Mais do que taxar importação, Brasil precisa ter agenda interna para o leite

Por Mauro Zafalon

A retirada da taxa antidumping do leite de 14,8% da União Europeia e de 3,9% da Nova Zelândia não é uma decisão política, mas baseada em investigações técnicas. Renovável a cada cinco anos, a retirada dessas taxas já havia sido recomendada no governo de Michel Temer. Não deveria ter causado surpresas. A avaliação é de Sandra Rios, diretora do Cindes (Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento).

Para ela, as discussões deveriam ter outro foco. O país precisa mais de uma agenda interna para o leite do que medidas de proteção via importações. O setor brasileiro está fragmentado em pequenos produtores, principalmente no Sul. Competitividade, redução de custos e maior utilização de tecnologia fazem parte de uma evolução necessária.

Entre as saídas, a diretora do Cindes diz ver a necessidade de uma redução dos custos de importações de máquinas a serem utilizadas pelo setor. Ela destaca ainda que o produtor deveria ter mais acesso ao crédito e ser mais bem preparado para fazer uso das novas tecnologias.

A insistência nas elevadas taxas de importações traz desafios futuros ao setor, que não é competitivo na produção de leite em pó. Se o Brasil quer se inserir no mundo, vai ter de abrir mercado. Alguns setores serão punidos inicialmente e terão de se adaptar. A taxa de 28% para a importação do leite em pó para os países fora do Mercosul já é elevada.

Rios cita o exemplo das negociações entre Mercosul e União Europeia. A Argentina e o Uruguai, exportadores de leite, vão exigir um comércio mais livre no setor lácteo com os europeus. Isso se tornará uma questão ainda mais complexa para o Brasil, segundo a diretora. Para ela, o mercado interno é grande e precisa de importações, que são pequenas em relação ao consumo.

Cálculos de Natália Grigol, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), indicam que as importações de leite em pó foram, em média, de 5% nos últimos anos, em relação ao consumo. Ela comparou o volume importado de leite em pó com o total de leite cru adquirido pelos estabelecimentos que atuam sob algum tipo de inspeção sanitária (federal, estadual ou municipal).

As importações brasileiras de leite em pó vêm praticamente da América do Sul. Dos US$ 272 milhões gastos no ano passado, US$ 268 milhões foram feitos nos países dessa região.

A Nova Zelândia não entrou na lista dos exportadores para o Brasil, e os exportadores da União Europeia colocaram o correspondente a US$ 1.5 milhão em leite em pó no país, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

 

Folha de S. Paulo

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