O potencial do agronegócio brasileiro para produzir, exportar e abastecer o mercado interno, mesmo durante a pandemia, é um dos principais fatores de sustentação da economia do País. O comentário foi feito pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, durante o evento virtual que comemorou os 124 anos da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
Segundo o ministro, o agro, combinado ao esforço do governo ao oferecer o auxílio emergencial, está mantendo “os sinais vitais” da economia brasileira. “A economia foi retomada e o choque da pandemia foi absorvido”, disse ele.
“O impulso do agronegócio foi o sangue que manteve a economia circulando, não só nas exportações como em seu sistema interno, aliado ao auxílio emergencial para as populações mais carentes”, ressaltou Guedes, lembrando que o crescimento das exportações para países como a China, a Índia e a Indonésia também garantem suporte à agricultura e à economia brasileira.
Fábrica de alimentos
“O agro continua a dar um show de competência em produção e produtividade. Nossos produtores transformaram o Brasil numa verdadeira fábrica de alimentos, exportando US$ 100 bilhões ao ano, e isso é uma demonstração inequívoca de sua capacidade empreendedora”, afirmou o presidente da SNA, Antonio Alvarenga.
Segundo ele, as perspectivas para 2021 são positivas. “Estamos começando o ano muito bem, com as commodities em alta, o clima politico mais estável e as perspectivas de crescimento da economia, provavelmente a partir do segundo semestre do ano”.
Auxílio emergencial
Guedes destacou que o programa de auxílio emergencial na pandemia resultou em um processo de cadastramento e digitalização de 64 milhões de brasileiros.
“Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 75% do auxílio foi destinado aos brasileiros mais pobres. É um programa de eficácia extraordinária e de impacto forte. Chegou-se a dizer que foi a maior redução de pobreza dos últimos 40 anos”, declarou o ministro.
Na ocasião, ele defendeu a continuidade do benefício em razão da segunda onda do Coronavírus, porém, sob a condição de estabelecer um compromisso com a responsabilidade fiscal e as futuras gerações.
“Pretendemos estender o auxílio emergencial, mas com a manutenção de um protocolo de exceção, transformando a PEC do Orçamento de Guerra numa cláusula de calamidade pública, um caso agudo de emergência fiscal, dentro de um pacto federativo”, explicou Guedes.
“Caso contrário, correremos o risco de um descontrole fiscal completo, com a volta da inflação, do desemprego, com fuga de capitais, etc. Temos de pagar a conta agora e não deixar dívidas para as futuras gerações”.
Reformas e lições
Ainda durante o evento, o ministro defendeu maior controle dos gastos públicos, o avanço das reformas previstas pelo governo e o aumento dos investimentos privados. “Temos o protocolo, sabemos como agir”.
Guedes também comentou a aprovação do recente projeto de lei sobre a autonomia do Banco Central. “É um avanço institucional extraordinário, importante para a despolitização da moeda, para dissociar o aspecto político da preservação do poder de compra da moeda, dos salários, das aposentadorias, etc.”
Para o ministro, a pandemia deixou duas lições. “A política deve reassumir o protagonismo no comando dos orçamentos públicos, e isso inclui não aumentar os gastos com salários, assim como fizemos no ano passado e iremos fazer esse ano”, afirmou.
“Ainda não tivemos a coragem de desindexar, desvincular e desobrigar os orçamentos públicos”, acrescentou Guedes.
O segundo ensinamento da crise, concluiu o ministro, é que, “para remover a pobreza, é preciso dar o dinheiro diretamente na mão do pobre, em vez de lançar mão do aparelho de estado, com seus bancos públicos, organismos, autarquias e instituições. Temos de descentralizar os recursos”.
Confiança
Ao comentar o discurso de Guedes, Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), afirmou que está confiante e que o setor cooperativista agropecuário continua em crescimento, sendo responsável, atualmente, por 54% da originação dos produtos da agricultura brasileira.
Imagem
Alexandre Ghisleni, diretor do Departamento de Promoção do Agronegócio do Itamaraty, falou sobre as preocupações em torno da imagem do agro brasileiro e sobre o desafio de “reposicionar o debate público com base em fatos, para que o setor seja analisado como ele realmente é, e não como está sendo vendido”.
Ghisleni acrescentou que o agro brasileiro continua a aumentar suas exportações, com esforços para diversificar suas pautas, ampliar os parceiros comerciais e gerar empregos, e ressaltou a importância da colaboração da SNA nesse processo.
Também abordando a questão da imagem do agronegócio, o chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, reconheceu que hoje “há um tiroteio de informações sobre a Amazônia” e defendeu a elaboração de um relatório anual para que o agro possa informar a real situação do bioma, em seus mais variados aspectos.
Código Florestal
Presente ao encontro, o ex-ministro Aldo Rabelo falou sobre os desafios da sustentabilidade, afirmando que o Brasil ainda vive um processo da afirmação do Código Florestal.
Segundo ele, “apesar da aceitação de todas as imposições da lei aos produtores rurais, ONGs e Ministério Público relutam em adotar o código, ou seja, tudo aquilo que garante segurança jurídica aos agricultores”.
Aldo Rebello informou que “ainda há uma batalha nos tribunais em torno dessa legislação” e ressaltou que, apesar dos problemas do País, sua visão é otimista.
Conjuntura
O ex-ministro Marcílio Marques Moreira destacou a importância do Brasil como fornecedor de alimentos para o mundo, reconheceu o grande desempenho do agronegócio em 2020 e, sob o aspecto econômico, afirmou que a imprensa brasileira “está acentuando demais os problemas do País”.
Para Moreira, a conjuntura econômica do Brasil “tem desafios enormes, mas também tem grande potencial”. Prova disso, completou o ex-ministro, “é o novo ranking do Banco Mundial que relaciona os países com maior capacidade de pagamento, onde o Brasil aparece em sétimo lugar na lista, à frente da Alemanha, França, Inglaterra, entre outros”.
Tecnologia
Ressaltando o papel da tecnologia no agronegócio, o ex-ministro Márcio Fortes de Almeida afirmou que “o movimento tecnológico na produção consegue atender as exigências do consumidor atual” e destacou a evolução técnica dos equipamentos que apoiam a atividade agrícola.
“Tudo isso reflete os esforços para termos um setor competente, avançado e competitivo, mas que muitas pessoas preferem atacar. Na verdade, são falácias de competidores que querem entrar no mercado e proteger sua produção não-competitiva”, disse o ex-ministro, chamando a atenção para o desempenho do governo na abertura de novos polos de exportação.
Expectativas
Caio Carvalho, presidente Academia Nacional de Agricultura, afirmou que as expectativas pós-pandemia são bastante favoráveis. “Precisamos torcer pelas reformas, pela boa comunicação do agro e pelo protagonismo brasileiro em questões como os créditos de carbono, e contando com a atuação da SNA. E, acima de tudo, precisamos ter confiança”.
Presenças
O evento contou com a presença de autoridades, políticos e de lideranças empresariais e do agronegócio, tais como José Roberto Tadros, presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC); Carlos Melles, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e os ex-ministros Guilherme Afif, Roberto Rodrigues, Izabella Teixeira, José Botafogo Gonçalves, Márcio Fortes, Aldo Rebello, Marcílio Marques Moreira e Josélio Moura.
Diversas personalidades do cenário econômico e do agro também se fizeram presentes, tais como Rubem Novaes, Antônio Queiroz, Osaná Almeida, Luiz Schymura, Marco Aurélio Vieira, Jacyr Costa, Cesário Ramalho, Tereza Vendramini, João Guilherme Ometto, Antonio Camardelli, Ingo Ploguer, Walter Horita, Edivaldo Del Grande, Maurilio Biaggi, George Pinheiro, Rodolfo Tavares, Muni Lourenço, entre muitos outros.
O vídeo do evento pode ser assistido no Canal da SNA no YouTube, no link: https://youtu.be/Q3EAXb8_Zi0.