Diante da tensão criada pela ameaça dos europeus, o Ministério da Agricultura declarou o autoembargo de mais sete frigoríficos de aves da BRF para a União Europeia. A suspensão é válida a partir de hoje. Com a decisão, chega a dez o número de unidades da BRF espalhadas pelo país impedidas de exportar para a UE, pelo menos temporariamente.
Em comunicado ao mercado, a BRF confirmou a decisão do governo brasileiro. A suspensão das exportações da BRF é um efeito direto da Operação Trapaça, investigação da Polícia Federal que na semana passada revelou um esquema de fraudes envolvendo laboratórios e a própria BRF na análise de bactéria salmonela em lotes de carne de frango.
Estão suspensos os embarques para os europeus das unidades da companhia com selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) de números: 1 (Concórdia-SC), 18 (Dourados-MS) , 103 (Serafina Correa-RS), 104 (Chapecó-SC), 292 (Várzea Grande-MT), 2014 (Marau-RS), 2518 (Francisco Beltrão-PR), 466 (Capinzal-SC), 4567 (Nova Mutum-MT) e 1007 (Rio Verde-GO).
Além da suspensão de vendas para a UE, as unidades de Mineiros (GO), Rio Verde (GO) e Carambeí (PR) já não podiam exportar para qualquer mercado desde a semana passada, por uma decisão do Ministério da Agricultura em reação à Operação Trapaça.
As novas suspensões, determinadas ontem pelo Mapa, foram assinadas pelo secretário de Defesa Agropecuária Luís Eduardo Rangel, e entregues à Comissão Europeia. A medida foi adotada como cautela na tentativa de se antecipar aos europeus, que já haviam ameaçado suspender todas as importações. A pasta comunicou a BRF na noite de ontem.
O secretário Rangel parte para Bruxelas na próxima segunda-feira, onde levará uma proposta de novos procedimentos de fiscalização do Ministério da Agricultura para tentar evitar o embargo definitivo das plantas da BRF e amenizar a crise.
A estratégia é adotar controles adicionais de salmonela em amostras de carne de frango e perus da empresa. À medida que os testes derem negativo para a bactéria, o ministério vai pleitear a retirada da suspensão para as plantas aprovadas e retomar com as certificações sanitárias para exportação ao bloco europeu. A informação é de uma fonte a par das negociações.
Esse roteiro já foi feito em 2017, quando a pasta da Agricultura chegou a suspender as exportações de plantas da BRF após identificar que a companhia não vinha cumprindo com os padrões aceitáveis de salmonela em carne de frango em algumas de suas unidades. “Semana que vem é uma semana chave, e foi preciso dar sinais como esse”, disse uma fonte.
O ministro Blairo Maggi e a cúpula do ministério estão evitando comentar sobre o assunto com receio de contaminar as negociações com os europeus. Mas interlocutores do ministro admitem que a avaliação do Mapa é de que os europeus endureceram demais as exigências e o tom nas cobranças, cometendo, por vezes, “exageros”.
No fim da semana passada, o Reino Unido já havia dado um susto no Brasil ao comunicar o Itamaraty e o Ministério da Agricultura que iria deter qualquer carregamento de carne de frango e derivados da BRF que tentasse chegar aos seus portos. No entanto, a diplomacia brasileira conseguiu reverter a possível restrição.
Fonte: Valor Econômico