Que tal levar à mesa frutas livres de fungicidas e agroquímicos? É o que promete um novo processo da fruticultura, que utiliza água quente aspergida em temperaturas mais elevadas que as atuais, seguido pelo resfriamento em jatos d’água fria ozonizada, para interromper o processo térmico. O tratamento pós-colheita é resultado de estudos da Embrapa Meio Ambiente (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Para o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Joel Naegele, aparentemente os custos da produção poderiam ficar mais elevados, mas o que importa é a qualidade das frutas e a saúde dos consumidores.
“O problema do tratamento das frutas com produtos químicos é uma antiga e persistente preocupação dos consumidores e dos eternos críticos. Acho que o que está sendo previsto (pela Embrapa) eliminaria a preocupação dos consumidores”, opina Naegele.
No início, o procedimento ficaria mais dispendioso até porque os produtores teriam de investir na fase de pós-cultivo, com novas instalações e equipamentos. Mas depois disso, o investimento compensaria, assegura o pesquisador Daniel Terao.
“O custo do processo é mais barato em relação ao atual, que usa fungicidas de valor elevado, e com o passivo relacionado ao meio ambiente à saúde humana, pois contamina o produto. (O fruticultor) Teria inicialmente o custo de investimento com instalações, que poderiam ser adaptadas aos equipamentos já existentes no packing-house (casa de embalagem). Usa fontes renováveis, no caso da água aquecida e ozonizada com sistema de reciclagem, luz ultravioleta C e extrato de plantas”, informa o especialista.
Terao defende que o novo processo de cultivo de frutas apresenta tanto vantagens comerciais ao produtor e ao exportador como ao consumidor comum, pois disponibilizará frutas limpas.
“O procedimento não seleciona raças resistentes de microrganismos, porque não apresenta a especificidade dos fungicidas sistêmicos. Com relação ao tratamento térmico convencional, atualmente usado, existe a vantagem de usar um volume muito menor de água limpa e renovada constantemente durante o processo, evitando o acúmulo de esporos de fungos e economizando energia se comparado às imensas balsas de água aquecida utilizada atualmente no tratamento térmico por imersão de frutas”, explica Terao.
EFICIÊNCIA
Conforme o pesquisador, o novo processo mostra-se mais eficiente para a fruticultura em relação ao controle de determinadas espécies fúngicas que os fungicidas.
“Utilizamos recursos renováveis no processo, como água aquecida e ozonizada recicláveis e luz ultravioleta C, sem a dependência de derivados de petróleo. Isto aumenta o tempo de vida útil de prateleira do produto. É um processo sustentável e traz benefícios ao meio ambiente, pois utiliza menor volume de água e menor consumo de energia, além de não disponibilizar produtos tóxicos”, reforça.
Para que o fruticultor tenha acesso e possa utilizar o novo processo de cultivo em campo, Terao destaca que “estamos validando o processo com empresas do setor privado, do ramo produtivo e industrial, que em breve estarão comercializando o produto, com o acompanhamento da pesquisa da Embrapa, uma vez que existe uma grande especificidade para cada espécie e variedade de fruta, e para cada espécie fúngica, causadora de doenças pós-colheita”.
De acordo com o pesquisador, este processo poderá ser usado tanto em pequenas propriedades e cooperativas que beneficiam as frutas dos produtores, em packing-house comunitário, como por grandes empresas produtoras e exportadoras de frutas.
“O módulo de processamento de frutas deve ser adequado a cada realidade, de maneira a não alterar muito o layout atual para não onerar o processo.”
EXPORTAÇÃO
Um dos aspectos destacados no projeto da Embrapa Meio Ambiente, segundo Terao, é disponibilizar alternativas viáveis ao uso de fungicidas no tratamento pós-colheita de frutas para a exportação, uma vez que existe restrição cada vez maior aos resíduos químicos nos países importadores de frutas, caminhando para a exigência de inocuidade.
“As doenças pós-colheita não podem ser detectadas no momento do embarque, pois estão quiescentes e assintomáticas, desenvolvendo os sintomas durante o período de transporte e armazenagem da fruta, que na exportação demoraria mais que 20 dias, até chegar à mesa do consumidor final. Por isso, se usa fungicidas, muitas vezes de maneira empírica, para evitar sérios prejuízos, por não haver alternativa de controle disponível”, detalha o especialista.
Segundo ele, é importante destacar que o modelo tecnológico sugerido pela Embrapa Meio Ambiente não elimina resíduos oriundos do mau uso de agroquímicos no campo.
“Frutas produzidas no sistema de produção orgânico, que não usa agroquímicos no campo ou mesmo o convencional, com a utilização adequada e correta de fungicidas e inseticidas, durante o ciclo produtivo, respeitando-se o período de carência, podem ser colhidas sem resíduos químicos.”
SEM CONTAMINAÇÃO
Conforme Terao, “o novo modelo tecnológico evita a contaminação das frutas nos tratamentos pós-colheita, mantendo-se a qualidade, possibilitando assim, a disponibilização de frutas livres de resíduos químicos e, dessa maneira, baseada em análises laboratoriais amostrais que comprovem a inocuidade, receber um certificado de garantia, que valorizaria bastante o produto na comercialização”.
Por enquanto, ressalta o pesquisador, a Embrapa Meio Ambiente está trabalhando com frutas redondas ou ovais, com capacidade de rolagem nas esteiras de processamento, como manga, laranja, melão e limão. “Mas o processo poderá ser adequado para ser usado no tratamento de outras frutas e olerícolas. No entanto, é preciso que sejam realizados trabalhos de pesquisa específicos para avaliar as melhores combinações de tempo e de temperatura e de doses ideais de luz ultravioleta C para cada produto, já que existe grande especificidade do processo para cada espécie e variedade.”
Por equipe SNA/RJ