Menina-dos-olhos das exportações do agronegócio nacional, mais uma vez a soja e seus derivados devem liderar a produção de grãos no País na safra 2015/16, com expectativa de chegar a 96 milhões de toneladas, 11,5% a mais que as 86,1 milhões da lavoura anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo em destaque, a sojicultura brasileira tem desafios a enfrentar nos próximos anos, se quiser manter o crescimento do setor, que incluem área plantada; clima, com destaque para o efeito El Niño; crédito rural; custos dos insumos para o agricultor; taxa cambial, conforme o dólar; e a safra norte-americana.
De acordo com o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura Hélio Sirimarco, os produtores de soja devem elevar a área plantada, na próxima safra, pelo nono ano seguido, apesar de ter sofrido com o aumento dos custos de produção e com a queda de preços no mercado internacional.
“Mato Grosso, por exemplo, deve ter o menor crescimento da área plantada de soja em seis anos. Em uma década, a produção nacional de grãos cresceu 62%, apesar de área plantada ter aumentado apenas 19,2%. Isto quer dizer que houve elevação da produtividade em menos áreas”, ressalta Sirimarco.
Segundo o diretor da SNA, há uma estimativa de aumento de área de 2% no País, “mas a situação econômica nacional, que tem limitado os recursos disponibilizados pelo governo federal, e o acesso dos produtores ao crédito rural podem alterar essa previsão”.
INSUMOS
Os gastos com insumos pela sojicultura também é um desafio para o setor. Segundo previsões do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o gasto por hectare na próxima safra deve ser recorde, algo perto de R$ 3 mil/ha.
“O dólar, que tem ajudado o produtor, neste caso joga contra”, salienta Sirimarco.
Embora não tenha publicado sua primeira estimativa para a safra de soja 2015/16, a entidade já divulgou sete levantamentos de custos, sendo o primeiro, em novembro de 2014, que mostrava uma despesa média, tanto nas lavouras convencionais como nas transgênicas, de R$ 2,5 mil por hectare, com o dólar cotado a R$ 2,45.
Em abril, cita o diretor da SNA, com o dólar cotado a R$ 3,14, a estimativa do IMEA subiu para R$ 2,9 mil/ha. No mês seguinte, a mais recente estimativa, calculada com o dólar cotado a R$ 3,04, previa-se um recuo para um pouco mais de R$ 2,8 mil.
CRÉDITO RURAL
Para os empréstimos de custeio da agricultura empresarial pelo Programa Agrícola e Pecuário 2015/16 (PAP) ou Plano Safra, anunciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no último dia 2 de junho, a taxa de juros será de 8,75% ao ano e para os demais programas de investimentos deve variar de 7% a 8,75% ao ano, para faturamento de até R$ 90 milhões. Sirimarco destaca ainda que a parcela com juros controlados aumentou de R$ 87.9 bilhões para R$ 94.5 bilhões (+ 7,55%).
“Esse percentual é inferior ao IPCA (Índice de Pesquisa ao Consumidor Amplo) de abril, que foi de 8,17%, e a inflação dos custos de produção de abril de 2014 a abril deste ano, que foi 10,43%. Já o volume de recursos com juros livres aumentou de R$ 27 bilhões para R$ 57 bilhões.”
Sirimarco novamente cita dados do IMEA, que mostram que os produtores mato-grossenses ainda precisam desembolsar R$ 12.72 bilhões na compra de insumos para a próxima safra.
“O impacto financeiro já consolidado, em função da demora da liberação do crédito oficial, totaliza R$ 1 bilhão. Este atraso resultou em uma queda na comercialização de insumos, o que é uma situação bem atípica para o período.”
O diretor da SNA ainda aponta que os principais insumos – sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas – têm maior participação no custo total da produção agrícola, o que significou 58%, em média, nas últimas três safras.
“Um estudo do IMEA mostra que, entre estes insumos, a maior participação no custo de produção é dos defensivos agrícolas (53,3%), seguida por fertilizantes (29,42%) e sementes (17,29%).”
EFEITO EL NIÑO
Uma publicação da Bolsa de Comércio de Rosário afirma que deve haver um fenômeno do El Niño de intensidade fraca na Argentina, que afetará as lavouras de soja e milho no país, salienta Sirimarco.
Ele comenta que o diretor científico do Guia Estratégico para o Agro (GEA), José Luis Aiello, aponta que há 80% de probabilidade que ocorram chuvas acima da média histórica na Argentina, Uruguai e talvez no Brasil, mais especificamente no Estado de Rio Grande do Sul.
“No caso argentino, deve afetar a principal região produtora do país: o norte da província de Buenos Aires e sul de Santa Fé.”
No caso das culturas de inverno – como canola, cevada e trigo -, o desenvolvimento deve ser bom com temperaturas moderadas, irrupções de frio e calor, além de ventos fortes e chuvas convectivas. “Por isso, a publicação diz que a colheita de trigo será normal.”
Especialista em climatologia da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Eduardo Sierra explica que, durante os meses de abril e maio, o Oceano Pacífico Equatorial continuou a esquentar com temperaturas acima do normal e já é possível afirmar que a região já sente os efeitos iniciais do fenômeno El Niño. Sirimarco reforça que, segundo Sierra, os efeitos devem ser sentidos na América do Sul no início da primavera deste ano (a partir de 22 de setembro), quando começa o plantio de soja e milho de verão.
“As frequentes chuvas que acompanham o El Niño, nas principais áreas produtoras de trigo da América do Sul, já preocupam agricultores que colhem no segundo semestre, com possibilidade de perdas pela umidade, e já reduziram a intenção de plantio do cereal no Rio Grande do Sul.”
DÓLAR
Na opinião de Sirimarco, o dólar valorizado frente ao Real opera como uma “faca de dois gumes”. “Se por um lado ajuda na formação do preço de venda, por outro é ruim para a compra da maior parte dos insumos. Mas a expectativa é de que a moeda norte-americana se mantenha acima dos três reais no segundo semestre deste ano.”
Além dos fatores internos, o dólar tende a se manter forte no mercado internacional, com a perspectiva do início do ciclo de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos.
“O fortalecimento do dólar no mercado internacional, contudo, ao contrário do que ocorre no interno, é prejudicial para os preços das commodities norte-americanas, porque as torna mais caras. Como consequência, os preços internacionais tendem a cair, o que pode afetar os preços domésticos.”
SAFRA NORTE-AMERICANA
A safra 2015/16 dos Estados Unidos, segundo estimativa do USDA (sigla em inglês para Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgada no último dia 10 de junho, conforme seu relatório mensal de oferta e demanda, deverá alcançar 104.7 milhões de toneladas contra 108.2 milhões de toneladas da safra anterior, ainda vigente.
“Nos EUA, observa-se excesso de chuvas na região do Meio-Oeste, que já tem atrapalhado o ritmo do plantio de soja, causando preocupação aos produtores rurais. Há informações de agências de que o plantio está atrasado em vários estados, como Iowa, Kansas e Missouri. Em algumas áreas, comenta-se que existe o risco da necessidade de serem replantadas, mesmo o tempo sendo curto para se fazer isto.”
Sirimarco destaca também que o USDA mostrou que o plantio de soja nos EUA chegou a 79% da área até o último dia 7 de junho, com percentual abaixo da média dos últimos cinco anos e também do registrado em igual período de 2014.
“Além disso, o relatório indicou que 69% das lavouras estão em boas ou excelentes condições. Mesmo assim, o resultado está abaixo das expectativas do mercado, com queda se comparado com o mesmo período da safra 2014/15.”
Apesar dos problemas, Sirimarco destaca que, se tudo correr bem com a safra norte-americana, a tendência é de que os preços internacionais da soja venham a cair a partir de agora, no segundo semestre de 2015. “Caso isso aconteça, o produtor rural vai depender do comportamento do dólar para compensar perdas ocasionais.”
Por equipe SNA/RJ