Marcos Troyjo: “Comércio internacional é determinante para o desenvolvimento dos países”

O comércio internacional é determinante para o desenvolvimento dos países e foi o impulsor das ascensões econômicas mais vigorosas das últimas sete décadas no mundo.

A ideia foi defendida nesta terça-feira pelo economista brasileiro Marcos Troyjo, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), durante webinar sobre o panorama do comércio internacional, promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Cerca de 340 pessoas, do Brasil e do exterior, acompanharam o encontro.

“O comércio internacional é quase que uma precondição à arrancada econômica. É o grande motor de produção de prosperidade para países de diferentes estágios de desenvolvimento”, disse Troyjo.

Citando as dívidas dos mercados emergentes e a continuação da pandemia, o economista afirmou que há uma nuvem de incertezas no mundo neste começo de 2022, mas listou algumas certezas que podem servir de norte para quem lida com o mercado externo, entre elas o quão fundamental é a aposta no comércio internacional.

Casos de sucesso

“Se nós escaneássemos todos os grandes exemplos de milagre econômico, de ascensão econômica vigorosa nas últimas sete décadas, é absolutamente impossível encontrar um único caso de sucesso sem que esse sucesso tenha sido turbinado pelo comércio internacional”, afirmou Troyjo, citando China, Japão, Alemanha, Coreia do Sul, Singapura, Chile, Uruguai, Espanha e Emirados.

Ele listou ainda Brasil, Argentina, Turquia e Rússia, esses dois últimos por um certo período da história, como casos nos quais o comércio exterior não representa muito no Produto Interno Bruto (PIB).

Grande risco

Troyjo ressaltou a importância dessa mensagem no contexto atual, em que há uma tendência protecionista ou “precaucionista”.

O distanciamento dos acordos internacionais, o “ensimesmamento” dos países, a diminuição das redes de cooperação e de suprimento global e a substituição de importações são vistos pelo brasileiro como um grande risco, já que, segundo ele, a experiência mostra que o comércio exterior é trampolim para o desenvolvimento.

Economias emergentes

Outra certeza apresentada por Troyjo foi o crescimento da importância das economias emergentes no comércio internacional.

Segundo o economista, os países do G7 (sete economias mais maduras do mundo), que são Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, tiveram em 2021 um PIB combinado de US$ 42 trilhões, levando-se em conta a Paridade do Poder de Compra (PPC). Já das sete maiores economias emergentes do mundo (E7), China, Índia, Rússia, Indonésia, Brasil, México e Turquia, o PIB pela PPC, é de US$ 53 trilhões.

Nesse panorama de economias em ascensão, Troyjo juntou os países árabes, que pela PPC têm PIB de US$ 5 trilhões. “É um mercado muitíssimo considerável, de grande volume, de grande robustez e dinamismo e que, claro, vai afetar os fluxos de exportações e importações”. Segundo ele, o Brasil exportou ao Egito, em 2021, mais do que vendeu para Austrália, Israel, Ucrânia e Nova Zelândia juntos. Ao Bahrein, mais que para a Noruega.

O lugar do trabalho

Outra tendência apontada pelo economista foi a reconfiguração das cadeias globais de valor, deixando para trás a divisão internacional do trabalho, em que as atividades de pesquisa e marketing ficavam nos Estados Unidos e Europa e a planta de manufatura em países de baixa remuneração do trabalho.

“É claro que isso ainda continua e que, em alguma medida, ainda é um referencial importante, mas mais uma vez está sendo reconfigurada”, afirmou Troyjo. Para ele, essa reconfiguração se dá atualmente não só pela geopolítica, mas pela evolução das economias.

Posicionamento

O especialista falou também sobre o posicionamento do Brasil no mercado internacional, que é um país exportador de commodities.

“Não tem problema nenhum em ser um grande exportador de commodities. Um dos países que mais produz commodities e mais exporta commodities, no mundo, que são os Estados Unidos, é o país também que tem o maior estoque no depósito de patentes na Organização Mundial da Propriedade Intelectual. É um dos países mais inovadores do mundo”, destacou Troyjo.

Segundo o economista, “o segredo é a agregação de valor e o fato de que o Brasil pode potencializar suas vantagens na produção de alimentos ou minério, por exemplo, agregando valor a elas.”

Novos acordos

Troyjo apresentou ainda uma quarta tendência, que é o novo modelo dos acordos externos. “Durante muito tempo os acordos internacionais foram sobre tarifas, sobre cotas de exportação e importação. Nós estamos vivendo agora uma fase no mundo do que nós podemos chamar de tratados internacionais de quarta geração”, disse.

Os novos acordos, segundo o palestrante, levam em conta fatores como legislação de propriedade intelectual, práticas de proteção ambiental e desenvolvimento sustentável, compras governamentais, política industrial de conteúdo local, entre outros.

NDB

Troyjo ocupa a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) há quase dois anos. A instituição nasceu como Banco do BRICS, grupo formado por Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul, para apoiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nesses países.

Recentemente foram admitidos ao NDB novos membros: Uruguai, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos e Egito. A instituição tem uma carteira de projetos de US$ 32 bilhões em áreas como água, saneamento, estradas, ferrovias, metrô urbano e energias limpas.

Câmara Árabe

O presidente da Câmara Árabe, embaixador Osmar Chohfi, abriu o webinar sobre o cenário internacional e apresentou a agenda da entidade para 2020, ano em que a Câmara comemora 70 anos.

Além de falar sobre a data especial, Chohfi abordou o comércio exterior, traçando um panorama sobre a atual relação do Brasil com os países árabes. As exportações brasileiras aos árabes somaram mais de US$ 14 bilhões no ano passado, com alta de 26% sobre 2020, e as importações ficaram em US$ 10 bilhões, com avanço de 82%.

O embaixador disse, no entanto, que há oportunidades para o aprimoramento desse comércio e que a Câmara Árabe vai trabalhar para ampliar a diversidade da pauta, com a formalização de novos acordos de livre comércio, a assinatura de acordos de facilitação de investimentos e a implementação de linhas logísticas diretas.

Chohfi citou também algumas ações próximas, como a participação na feira de alimentos e bebidas Gulfood, que ocorre neste mês em Dubai, e na qual a Câmara Árabe terá um espaço com exposição de grande número de produtos com valor agregado.

 

 

Fonte: Comex do Brasil, com informações da Agência de Notícias Brasil-Árabe

Equipe SNA

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp