Embora a presença dos fundos seja agora bastante forte nas commodities agrícolas, o mercado passa por um momento crítico, também pela intensa influência dos fundamentos, especialmente nos grãos.
“Por mais que os fundos atuem de forma mais técnica, hoje em dia também levam em conta fatores fundamentais. Recentemente tivemos uma alta volatilidade nas commodities agrícolas, com direção para cima, lucros expressivos, e obviamente chegou um momento em que eles colocaram uns ‘stops’ para garantir os lucros e não ter perdas maiores, como aconteceu na semana passada. E foi isso que fez o mercado cair mais do que deveria”, disse o consultor Steve Cachia, da Cerealpar e da TradeHelp, direto de Malta para o Notícias Agrícolas.
A tendência é de que essa oscilação continue, com os fundos inclusive podendo voltar novamente aos grãos em busca de boas oportunidades. Afinal, segundo Cachia, apesar de algumas chuvas benéficas, “ainda há muitas áreas nos EUA correndo o risco de não ter uma produtividade cheia como se espera”, ao lado de expectativas grandes em torno do que o USDA vai divulgar sobre a área efetivamente plantada no país nesta safra 2021/22.
Estes são números que podem mudar todo o papel norte-americano no contexto global de oferta e demanda, mas ainda não há um consenso sobre eles. Os dados serão divulgados no dia 30 de junho. “E quando não há um consenso, a primeira postura dos fundos é se defender e, na sequência, conhecendo os números, voltar ao mercado”, disse o consultor.
Definições
Concluída a safra americana, que, segundo Cachia, mesmo cheia e se desenvolvendo sobre boas condições de clima, ainda mantém os estoques de soja e milho apertados nos EUA, o mercado começa a redesenhar o quadro global de oferta e demanda e a precificar novas realidades.
Por enquanto, algumas definições são esperadas. “Parece um jogo de xadrez entre compradores e vendedores o mercado, onde primeiro teremos de ter essa definição sobre a área americana. Existe um certo consenso de que a área será maior, mas a situação climática não está definida”, afirmou o especialista. E diante das novidades que forem, ou não, se confirmando, o mercado vai redefinindo a sua direção.
Ao lado das questões fundamentais, os fundos e especuladores também seguem monitorando a recuperação econômica global e como essa retomada irá influenciar o consumo.
Forte demanda
“Tudo isso vai criar uma nova demanda. Já está ocorrendo com hotéis e restaurantes abertos (onde já é possível isso acontecer), isso sem mencionar a China. Estão olhando que a demanda realmente vai continuar forte e justifica preços historicamente altos em comparação com o que vimos na última década e também volatilidade”, disse Cachia.
“A tendência para os próximos seis, 12 meses, é de que o mercado de commodities agrícolas vai continuar em patamares altos e essa volatilidade dá oportunidade aos fundos especuladores de ganhar lucro, sem contar o risco climático”.
O executivo afirmou ainda que é comum no comportamento dos fundos se manterem mais afastados e “tendem a voltar” no início do mês.
“Quando falamos de produto para alimentação, o fator demanda é mais importante e o mercado acaba se sobressaindo de qualquer problema ou incerteza econômica que haja no mundo. A pandemia foi um exemplo disso, a crise de 2008, a Primavera Árabe”, acrescentou o consultor.
Segurança alimentar
“Com tudo que possa acontecer no mundo de ruim, a população precisa se alimentar. Então, nesse aspecto, em que o mercado mundial está passando de alguns anos de super oferta e, indiretamente de alimentos, para a possibilidade de (anos de) ajuste, menos abundância, a preocupação de muito países, principalmente aqueles em desenvolvimento, é de garantir o produto para alimentação animal e humana, independentemente do que acontece na esfera macroeconômica. O mercado agro, às vezes, difere de outras indústrias que temos no mercado internacional”, concluiu Cachia.
Fonte: Notícias Agrícolas
Equipe SNA