Mandioca encara crise sem limites

O Dia Nacional da Conservação dos Solos é nesta quarta-feira, dia 15 de abril. A data se soma ao Ano Internacional de Conservação do Solo, instituído pela ONU para provocar a reflexão sobre o uso e as formas de manejo, fundamental para garantir a produção de alimentos.

No Rio Grande do Sul não é diferente e, para marcar a data e o ano, várias instituições, entre elas a Emater/RS-Ascar, estão construindo uma proposta de programa estadual, que retome fortes ações de operação, “a exemplo do que já aconteceu no passado, como a operação Tatu (de 1950 a 1970), o projeto Metas e o RS Rural”, lembra o diretor técnico da Emater/RS, Lino Moura.

“Depois de acreditarmos que o plantio direto tinha resolvido à questão da conservação do solo, constatamos que essa técnica não é suficiente, pois há grandes perdas de solo, principalmente de água. Mesmo em áreas de plantio direto, quando mal manejadas, o solo fica compactado, o que impede a entrada das raízes e da água em profundidades maiores”, analisa Moura. A água que não infiltra no solo causa erosão nas lavouras e nas estradas, depositando sedimentos nas baixadas e assoreando rios, “levando agroquímicos e contaminando os mananciais hídricos, o que exige uma reflexão da sociedade em geral e dos técnicos”, defende o diretor.

Para o novo programa estadual de conservação dos solos, que está sendo construído em parceria entre Emater/RS-Ascar, Embrapa, Secretarias de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo e da Agricultura e Pecuária e Fepagro, várias propostas para o Estado estão em elaboração. “A Emater tem um papel muito importante nessa estratégia, pela capilaridade e atuação junto a mais de 220 mil famílias de agricultores”, destaca Moura, ao citar as técnicas de manejo, a cobertura do solo, a rotação de culturas, a retomada da construção de terraços e a conservação da água nas lavouras, que garantem boas condições de estruturação e recompõem a boa fertilidade do solo, diminuindo os problemas de estiagem.

USO SUSTENTÁVEL DO SOLO

“Conservar o solo é usá-lo de tal forma que as taxas de erosão não sejam superiores à taxa de formação do solo”, explica Edemar Valdir Streck, assistente técnico estadual em Recursos Naturais da Emater/RS-Ascar, ao destacar que, para o solo ter um uso considerado sustentável é preciso que a taxa de erosão seja inferior a 100 kg de terra por hectare/ano (solo/ha/ano). “É preciso haver um equilíbrio entre taxas de erosão e de formação do solo, que ocorre a partir da decomposição das rochas”, diz Streck, ao explicar que “a taxa de formação é variável de acordo com as condições climáticas locais e a presença de microrganismos, que formam o solo, auxiliados pela vegetação”, diz, ao ilustrar que é formado um (01) milímetro de solo em média a cada 250 anos, correspondendo a um valor aproximado de 80 kg de solo por hectare ano.

Pesquisas recentes em erosão, durante cinco anos, avaliaram perdas de solos sob mata nativa e eucalipto, sob chuva natural, na grandeza respectiva de 37 e 135 kg de solo/ha/ano. Estes valores podem variar de um local para outro, conforme os fatores climáticos locais, solo e o sistema de manejo. Também taxas de erosão foram avaliadas no plantio direto com trigo/soja, durante quatro anos, e um sistema de plantio direto com rotação de culturas (ervilhaca, milho, aveia) e sucessão soja, trigo, soja e trigo, durante nove anos, as quais foram na grandeza de 1.281 e 180 kg/ha/ano. “A partir disso, podemos concluir que o uso do solo é sustentável quando for utilizado sob mata nativa, reflorestamento ou num outro sistema de manejo com plantio direto, nos quais as taxas de perdas por erosão fiquem próximas às taxas de formação do solo”, avalia Streck.

“POR ÁGUA ABAIXO”

A expansão da agricultura, especialmente das monoculturas trigo/soja, a mecanização intensa e desproporcional à capacidade das lavouras, o desrespeito ao zoneamento agroclimático das culturas e a eliminação de algumas práticas conservacionistas, com redução da capacidade de armazenamento de água, são alguns fatores que aceleram o processo de erosão do solo. “Aliado ao uso e manejo inadequado do solo, vem ocorrendo no Estado um excessivo e desordenado uso de agrotóxicos nas culturas anuais, especialmente na soja, causando desequilíbrio ao meio ambiente”, analisa Streck.

Segundo Streck, a taxa de erosão varia de acordo com o regime e a intensidade das chuvas, do tipo e da declividade do solo, do sistema de uso e manejo adotado e em função das práticas conservacionistas complementares utilizadas, como o cultivo em contorno e transversal ao declive, a manutenção e construção de terraços e a implantação de cordões vegetados. “Sem essas técnicas, a água da chuva não é absorvida pelo solo e ocorrem grandes perdas de água, redução no armazenamento de água no lençol freático e maior oscilação de vazão dos mananciais hídricos”, observa o técnico.

DESAFIOS

“Em razão de termos um clima muito instável no RS, períodos de chuvas excessivas e outros, de estiagens, é necessário desenvolver ações de uso, manejo e conservação do solo e da água, para reduzir perdas por erosão e armazenar mais água no solo”, afirma Streck, ao salientar que o armazenamento da água das chuvas em barragens e açudes também é importante para atender os sistemas de irrigação e a regularização de vazão dos mananciais hídricos. O sistema de manejo do solo com rotação de culturas e plantas recuperadoras de solo, como o nabo forrageiro após colheita da soja precoce e depois com trigo ou aveia no inverno, é uma alternativa destacada como viável para melhorar as condições físicas e o armazenamento de água no solo.

De acordo com o técnico, a degradação do solo e a escassez de água impõem um novo desafio à tarefa de alimentar a futura população mundial. “Este alerta foi dado pelas Nações Unidas, declarando o ano de 2015 como o Ano Internacional dos Solos, para chamar a atenção da sociedade e setor público em geral da necessidade de desenvolver ações para aumentar a produtividade e a conservação dos recursos naturais”, afirma Streck.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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