consumo de fertilizantes deve aumentar este ano no Brasil, estimam consultorias e bancos. As projeções de alta nas entregas variam de 2,50% a até 10%. O movimento é puxado pela recomposição dos volumes aplicados pelos produtores nas lavouras, em meio à queda dos preços dos insumos. Em 2022, após as cotações dos fertilizantes acumularem uma alta de 200%, o volume entregue ao mercado brasileiro recuou 10,40% na comparação anual, para 41.078 milhões de toneladas, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), que representa a indústria.
Perspectiva
Para o acumulado de 2023, a perspectiva do mercado é de um aumento nas entregas em relação a 2022, em virtude da queda acumulada ao longo do ano nos preços dos fertilizantes, em média de 40% no custo importado dos insumos, e do fato de os produtores gastarem no ano anterior parte da reserva acumulada nos solos. Até março, contudo, as entregas estavam 1,20% abaixo do reportado no 1º trimestre do ano passado, de 8.553 milhões de toneladas, segundo a ANDA.
A consultoria StoneX estima um aumento entre 2,50% e 5% nas entregas ao mercado em relação a 2022, para entre 42 milhões e 43 milhões de toneladas. Mas o número ainda pode ser revisado, indicou o Diretor de Fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello. “As compras dos adubos pelos produtores estão significativamente atrasadas, de 16% no fim de maio em relação ao ano passado e ao ano anterior. Para uso no 2º semestre, 44% estavam comercializados ao fim de maio e a janela de compra está ficando estreita. Esse atraso pode eventualmente vir a se refletir nas entregas totais do ano e gerar um nó logístico mais complexo na véspera da safra”, disse Mello.
O Itaú BBA estima aumento de 7% nas entregas, para 43.592 milhões de toneladas ao longo deste ano. Já o Rabobank estima um aumento de 10% no volume entregue para o mercado, de 45.2 milhões de toneladas. A perspectiva do banco é de aumento, sobretudo, no consumo de fosfato e de potássio este ano. “Embora os agricultores ainda precisem recuperar as compras de fertilizantes para a próxima temporada de plantio, esperamos que o consumo aumente em 2023 e retorne à linha de tendência”, indicou o analista sênior de Insumos Agrícolas do banco, Bruno Fonseca, em relatório recente sobre o mercado.
Relação de troca
Além dos baixos preços, um fator que deve estimular as compras e a recomposição dos volumes aplicados nas lavouras pelos produtores é a relação de troca (quantidade necessária da commodity para aquisição de 1 tonelada de adubo). Segundo o Itaú BBA, mesmo com as quedas dos preços dos grãos, as relações de trocas estão mais favoráveis ao produtor na comparação anual, o que pode impulsionar a retomada do consumo destes insumos.
Segundo dados compilados pelo banco, a relação de troca de fertilizantes com soja atingiu em junho o nível próximo das mínimas históricas dos últimos cinco anos. Para compra de 1 tonelada de fosfato monoamônico (MAP), eram necessárias no início do mês 15,12 sacas de 60kg de soja, enquanto para aquisição de 1 tonelada de cloreto de potássio (KCl), eram necessárias 11,30 sacas da oleaginosa. “A relação de troca de fertilizantes com a soja continua favorável, mesmo com a queda dos preços do grão, dado que a redução das cotações de fertilizantes foi mais intensas”, indicou o banco.
Para o trigo, a relação de troca ficou abaixo da média histórica dos últimos cinco anos, segundo o relatório do banco, em 1,60 tonelada de cereal para 1 tonelada de MAP, 1,19 tonelada de trigo por tonelada de KCl e 1 tonelada por tonelada de ureia. O movimento ocorre em virtude da sustentação dos preços do trigo, mesmo em níveis mais baixos em relação ao início do ano.
Milho
Em contrapartida, para o milho, a relação de troca tem sido desfavorável para o produtor. “Com as recentes quedas das cotações do milho, sendo mais intensas do que as quedas dos preços dos fertilizantes, a relação de troca tem piorado desde abril”, indicou o banco no relatório. Para aquisição de 1 tonelada de MAP, eram necessárias 41,52 sacas de milho. O índice era de 31,03 sacas do cereal para compra de 1 tonelada de KCl e de 26,01 sacas por tonelada de ureia.
Café
No café, também se observa uma melhora no poder de compra do produtor, com a relação de troca dos principais macronutrientes abaixo do mínimo histórico dos últimos cinco anos, segundo o BBA. Para aquisição de 1 tonelada de MAP, eram necessárias 1,84 tonelada do grão, 1,38 tonelada de café por tonelada de KCl e 1,15 tonelada de grão por igual volume de ureia.
Arroz
Para o arroz em casca, mesmo com as recentes quedas dos preços no Rio Grande do Sul, as relações de troca estão atraentes, próximas ou até abaixo da mínima histórica dos últimos cinco anos. Os indicadores eram de 27,05 sacas por tonelada de MAP, 20,22 sacas por tonelada de KCl e 16,95 sacas por tonelada de ureia.
Fonte: Broadcast Agro