“A sustentabilidade do agronegócio, seja na produção de alimentos, de fibras ou de energia, depende cada vez mais de manejos racionais e práticas eficazes no uso e conservação da água.”
A afirmação é de Demetrios Christofidis, coordenador-geral da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O debate sobre o assunto ganhou novo fôlego recentemente por causa das comemorações, por todo o País, do Dia Mundial da Água, em 22 de março.
Para alcançar uma meta audaciosa, mas possível, ele destaca que as ações do órgão têm como objetivo “proporcionar a elevação da eficiência do uso da água na agricultura irrigada em 15% nos próximos 10 anos, e em 20% até o ano 2030”.
Especialista em Infraestrutura Hídrica – Recursos Hídricos, mestre em Engenharia da Irrigação e doutor em Gestão dos Recursos Hídricos, Demetrios destaca que o desenvolvimento e manejo sustentável estão atrelados à agricultura irrigada, que propicia “a expansão das áreas produtivas com agricultura, com uso eficiente de água, possibilitando a liberação de recursos hídricos para as demais finalidades que utilizam a água”.
Em sua opinião, é necessário que o produtor rural reaprenda a usar este bem natural, que não é inesgotável. “(Re)aprender a utilizar a água no campo, em tempos de crise hídrica, é essencial para a sobrevivência do agronegócio, pois o recurso hídrico já apresenta variações climáticas que afetam sua disponibilidade no tempo e no espaço, nos tempos atuais e no futuro. Tornar-se-á cada vez mais escasso em decorrência de três fatores principais: as mudanças climáticas; a disputa da água por outros setores usuários que apresentam maiores prioridades que a agricultura; e a degradação da qualidade das águas.”
MEDIDAS
Para Demetrios, existem várias medidas que podem melhorar a produtividade da água nos empreendimentos agrícolas, especialmente naqueles que lidam com a agricultura irrigada.
“Há medidas que trabalham com os fatores aspectos físicos estruturais: os solos, o clima, os cultivos, os técnicos e os tecnológicos. Existem também os fatores humanos, as expectativas dos agricultores, os institucionais, os organizacionais e os legais, que são os fatores que direcionam a maiores e melhores resultados. Eles envolvem o desenvolvimento de capacidades e indutores da adesão às práticas de sustentabilidade aplicadas à agricultura irrigada, atuando com o agente mais importante envolvido na agricultura que é o produtor, o ser humano.”
Ele ressalta que tais aspectos constituem a base da atuação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), visando induzir que os empreendimentos agrícolas tenham elevado padrão de sustentabilidade ambiental.
“Foram esses fatores que levaram o Mapa a se dedicar à assinatura do Acordo de Cooperação Técnica com o Ministério da Integração Nacional, Ministério do Meio Ambiente e a Agência Nacional de Águas”, ressalta.
PROPOSTAS DO MAPA
Demetrios informa que o Acordo visa desenvolver uma proposta de Política Nacional Integrada de Conservação de Água e Solos; formular e testar programas conjuntos de incentivo ao uso eficiente da água na irrigação; elaborar propostas de aprimoramento e de adaptação das atividades regulatórias da ANA que atendam ao meio rural, com ênfase na outorga de direito de uso da água para irrigação.
Também pretende apoiar e subsidiar a implantação e operação, em tempo real, do Sistema Nacional de Informações sobre Irrigação; incrementar e ampliar o Programa Produtor de Água/ANA; propor e estimular o desenvolvimento de outras iniciativas que regulamentem e incentivem o pagamento por serviços ambientais no meio rural; em por fim, desenvolver e implementar um programa conjunto de capacitação, visando à gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos no meio rural.
Conforme o coordenador-geral da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Mapa, atualmente o País apresenta cerca de 80% de sua área dotada de equipamentos de irrigação atendida por sistemas de irrigação por aspersão e por irrigação localizada (gotejamento e micro-aspersão).
“O uso de tais tecnologias facilita o manejo. A eficiência total dos sistemas de irrigação no Brasil é da ordem de 63%, melhor que a média mundial que é da ordem de 54%. Tal fator indica que o uso dos sistemas modernos na agricultura, em conjunto com a conscientização e capacitação dos irrigantes, tem permitido elevar as possibilidades de obtenção de maiores índices de eficiência no uso de água na irrigação.”
EFICIÊNCIA
Demetrios explica que as propostas emergentes de alternativas ao desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada “são de incentivo à reconversão de sistemas de irrigação para aqueles com maiores capacidades de aumento da eficiência de aplicação de água aos cultivos, em substituição aos sistemas que apresentam baixa eficiência”.
“Nesta transformação, surgem com maior vantagem, além do manejo adequado dos sistemas de irrigação por superfície, os métodos que elevam a uniformidade de aplicação de água como os por aspersão e irrigação localizada como gotejamento e micro-aspersão os equipamentos de maior facilidade de controle.”
Para o coordenador, as possibilidades devem chegar ao campo e, consequentemente, ao agricultor pela oferta de crédito para aquisição de sistemas de irrigação definidos no Plano Agrícola e Pecuário 2014-2015, que o Mapa concebeu e está sendo praticado no País
“O PAP proporcionou a redução da taxas de juros para financiamento de sistemas de irrigação, que atualmente é de 4% ao ano, o que induziu à ampliação do número de empreendimentos de irrigação. O número de projetos com sistemas modernos de irrigação, que são mais efetivos no uso de água em agricultura irrigada, elevou-se de 640, em 2012, para aproximadamente onze mil em 2014.”
DEBATES EM ABRIL
Para dialogar e traçar novas metas sobre a gestão da água no Brasil, o Ministério da Agricultura propõe um amplo debate, que acontecerá em abril deste ano, coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Conforme Demetrios, a partir destes encontros, será gerado um conjunto de informações reais e corretas que possibilitem haver o adequado esclarecimento sobre os benefícios reais da agricultura e da irrigação, ao meio ambiente e à quantidade, à qualidade e à oportunidade de disponibilização de águas para as diversas outras finalidades.
“Especialistas vão debater visando rever os conceitos superados e que levam a que exista esse preconceito, que está generalizado, de que a agricultura é uma usuária vilã da água. Vamos explicar a realidade da dinâmica da água, que é proporcionada pela agricultura irrigada, quando praticada com manejo adequado, respeitando as condições do clima, do solo, das águas, dos cultivos, do meio ambiente, dos agricultores, trabalhadores e consumidores.”
Por equipe SNA/RJ