Liones Severo: “Zerar TEC de soja e milho não tem efeito com escassez mundial de produto”

A suspensão da TEC (Tarifa Externa Comum) para a soja e o milho importados pelo Brasil de países de fora do MERCOSUL foi confirmada na última sexta-feira (16), porém, não deve ter qualquer impacto sobre os preços de ambos os produtos no País, segundo disse o analista e consultor de mercado, Diretor do SIMConsult, Liones Severo, ao Notícias Agrícolas. “A escassez é no mundo todo”, disse.

Segundo Severo, há uma crise global de falta de alimentos, em especial de soja e milho, que se intensificou com a pandemia do novo Coronavírus e que deu diversos sinais de que momentos como este chegariam. “Se instalou uma crise que ninguém percebeu. O fechamento na China do mercado de aves vivas e exóticas, e outros animais silvestres, provocou um forte aumento no consumo de outras proteínas”, disse.

Segundo o consultor, “todas as situações como estas de lockdown provocam um aumento do consumo de alimentos que é imensurável” e que a crise de escassez se instala, sempre, primeiro nos países produtores. “Trata-se de algo muito sério”, disse.

Com a oferta ajustada no mundo todo, a soja e o milho importados chegariam ao Brasil com preços mais elevados do que os registrados atualmente no País. Para a oleaginosa, seriam preços entre R$ 170,00 e R$ 175,00/saca, na equivalência com base nos portos brasileiros. No interior brasileiro, já se registra soja a até R$ 163,00/saca.

Além da pouca oferta disponível, o dólar alto, ainda sendo cotado na casa dos R$ 5,60 e podendo ampliar sua valorização até o final deste ano, os prêmios altos e o encarecimento do frete e das operações portuárias também deverão elevar o preço dos produtos importados.

A operação de embarcar a soja no navio, nos EUA, por exemplo, que tradicionalmente custa de US$ 0,08 a US$ 0,16 por bushel passou a custar de US$ 0,90 a US$ 1,00/bushel. “Isso sem contar que a capacidade dos portos norte-americanos está esgotada até novembro pelas fortes compras chinesas. Essa soja ou milho teriam que vir dos portos da Costa Leste, o que faz com que logística, inclusive internamente nos EUA, fique ainda mais cara”, disse Liones Severo.

E o Diretor do SIMConsult disse ainda que os Estados Unidos já venderam mais de 37% da safra estimada de soja 2020/21. Segundo os últimos números do USDA, já foram comercializadas 43,235.300 toneladas de soja, contra pouco mais de 17.8 milhões de toneladas no mesmo período do ano anterior, um aumento de 142% na comparação anual.

Com relação ao milho, Severo indica a questão dos prêmios. “A Ucrânia tem US$ 2,00 de prêmio no milho, mesmo valor do Brasil. Na Argentina, são US$ 1,70, mas o produtor não quer vender por problemas com a moeda. Ou seja, o mesmo do Brasil e mais o frete”, disse. “De qualquer forma, tanto soja, quanto o milho chegariam aqui com preços acima dos atuais do mercado brasileiro.

Segundo o consultor: “o Brasil não tem mais milho, por isso os preços subiram e sobem tanto. O produtor não está segurando nestes preços. Então, não temos muita opção. O que temos visto são preços de resgate, porque os produtores já venderam toda a soja e o milho. O remédio para preços altos são preços ainda mais altos, que é forma que promove algum racionamento do consumo”.

Para Severo, se trata de um período longo de escassez, que poderia levar até três anos para se resolver, como já foi observado em outros momentos da história. Na última sexta-feira, a Bloomberg destacou como uma de suas manchetes, o movimento que diversos países em todo mundo estão fazendo de estocar alimentos de todas as naturezas para evitar uma escassez ainda mais severa.

A fome está crescendo, de acordo com dados de organizações internacionais, como a FAO, o braço de agricultura e alimentação da ONU (Organização das Nações Unidas), bem como a séria ameaça da insegurança alimentar global. Os números dispararam durante a pandemia.

Segundo a Bloomberg, a Jordânia vem ampliando os seus estoques de trigo e o Egito vem aumentando suas importações de trigo em plena colheita, o que tradicionalmente não acontece no país africano. Desde abril, suas compras já aumentaram 50%. As mesmas estratégias são registradas na China, Taiwan, e outros países, incluindo o Brasil.

É importante lembrar que em setembro o Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou a alíquota de importação de arroz pelo Brasil de fora do Mercosul para 400.000 toneladas até 31 de dezembro de 2020.

Notícias Agrícolas 

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